Quando o brechó não é chique, proprietária se vira vendendo até papel higiênico
Algumas coisas, de tão incomuns, chamam a atenção. No Centro de Campo Grande, perto do Camelódromo, o brechó que vende até papel higiênico é um bom exemplo. Os rolos, embalados em plásticos transparentes, sem marca visível, ficam na porta, junto com as calças, vestidos e camisas usadas.
São 16 unidades por R$ 10,00. “Um rapaz que pediu para eu vender. Ele me paga uma porcentagem para colocar aqui”, contou a dona do estabelecimento, Elza da Silva Machado.
Ela pega mais de 30 pacotes por mês e lucra apenas R$ 1,00 por cada embalagem vendida, mas, apesar da pouca quantia, se comparada ao faturamento mensal com a loja, ela não abre mão da renda extra.
Tem sido assim há 6 anos, desde quando deixou a Rua 7 de Setembro para se instalar na Travessa José Bacha, ao lado do Mercadão Municipal. Os rolos, na porta, serviram de marketing ao estabelecimento.
“A meninada passa falando: ‘olha, o brechó vende até papel higiênico’. Eu não ligo. Vendo de tudo. Esses dias eu tinha uma cadeira de bebê, um andador. Já vendi fantasia de carnaval, roupa de quadrilha... Agora to com um chuveiro”, contou.
Vendedora ambulante, Margarida Boni, de 78 anos, aprova a ideia, mas não é cliente porque, para ela, 16 unidades é um exagero. “Moro sozinha. Um rolo dá para muito tempo”, revela. Em compensação, “tem gente que leva dois kits de uma vez”, contou a dona.
Dona Elza tem 58 anos e há 18 trabalha com roupas seminovas, mas sempre que pode vende outras coisas. “Não custa nada”, diz ela. Custa, é claro, mas o dinheiro vai para o bolso dela.
Foi desse jeito, negociando, conquistando a freguesia e esquecendo o “tem que ser assim”, que ela conseguiu pagar a faculdade da filha, formada em administração. “Hoje em dia, com a situação que está, a gente não pode ter vergonha”, comentou.
Elza Silva é uma mulher que, de longe, parece ser batalhadora e, de perto, faz a gente confirmar a suspeita. “O que vale é trabalhar honestamente”, ensina.