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Diversão

Antes de pisar em MS, Sepultura fala sobre a consciência do 'fim'

Em entrevista ao Lado B, Andreas Kisser conversou sobre a despedida da banda e planos para o futuro

Por Idaicy Solano | 18/06/2024 06:20
Formação atual da banda, com Andreas Kisser (guitarra), Paulo Jr. (baixo), Derrick Green (vocais) e Greyson Nekrutman (bateria) (Foto: Edu Defferrari)
Formação atual da banda, com Andreas Kisser (guitarra), Paulo Jr. (baixo), Derrick Green (vocais) e Greyson Nekrutman (bateria) (Foto: Edu Defferrari)

A dois meses do show em Campo Grande, uma das mais icônicas bandas de heavy metal, Sepultura, topou falar com o Lado B sobre a expectativa do show na capital sul-mato-grossense e até planos para o futuro. Esta é a segunda vez da banda por aqui, desta vez com a turnê mundial de celebração dos 40 anos de estrada. O objetivo é tocar para o maior número de pessoas, em celebração com os fãs antes de dizer adeus.

Por aqui, o show está previsto para o dia 17 de agosto, no Guanandizão. O grupo se apresentará na formação atual, que conta com Andreas Kisser (guitarra), Paulo Jr. (baixo), Derrick Green (vocais) e Greyson Nekrutman (bateria).

Em todas as cidades que tocam, as apresentações estão sendo gravadas, e posteriormente serão escolhidas 40 apresentações diferentes, ao redor do mundo, para compor um álbum ao vivo com todas as faixas. O show em Campo Grande, também será gravado e a banda não descarta a possibilidade da Capital Morena integrar seu futuro e último lançamento.

“A gente tá muito feliz de tocar em Campo Grande para celebrar com vocês 40 anos de uma história, que com certeza a cidade faz muito parte disso, e a gente está fazendo questão de ir para todo lugar e estaremos aí em breve para celebrar com vocês”, diz o guitarrista da banda, Andreas Kisser.

Em entrevista para o Lado B, Andreas revelou que, por enquanto não faz planos para o futuro, mas pensa na possibilidade de lançar um segundo disco solo.

O guitarrista ainda revelou que não descarta a possibilidade de reunir no palco ex -integrantes, incluindo os fundadores Max e Igor Cavalera, para uma última apresentação. O metaleiro também falou sobre as motivações que levaram à decisão do grupo de se separar, além do enfrentamento do luto após perder a esposa, Patrícia Kisser, para o câncer.

Apresentação da turnê de despedida em Curitiba, no Estado do Paraná (Foto: Bruno Zuppone)
Apresentação da turnê de despedida em Curitiba, no Estado do Paraná (Foto: Bruno Zuppone)

Turnê de despedida 

A turnê “Celebrating Life Through Death” (celebrando a vida através da morte, em tradução livre) começou em 1° de março, com a primeira apresentação em Belo Horizonte. Além de ter sido um dos momentos, até agora, mais emocionantes da turnê, por se tratar da cidade onde a banda nasceu, também foi um dos momentos mais desafiadores.

Isso porque faltando apenas três semanas para o início da turnê, a banda recebeu a notícia de que o baterista, Eloy Casagrande, deixaria o grupo para integrar o Slipknot, resultando na substituição dele pelo americano Greyson Nekrutman, de apenas 22 anos, que recebeu o repertório de 20 canções às vésperas da estreia da turnê.

“Foi um dos shows mais emocionantes da nossa história, não somente pelo simbolismo de tocar na terra do Sepultura, onde o Sepultura nasceu, onde tenho vários amigos e também a família do Paulo e tudo mais. Foi o primeiro show com o Greyson [novo baterista], numa situação difícil, mas ao mesmo tempo um desafio fantástico. Os fãs abraçaram Greyson de uma forma maravilhosa”, conta Andreas.

Andreas declarou que a banda vive um momento pleno de união, organização e sintonia, e para ele, este é o momento ideal para encerrar as atividades, pois segundo o músico, a vida é feita de ciclos, inclusive na arte, por isso, se sente motivado a alçar novos voos e dar chances a novas experiências.

“Por que não terminar num momento positivo? Acho que é um privilégio fazer isso, de você ter a consciência do fim, e não deixar o fim acontecer de acordo com o destino, brigas ou morte. Tem tanta coisa que pode acontecer. Por que não acabar esse ciclo de 40 anos celebrando e chamando os fãs para fazer essa festa? Está sendo maravilhoso, sensacional. Eu acho que é muito digno isso de ver a carreira de frente e não ser escravo de um nome, ser um escravo de uma situação ou de um estereótipo”, detalha.

A turnê deve durar até 2026, e Andreas adianta que, futuramente, deseja convidar ex-integrantes da banda para se apresentarem ao lado da formação atual, incluindo os fundadores, Max e Igor Cavalera. “A intenção é convidar todo mundo e fazer uma grande festa. Espero que aconteça, vamos ver”.

Show registrado em Curitiba, no Estado do Paraná (Foto: Bruno Zuppone)
Show registrado em Curitiba, no Estado do Paraná (Foto: Bruno Zuppone)

Enfrentamento do luto 

Há cerca de dois anos atrás, Andreas perdeu a esposa, Patrícia, para o câncer, um dos momentos mais dolorosos de sua vida pessoal. O processo de entendimento e enfrentamento do luto tiveram fortes influências na forma do artista enxergar a vida, e consequentemente, o profissional. Andreas conta que isso também influenciou bastante no processo de criação da turnê.

Após a partida da esposa, ele começou um movimento chamado “Mãetricia”, para falar abertamente sobre a morte, com tópicos incluindo a eutanásia (processo indolor e intencional de provocar a morte em vítimas de doenças terminais, incuráveis e/ou dolorosas).

“Acho que respeitando a morte você tem um presente muito mais intenso. Você tem o dia a dia mais intenso, você não deixa as coisas pra amanhã, você fica mais motivado, porque você respeita o fim”, explica Andreas, sobre o teor das discussões promovidas pelo movimento. “Então acho que a turnê tem um pouco a ver com isso também, de ver que a morte, mesmo que feche uma porta gigantesca, abre outras de infinitas portas, de infinitas novas possibilidades. Isso acontece com a vida e acontece com a arte também”, completa.

Andreas Kisser, guitarrista da banda (Foto: Bruno Zuppone)
Andreas Kisser, guitarrista da banda (Foto: Bruno Zuppone)
Paulo Jr., baixista da banda (Foto: Saul Carvalho)
Paulo Jr., baixista da banda (Foto: Saul Carvalho)

Sucesso mundial 

A banda já se apresentou em mais de 80 países, e já dividiu palco com grandes nomes como Black Sabbath, Ozzy Osbourne, Iron Maiden, Metallica, Demon Slayer, Peter Gabriel, Guns N’ Roses, Megadeth e Judas Priest. Em quatro décadas de história, a banda coleciona inúmeros momentos memoráveis no palco, mas foi uma apresentação no Rock In Rio, em 1991, que marcou o início do legado da banda em solo brasileiro, consolidando o quarteto no cenário do heavy metal.

“A gente tocou lá “Orgasmatron” pela primeira vez ao vivo e virou um hit. Tocou na rádio, abriu portas gigantescas pro trash metal no Brasil. Até aquele momento o Sepultura era meio que ignorado na mídia brasileira. A gente já estava fazendo turnê internacional, já estava lançando disco mundialmente, mas a galera aqui não estava ligando muito pra isso. E a partir daquele Rock in Rio, as pessoas começaram a perceber o Sepultura no Brasil”, relembra Andreas.

Sepultura foi uma banda pioneira em vários aspectos do heavy metal nacional, e foram responsáveis por colocar o Brasil em evidência no cenário internacional. A banda encerra esses 40 anos de estrada com o sentimento de dever cumprido.

“Acho que é o legado que a gente deixa, é que tudo é possível.Uma banda sul-americana num país que não tinha tradição nenhuma na música pesada, uma banda conseguir entrar no circuito internacional, tocar com os grandes, trabalhar nos grandes festivais, com os grandes empresários e grandes produtores de estúdio, os maiores da história. Tudo é possível quando você realmente tem um foco, se estuda e se prepara e não tem medo de arriscar. Abrimos várias portas que outras bandas seguiram depois. E vai ser sempre difícil, e que seja porque é o caminho onde se aprende algo”, finaliza.

Derrick Green, vocalista da banda (Foto: Saul Carvalho)
Derrick Green, vocalista da banda (Foto: Saul Carvalho)
Greyson Nekrutman comanda a bateria (Foto: Saul Carvalho)
Greyson Nekrutman comanda a bateria (Foto: Saul Carvalho)

Planos para o futuro 

Por enquanto, Andreas prefere não fazer planos para o futuro, e viver apenas o presente.

“Acho que a gente se sente muito jovem ainda e motivado a ir atrás de diferentes projetos, levar a música em diferentes fronteiras. Todo membro do Sepultura tem projetos paralelos, outras bandas. As coisas vão acontecendo e as oportunidades e as decisões vão sendo feitas quando necessárias. Eu não vou parar de tocar, eu vou continuar com a música eu tenho outras ideias talvez lançar um segundo disco solo Tenho vários amigos pelo mundo com várias bandas diferentes e várias possibilidades”, finaliza.

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