Bar tradicional, reduto do rock e do blues, agora bomba é com festa gay
Bar Fly abriu porão para os gays, mas público cresceu tanto que subiu para espaço principal
Nas paredes estão fotografias de ícones do rock. No teto bandeiras do Led Zeppllin, ACDC e Rolling Stones. Mas longe das bandas, o palco vira cenário para o DJ fazer a galera arrasar na pista dançando ao som de muita música pop. É assim que o Bar Fly, o mais antigo de rock em Campo Grande, resolveu abrir as portas para público gay com a festa "Cainimim".
Em tempos de luta pela causa LGBT e contra a homofobia, a união de dois públicos deixa clara a mudança de comportamento, que ainda é lenta, mas já com super avanços.
A proprietária Fátima Menas Kalil, de 42 anos, diz que hoje é um absurdo pensar que público gay tem de ficar recluso a um ambiente só. Para ela, "passar a ideia de que rock é lugar de hétero, já ficou no passado."
Ela admite que no início houve receio de implantar uma festa com estilo muito diferente da proposta já conhecida na casa. Mas convocar gays para o Fly acabou virando um bom negócio. “Eu senti que houve uma decadência na noite. Não sei se é por conta que abriram outras casas noturnas nesse estilo, mas eu senti uma diminuída. E o espaço era bacana para abrir a todo mundo, seja quem for.”
E a persistência deu certo. As primeiras três edições realizadas dentro do reduto do rock tiveram a união dos dois públicos.
Antes, na parte de cima, ficavam os shows de metal e no porão rolava a festa Cainimim. Mas a clientela do porão aumentou e o único jeito foi reservar uma noite inteira para a festa alternativa.
ReneWillyam, de 21 anos, é o idealizador da festa. Apaixonado por baladas e músicas, ele largou o emprego de vendedor e resolveu investir em eventos diversificados e que recebessem bem qualquer público. “A princípio, eu não fiz com rótulo de festa gay, mas deu super certo e hoje afirmo que a Cainimim é uma festa totalmente LGBT, mas em que temos o maior prazer de receber qualquer pessoa”, esclarece.
Ainda que a casa estivesse disposta a abrir portas, ele confessa que também teve receios. “A primeira vez que estava tendo um show de metal, quando eu entrei, olhei e vi o público, eu fiquei receoso. Mas me surpreendi com o respeito e garanto que nunca sofremos preconceito aqui. Realmente estamos começando a quebrar alguns paradigmas”, afirma.
Para os clientes, não é diferente. No lugar do rock, as músicas pop e os looks "diferentões" são as marcas de quem gosta de se jogar na dança.
Paula Magalhães, de 29 anos, é casada e adora rock, mas frequenta a festa com as amigas pela diversão. “A gente também é super do rock, mas isso aqui é tudo de bom e os gays são alegria. Acho bacana a festa, porque podemos vir com as amigas, já que nem sempre os maridos querem acompanhar a gente em alguma balada gay”, diz.
A drag queen Maya Bomboshell, de 18 anos, reforça que a festa também é reflexo de muito atitude e tolerância. “Pra mim foi sensacional, porque isso é uma prova que está tendo uma tolerância maior dentro do mundo hétero e só mostra que pode ter uma versatilidade”, comenta.
E a conquista de espaço e respeito é a principal comemoração. “Eu acho que a cena LGBT tem conseguido muito espaço aqui em Campo Grande. Fico muito feliz em ver casas de eventos, como o Bar Fly, abrir as portas e colaborar com a cena. E conseguimos fazer com que o público hétero veja que não há nada demais e sim o quanto é divertido”, diz a fotógrafa e DJ Caroline Maciel de Almeida.