Com parque ao lado, há quem insista na muvuca dos Altos da Afonso Pena
Os pais iam aos domingos e agora é a vez dos filhos nos Altos da Afonso Pena. Há 20 anos era assim e a muvuca continua na principal avenida de Campo Grande, apesar de ter ao lado o principal parque da cidade, o das Nações Indígenas.
A diversão é a mesma há gerações: estacionar o carro, aumentar o som, principalmente o eletrônico e o sertanejo universitário, e ficar ali, à mostra, para quem passa a 10 quilômetros por hora.
Priscila veio do bairro União, com os primos e amigos. Na Afonso Pena, o grupo bate-papo bebendo tereré e fumando o narguilé. “A gente vem para ver e ser visto”, diz Priscila.
No ponto onde os amigos param, uma moto amarela dá voltas e é vista 12 vezes em um período de meia hora, sempre em velocidade reduzida.
Na turma há também duas crianças. Até às 19 horas “a coisa é tranquila”, diz a jovem, depois é que o “bicho pega”. Com a bebedeira rolando solta, o som alto e a mulherada dançando sobre os carros, o jeito é voltar para casa antes de escurecer, conta Priscila.
“Já teve gente que colocou aquela carreira de maconha no capô do nosso carro para depois cheirar”, lembra, sem saber que a droga em questão era cocaína. “Sei lá, não entendo dessas coisas, graças a Deus”, justifica. Sobre o Parque, Priscila diz que só entra quando “tem show”.
Do outro lado da avenida, os amigos NIlmar e Danilo olham o movimento sentados na traseira de um veículo Montana. Nilmar veio recentemente de Itu Paulista, cidade de 13 mil habitantes e adorou a “moagem” da Afonso Pena.
No Parque das Nações, ele diz que só entrou uma vez. “Só para ver como era, mas prefiro aqui”.
O casal vai para a avenida com o carro turbinado pelo som profissional, mas não pode exagerar, diz Arlei, o dono do equipamento. Quando o volume aumenta muito, as rondas policiais servem para ameaçar com multa o exagero.
Para quem não gosta do programa, é preciso paciência para ouvir todo o tipo de música e esperar no trânsito. Por volta das 17h, percorrer 200 metros leva 6 minutos. Lá pelas 19h, o tempo dobra, com o agravante da dezena de jovens entregando uma infinidade de panfletos de shows.
Dentro do Parque, sem música ou aglomerações, a tarde passa bem mais calma. Mesmo assim, é animada.
Um grupo de amigos chega depois de sair do trabalho, no Instituto Mirim, com a câmera fotográfica a tira colo para um sessão de fotos caseira em um dos cenários mais procurados da cidade. “É para colocar no facebook, no Orkut”, explica Vanessa.
O pai Gilsmar tenta impinar a pipa com a filha Júlia. Do bairro Guanandi, ele e a esposa resolveram pegar o carro para ir até o Parque das Nações, por conta da estrutura e limpeza. "É amplo, lá perto de casa só tem praça rodeada por bares e até cacos de vidro na areia do parquinho a gente encontra",
Marcelo mostra o avião anfíbio na lagoa do Parque das Nações, o casal Elza e Gazola para e vê o espetáculo. Há 33 anos juntos, os dois aproveitam para dar a lição de como a vida ganha graça com pouco.
“Há um ano passamos por um problemão. Ela operou um câncer e quando voltava da cirurgia em Barretos eu é que passei mal do pâncreas e fiquei 31 dias internado. Agora o bom é isso. A gente vem, passeia e vai embora”, conta.
Por todo o parque, as pessoas ocupam os espaços de formas diferentes. Amigos fazem até piquenique. Na pista de skate, o visual muda, com jovem e crianças em estilo largado no vai e vem das rampas, mas também há famílias.
Carlota, de 32 anos e o filho Razi, de 9, conversam com o amigo Handel, de 29. O menino prefer passar o tempo com jogo eletrônico nas mãos, mas sentado em uma bela toalha de piquenique.
Sob uma grande mangueira, Arthur e Edilaine apenas namoram, em uma conversa que nem formiga atrapalha. “É muito tranqüilo, ainda mais com esse lago ai em frente”, comenta o namorado.