Em barraco, família inteira se aperta para ver jogo em TV de 21 polegadas
Longe dos telões e da televisão de plasma, as cotoveladas entre o público não são de quem não quer perder o melhor lance em campo. É de quem busca o melhor ângulo entre 22 pessoas para ver a seleção numa TV de 21 polegadas.
A gente conta uma vez, tem 18, aparece mais, sobe para 22 e no fim das contas estão sete dos oito filhos do ‘seo’ José Teodoro da Silva, mais as noras e genros, a mulher, Denilce Lopes da Silva e alguns dos 30 netos. É tanta criança se movimentando que fica difícil contar nos dedos. Mas ninguém ousa cruzar na frente da TV.
No barraco do ‘seo’ José Teodoro, no Cidade de Deus, região do bairro Dom Antônio Barbosa, não tem petisco, não tem aperitivo, mas tem uma caixa de cerveja Glacial, o que ele pode comprar com a vaquinha entre os filhos e agregados. Foi R$ 10zão de cada um, nos confessou.
A família toda mora em casas feita de tábua, de resto do que se acha na rua, do que já foi morada de alguém que trocou o barraco por uma casa do governo. Os patriarcas ficam na casa principal, a de varanda maior e a mesma que recebe os filhos e netos para todos os jogos.
Há um ano e meio ali, dona Denilce não pensava que fosse ver o Neymar marcar gol do barraco. Achou que a casa sairia antes. Como não saiu, é no chão batido, entre as madeiras e tábuas que se vê e se torce pela Copa.
“Aqui é legal para morar porque tem espaço, mas se vem tempo de chuva, é complicado”, enumera ‘seo’ José. Aos 59 anos, ele parou de trabalhar por dores na coluna, é Denilce que traz do lixão o sustento da casa. “Aqui é próximo do serviço também”, completa a mulher.
Ver os jogos da Copa juntos é escolha. O local, também. Eles até poderiam ir todos para a casa de uma das filhas, residência de concreto mesmo, mas não, os 22 preferiram ali. Só uma televisão que veio de um dos filhos. A do ‘seo’ José tem 14 polegadas. “A nossa é pequena, não dá para assistir. Essa é das grandes”, acredita o senhor.
A casa está toda em clima de Copa e de festa junina. É barraco sim, mas tem bandeirinha verde e amarela por toda varanda. “Tem que fazer festa, não tem?” pergunta José.
Se o Brasil vai ganhar a Copa ele responde de supetão. “Lógico, a Copa é nossa, gastemos demais nela”. Resposta de quem ao mesmo tempo que viu o sorriso abrir, também sentiu o bolso pesar.
Pergunto se nesta época, em dia de jogo, o brasileiro fica mais bonzinho, mais feliz, mais de bem com a vida. “Acho que sim, gosta é de confraternizar, mas isso é natural do brasileiro né?”
O genro, Geovani da Rosa Gonçalves, de 30 anos, é o dono da casa de material. É lá que ele e a família podiam estar vendo a partida, mas escolhem dividir a mesma televisão pequena com todo mundo. “Aqui virou o barracão da família”, explica.