Em “Texte” de piadas, minas mandam bem no improviso e arrancam gargalhadas
Dez meninas encararam o palco com a intenção de levar a representatividade feminina para a comédia, e o público aplaudiu tudo
Seguindo roteiro ou no improviso, as mulheres mandaram bem na “Noite Texte das Minas”, no final de semana. Com microfone e uma luz frontal no palco, elas encararam o desafio do “Stand Up Comedy” na Capital e arrancaram gargalhadas da plateia contando histórias do cotidiano e até com as piadas prontas. Mais de 80 pessoas foram conferir o evento.
Dez meninas se apresentaram, e quem abriu a noite da comédia foi Jhenifer Rocha. Ela é publicitária e cabeleireira, e uma das poucas mulheres da Capital que está na área de humor desde 2009. “Há tantos anos que os homens fazem piadas da gente que chegou a hora de dar o troco. Acredito que comédia para mulheres é difícil, pois até vendo apresentações de humoristas na internet surgem comentários dizendo que somos sem graça. Existe uma certa resistência, e esse evento ajuda a quebrar isso”.
“Tem muito conteúdo para ser falado sobre a feminilidade que a gente não nota. Teve menina que falou sobre ser mãe, preventivo, anticoncepcional. São temas legais porque além de piada, as pessoas ficam sabendo como é a rotina da mulher”, disse Jhenifer.
A “Noite Texte” ocorreu no Teatral Grupo de Risco e já existe há alguns meses, para as pessoas testarem suas piadas. A entrada foi R$5,00 e quem não gostasse do que viu, tinha o direito de pegar o dinheiro de volta. Contudo, isso não aconteceu.
Luciano Risalde organizou o evento e comentou sobre a necessidade de inserir as mulheres na comédia. Ele também faz humor e nos eventos que já participou, notou a falta da representatividade feminina. “Tinha muita piada sobre elas, mas poucas falando delas. Vou na linha auto depreciativa, então questionava isso. Como falar da mulher se nós, homens, não conhecemos esse universo?”, questionou.
Conforme ele, as mulheres sentem-se mais representadas quando as piadas são feitas por elas. “Vendo outra mulher fazer isso, ela acredita que consegue também. É uma forma de encorajá-las”, afirmou Luciano sobre a ideia da programação.
Roteiro e improviso - Interagindo ou se jogando ao chão, vale tudo para fazer a plateia rir. Raphaelle Machado encarou o público e falou sobre suas experiências do dia a dia como mulher, o atraso de menstruação, teste de gravidez, férias do trabalho e viagens. “A gente testa o nosso texto, e eu mesma preparei o meu”, disse.
Para ela, o evento fortalece a representatividade. “Ajuda ter mulher no humor, pois muitas ainda têm vergonha de ser alvo de chacota, por ser uma coisa nova. Os comediantes são engraçados, independentes do gênero”, afirmou.
Nérida Barbosa começou falando sobre o miado dos gatos, e até imitou os sons, fazendo o público rir. Foi sua primeira vez, mas não ficou tão envergonhada porque faz vídeos para internet e gosta de fazer os seguidores rirem. “A diferença é que para o canal posso gravar várias vezes até ficar bom, aqui não, e as vezes esquece alguma coisa. Mas gostei da vibe”.
O lugar da mulher é onde ela quiser. “Temos que estar em todo canto, sem sentir medo do que vão pensar ou do que vamos falar. Fiz meu texto em um dia, treinei bastante e vou voltar outas vezes aqui”, adiantou Nérida.
Já a estudante, Amanda Guedes, foi na cara e coragem mesmo. Sem nunca ter se apresentado, ela mandou ver no improviso e mostrou que tem jeito para a coisa. “Temos potencial para fazer graça. Sempre fiz palhaçada, e quando minha amiga me chamou resolvi vir. Não tinha o que falar e decidi na hora”.
Já na frente da plateia, quis falar sobre aves. Contou sobre as péssimas experiências que teve com corujas, desde a infância quando resolveu aprontar escondido da sua mãe. O semblante meio demoníaco da ave a fez ter traumas. Conseguiu envolver o público na história e para deixar a coisa mais verdadeira até encenou. Todos riram muito das histórias e ao final, o público aplaudiu.
A vendedora Thais Maidana e o autônomo, Elton Acosta, foram assistir as apresentações pela primeira vez. “Foi bacana. Fui convidada por uma amiga e ri muito. Todas foram excelentes, é algo diferente e penso que em Campo Grande deveria ter mais isso”, disse Thais. “Achei bacana a variedade dos assuntos. Teve piadas, histórias fictícias e reais, apresentação com pegada política”, completou Elton.
O professor de teologia, Edmilson Schinelo gostou de todas as apresentações. “O patriarcado tem que ser enfrentado de todas as formas e a arte é uma forma de libertação do corpo e da mente. É a primeira vez que assisto o stand up, e acredito que a vida sai também pelo riso”.
A publicitária, Harize Tamara Gomes, foi conferir o evento e curtiu bastante. Foi assistir às apresentações para que na próxima vez, possa se apresentar. Quis ver para ter uma base na hora de criar o texto. Ela comentou sobre a inserção da mulher no humor. “É um cenário tido como machista. Acho importante a colocação, era uma profissão tida como masculina, mas é um direito da mulher se colocar lá”, destacou.