Em Zurique, conceito de ir para “debaixo da ponte” tem outro significado
Independente da grafia, se Zurich, como se escreve em francês; Züri, em suíço-alemão; Zurigo, em italiano, ou Zurique, em português, a principal cidade da Suíça é um daqueles lugares que extrapolam a expectativa de qualquer visitante.
Por exemplo, em Zurique, um dos meus lugares preferidos no mundo desde o início da década de 1990, quando ainda era repórter esportivo, conheci um significado diferente para a expressão “ir para debaixo da ponte”. No Brasil, quem vive em espaços debaixo de pontes ou viadutos urbanos são pessoas desprezadas pela sociedade, em situação de pobreza total e sem casa para morar, ou simplesmente largaram tudo e optaram pela vida nômade.
Em Zurique, vi que lugares como esses podem ser transformados em espaços sociáveis, ativos, saudáveis e seguros. É o caso do Im Viadukt, um viaduto ferroviário construído em 1894 sobre uma ponte de pedra com 36 arcos, uma espécie de Arcos da Lapa, o Aqueduto da Carioca, no Rio, construído entre 1725 e 1744, que virou um centro comercial politicamente correto e extremamente agradável, sobretudo para quem curte o ambiente, a informalidade e a variedade de um Mercadão.
Debaixo do viaduto tem boutiques, lojas de móveis, artesanatos e de bijouterias, mercadinhos que vendem alimentos frescos, como frutas, legumes, verduras, queijos, chocolates e cereais, onde você só pode olhar com os olhos, nem pensar tocar em qualquer um dos produtos, e uma grande variedade de pequenos restaurantes com preços bem mais em conta.
Zurique é uma cidade dividida em distritos, que eles chamam de Kreis. São 12 no total, todos conhecidos pela sua respectiva numeração, e o centro comercial “Im Viadukt” fica no Distrito 5, a Zürich West, uma antiga zona industrial e atualmente uma das áreas mais visitadas por pessoas de diferentes nacionalidades.
No centro comercial há uma regra estabelecida, e obedecida, onde somente pequenas empresas e agricultores familiares de Zurique recebem autorização para vender seus produtos. Portanto, no Im Viadukt não tem espaço para as grandes marcas globalizadas. Lá, tudo é característico da região. Se estiver com tempo vale a pena ir até o Markthalle, um mercado de opções de padaria, queijos, embutidos, verduras e açougue, também no Viadukt.
O acesso ao In Viadukt é fácil. Se você está hospedado em algum hotel do centro da cidade, poderá fazer o trajeto caminhando ou de bicicleta pela orla do rio Letten; de trem, com embarque em qualquer estação com destino a Hardbrucke, ou de tram, que são os bondinhos. Nesta opção, terá de ir até a estação Escher-Wyss-Platz, que é por onde passam os trans 11, 13 e 4. No primeiro que passar, embarque e chegará lá.
Zurique é uma cidade de pouco mais de 400 mil habitantes, no porte das cidades médias no Brasil, mas com uma infraestrutura de dar inveja até mesmo aos brasileiros das megas metrópoles, como São Paulo e Rio. Para ser sincero, usei o exemplo apenas como referência, porque as diferenças de gestão e no que a cidade oferece aos seus cidadãos e cidadãs em mobilidade urbana, organização e funcionalidade, por exemplo, são tão latentes que a comparação é até descabida.
Você só usa taxi se quiser, porque as facilidades de opções bem mais baratas são muitas. Já no desembarque no Flughafen Zürich, distante 12 km do centro, o turista pode optar pelo trem que sai de uma estação que fica dentro da área do aeroporto. Basta comprar o bilhete para o destino Zürich Hauptbahnhof, que é a estação principal de trem.
A cada 10 minutos os trens partem do aeroporto e o traslado dura cerca de 10 minutos, e ainda tem a opção do simpático bondinho que eles chamam de tram. Neste caso é o tram 10, que faz a conexão entre o aeroporto e a estação central, só que em 40 minutos. A passagem tanto de trem quanto de tram custa 6,60 francos suíços, algo em torno de R$ 21, e nem precisa ter dúvida quanto a eficácia e pontualidade do sistema de transporte.
Portanto, se você pretende viajar para a Suíça, escolha Zurique como porta de entrada. Além de atrações turísticas interessantes como o mosteiro Grossmünster, do Século 12, e a igreja Fraumünster, do Século 11, o Lago de Zurique, um dos mais importantes da Europa, e o Museu da FIFA, que conta a história do futebol mundial, a cidade respira cultura.
Zurique foi berço do dadaísmo, um movimento artístico da vanguarda artística de 1916, em plena Primeira Guerra Mundial, e não é raro se deparar com quadros originais de Joan Miró e Marc Chagall, por exemplo, em restaurantes e cafés, como no restaurante Kronenhalle, onde a referência de endereço é o Rio Limmat.
De quebra, você ainda poderá saborear um bom cappuccino com croissant no Gran Café Odeon, inaugurado em 1911, e teve entre seus frequentadores uma extensa lista de personalidades famosas da história mundial que inclui o ditador italiano Benito Mussolini, os líderes comunistas soviéticos Vladimir Ilyich Ulyanov, o Lenin, e Josef Stalin, e o Nobel de física Albert Eistein.
Mas, só não deixe de ir ao Im Viadukt. Vale a pena! Ah, também não esqueça de observar que em Zurique a temperatura média anual é de 9,4ºC. Uma das melhores estações para viajar para a cidade é a Primavera, entre o final de março e início de junho, com temperatura máxima de 15ºC. Quando chega o Verão, entre junho e setembro, as temperaturas máximas atingem 23ºC, no Outono, que vai de setembro até a novembro, início de dezembro, cai a 3ºC, e no Inverno, de dezembro a março, os termômetros vão abaixo de zero e tudo fica coberto de neve.
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