Festa tem cultura da fronteira com Lambreado no almoço, ao som da katchaka
Há três meses morando em Campo Grande, Gisele Nivia, 37 anos, nascida em Porto Murtinho resolveu matar a saudade da terra natal trazendo um pouco de sabor e diversão aos amigos. Neste domingo, em uma festa realizada no bairro Oliveira, ela serviu Lambreado, um prato típico murtinhense que fez muita gente lembrar do passado e das tradições do interior.
A receita já não é novidade por aqui, mas a diferença no fim de semana foi o pacote completo, no sabor e na katchaka, um ritmo paraguaio, dançante, marcado pelo som do órgão, mas com elementos de uma banda completa.
O Lambreado não é muito diferente do bife à milanesa tradicional. A carne, bem temperada, também é empanada em ovos e trigo, mas com o leite entre os ingredientes, que Gisele chama de "massa de tortilha". Em Murtinho é servido apenas com mandioca na feira da cidade, mas por aqui, Gisele incrementou o prato com arroz e vinagrete.
"Lá na minha cidade as madrugadas são de Lambreado, o pessoal sai da festa e passa na feira onde já tem muito Lambreado sendo frito", conta Gisele.
Apaixonada pelo prato típico, mas sem encontrar original por aqui, Gisele fez um teste há poucos meses em um restaurante onde trabalha. "Eu anunciei no meu Facebook que naquele dia eu serviria o lambreado. O dono do restaurante ficou admirado do tanto de gente que apareceu. Mas como era muito longe ficava difícil, para todo mundo ir buscar, por isso resolvemos fazer a festa".
O convite feito nas redes sociais levou 150 pessoas ao evento de Gisele, realizado na Toca do Murtinhense, cujo o dono também é de Porto Murtinho e fez de um lugar simples e rústico, ponto de encontro para tudo que é regional.
Um oportunidade para reunir os conterrâneos, diz Cida Guiomar Fernandes, de 50 anos. "Eu achei uma ótima ideia, quando Gisele me falou, não pensei duas vezes em ajudá-la. Essa festa aqui é uma rotina do nosso fim de semana em Porto Murtinho", diz.
Tatiane Lima, de 43 anos, come o lambreado desde que chegou em Campo Grande há duas décadas por uma paixão. "Eu vim passear e acabei me apaixonando. Casei com um murtinhense e estou aqui até hoje. Porto Murtinho virou minha terra, pela cultura, dança e animação do povo. Coisa que a gente não encontra igual em São Paulo".
Ao lado da família e dos amigos, Lenira Farias, de 56 anos, era uma das mais animadas lembrando das tradições de quem veio da fronteira. "A gente mata a saudade, consegue rever os amigos que estão longe. Porque essa animação de Porto Murtinho faz falta". Para ela o evento é também a chance de divulgar a gastronomia tradicional. "Muita gente desconhece o Lambreado e aqui você não encontra. Acho importante para as pessoas conhecerem".
Aos 81 anos, Dona Benita Alvarenga, viajou mais de 400 quilômetros para curtir a festa. O filho que não queria deixá-la sozinha falou que a levaria em uma festa da Colônia Paraguaia, mas quando chegou à Toca do Murtinhense, ficou surpresa. "Vi que aqui não era a Colônia, mas tão boa quanto. Um povo animado da nossa fronteira, estou muito feliz".
Só ontem, Gisele e sua equipe de amigos, que tornaram-se colaboradores do evento, preparam mais de 50 quilos de bife. Um trabalho que começou na madrugada, mas para ela é recompensador. "Porto Murtinho é muito rico em cultura, mas aqui as pessoas desconhecem isso. Eu quero mostrar o que a gente tem de melhor na música, na gastronomia e na diversão. Tudo para lembrar da nossa terra".
Se vai fazer uma nova edição do lambreado? Gisele diz em tom de mistério. "Ainda não sabemos, mas é uma ideia. A única certeza é que em setembro faremos um grande evento de lambreado em Porto Murtinho".
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