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Diversão

Melodrama por shows deu certo, mas Expogrande não tem nada de festa popular

Ângela Kempfer | 16/04/2013 07:03
Entrada da Expogrande no dia da abertura.
Entrada da Expogrande no dia da abertura.

O apelo foi emocionado pela volta dos shows à Expogrande. A Acrissul sempre defendeu a festa como “tradição”, como “uma marca da cidade”. O presidente da Associação dos Criadores, Francisco Maia, chegou a dizer que a exposição está para Campo Grande como o Carnaval para Salvador.

Até aí, pouca gente contestou, mas só antes dos ingressos começarem a ser vendidos. A edição deste ano, definitivamente mostrou que a exposição não é uma festa para a cidade. É sim um evento para o Jardim dos Estados e outros bairros mais endinheirados de Campo Grande. Quem é trabalhador, assalariado, provavelmente não vai a tal “festa do povo” em 2013.

Todo ano a reclamação é a mesma, mas talvez desta vez o preço tenha ficado tão em evidencia porque, afinal, a “festa é da cidade”, uma “marca”, o nosso “Carnaval”, uma “manifestação popular”, a “grande ligação cultural do homem urbano com o rural”, nas palavras oficiais da Acrissul.

Não sou contra, sou super favorável aos shows, principalmente, para a população de bairros menos providos de regalias nesta Capital. Mas R$ 30,00 por cabeça não é uma boa notícia para os que chegam à portaria.

Também é possível pagar R$ 20,00, caso a pessoa ache bom negócio pegar um ônibus e ir até um dos pontos de venda fora do Parque de Exposições e fazer a compra antecipada. Pela internet, o valor é de R$ 20,00, mais R$ 5,00 de taxa de entrega, isso se a pessoa não se deparar ao abrir o site com "esgotado", dois dias antes do show, como ocorreu na semana passada.

Sendo assim, um casal com dois filhos maiores de 7 anos (até essa idade criança não paga) vai desembolsar, pelo menos, R$ 60,00, em caso de compra antecipada ou R$ 90,00, se for direto à bilheteria do evento. Nessa altura do mês, difícil é sobrar algum trocado para o cachorro-quente e o parquinho de diversões.

Aquela história de preço popular é balela. A entrada é até mais cara que os valores de pista de apresentações recentes na cidade, como Luan Santana (R$ 25,00) e Gusttavo Lima (R$ 20,00).

No domingo, duas pessoas ligaram ao Campo Grande News questionando os valores. A primeira, Roselaine Dias, queria mesmo era saber até que horas poderia entrar de graça, para levar a filha ao Parque. “É só até o meio dia, então não dá mais. Perdi a chance”, lamentou ao ter a informação.

No mesmo dia, a jornalista Waléria Leite esteve por lá e voltou para casa indignada. No Facebook detonou a festa. “Me senti desrespeitada. O valor do ingresso é um assalto. A prática da entrada gratuita antes das 15h não existe mais. Vi famílias voltando. Vi pais tentando explicar para as crianças porque elas não poderiam ir até o parquinho, já que nesse horário é o que tem lá à disposição, além de ver boi. É muita grana para uma família, faz falta".

Para Waléria, a experiência foi revoltante. "Imagina o constrangimento de um pai ter de voltar para casa porque não tinha dinheiro. Depois, ainda pedi recibo do que paguei e eles não me deram. Não tinha troco, não dava para pagar no cartão. Qualquer lugar, até 11 anos de idade a criança não paga. Aqui, depois dos 7 já tem de pagar integral. É um absurdo", protesta. 

O preço em 2013, mesmo depois de toda a choradeira sobre a importância dos shows na Expogrande, subiu 50% em relação ao último ano de apresentações musicais na feira agropecuária.

Em 2011, sextas e sábados tinham ingresso na bilheteria a R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia-entrada). Nos domingos, quartas e quintas, o preço caia para R$ 16,00 (inteira) e R$ 8,00.

Com a expectativa de público de 300 mil pessoas durante a exposição de 2013, um cálculo por baixo, levando em conta meia-entrada para todo mundo, indica arrecadação só com a bilheteria de R$ 4.5 milhões. Sem tirar desse número uma pequena quantia de cortesias, credenciamento de expositores e segunda e terça de acesso liberado.

Para engordar o caixa da festa, ainda há os aluguéis dos estandes, de R$ 2.5 mil a R$ 30 mil por uma semana, e o repasse entre 0,5% e 1,5% de todo o valor arrecadado com os leilões, 40 no total.

E olha que não falta comemoração sobre os números a serem alcançados, já que “com 100% dos espaços comercializados, a Expogrande bate recorde histórico de ocupação”, divulgou a assessoria do evento.

Com tudo tão azul, a “festa da cidade” bem que poderia ser baratinha para quem não é fazendeiro. Mas como também já informou a Acrissul: “Sem shows, a feira tem prejuízo. Não vale a pena.”

(A matéria foi editada a pedido de artistas que fazem show hoje na Expogrande, que se sentiram ofendidos com a expressão “shows fraquinhos”. O Lado B tentou mostrar que nos dias de entrada franca as apresentações são mais baratas para os organizadores do evento, ao contrário de grandes produções como Paula Fernandes, Victor e Leo. A palavra "show" foi usada com o pleno sentido, o de "produção". Não se refere à qualidade musical das bandas )

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