Na estrada da Gameleira, comunidade resgata arraial
Para cultivar o que parece estar em “extinção”, arraial tem comida e quentão, sanfona e forró. Neste final de semana o Lado B foi apresentado ao quinto Arraial de São Joaquim, realizado pelo Centro Espírita Beneficente União do Vegetal na estrada da Gameleira, em Campo Grande. Apesar de cinco anos de fogueira acesa, pouca gente já ouviu falar de uma festa tão bonita e regada às tradições.
O que explica o pouco conhecimento é que a divulgação é feita mais entre os sócios da União do Vegetal do núcleo de São Joaquim, são 130 pessoas que trabalharam e muito na última semana.
De longe se via as luzes e as bandeirinhas por toda a festa. As fileiras formavam um contraste de amarelo e vermelho com o gramado verdinho. Mas o que deu vida ao arraial foram os fogos e o acender da fogueira, de lenha mesmo. “Viva São João, Viva São Joaquim” e o laranja das chamas acendiam mais que a fogueira, o espírito junino.
Quem trouxe o arraial para Campo Grande foi o comerciante Cláudio Cabreotti, de 49 anos, depois de sentir que na região Norte, onde morou, a tradição era muito mais arreigada. “Aqui já tinha pela cidade, mas era um pouco diferente. A gente fez mais típico, com comidas e música”, explica.
A festa começou pequenininha, o responsável pelo núcleo, Antenor Neves, de 59 anos, contabiliza entre 80 e 100 pessoas. No último ano já foram mais de 500. Sobre a organização ele resume que tudo é feito pelos próprios sócios. “A gente faz um mutirão”.
As barracas por todo o campo vendiam caldos, quentão, arroz carreteiro, pastel, espetinho, kafta, bolos, curau, pamonha e milho verde. “Daqui a pouco isso vai estar assim de gente”, sinalizava com a mão a frequentadora assídua do arraial, Dalvanira Maria de Souza, 63 anos. Acompanhada por toda família ela esperava para comer o que considera ser o melhor da festa, pamonha e milho verde.
O marido, Jorge Rocha, 72 anos, antecipou que era para a gente marcar a data no ano que vem. “Você vai querer vir de novo”, nos disse. Ele tem razão.
O público é, na maioria, frequentadores do centro espírita, bem família, o que se via na fila do caixa eram pais comprando fichas de pescaria e do jogo de argolas para crianças. As músicas de São João ao fundo tinham a interferência das bombinhas jogadas ao chão. Crianças e adultos vestidos à caráter, todo mundo ali estava no clima da festa de São João.
A entrada da bandeira do santo foi conduzida pelo grupo de idosos do CCI Vovó Ziza, ainda ia ter quadrilha, apresentação de coral, Zezinho do forró e da sanfona de Lenilde Ramos.
“Isso aqui é bicho em extinção. Eu nasci hoje, desde o começo meu aniversário foi em festa junina, minha música toca em festa junina, eu circulo em festa e você não vê mais. Não é só em Campo Grande, no interior também. Festa junina ficou pasteurizada, nada contra música sertaneja, mas nem fogueira se vê mais”, observa Lenilde que completava 62 anos.
Uma prova de que o arraial anda perdendo as raízes com o tempo era a menina Giovana, de 5 anos, neta da dona Dalvanira, citada anteriormente. Ela e irmã Amanda, de 8, voltavam da pescaria. Uma delas resume que a festa junina é legal “porque todo mundo pode vim”, dizia a mais velha. Giovana tinha nas mãos um pacote de bombinhas e outro objeto. “Eu não sei o que é isso aqui. Como que chama?” O que a criança tinha era um brinquedo que já rodopiou muito nas mãos dos pais e avós, um peão.