No meio da Afonso Pena, um time de cheerleaders busca apoio para campeonato
Há um mês, equipe de torcida da UFMS tem feito "pedágio" nas avenidas mais movimentadas para realizar sonho de se apresentar fora do MS
Na Avenida Afonso Pena, no fim de tarde, o clima não é muito diferente do trânsito que tumultua o Centro da cidade. Mas enquanto muita gente pega o caminho de volta para casa, um grupo de pessoas se destaca no semáforo, exibindo flexibilidade ao som de gritos de guerra. Eles integram a primeira equipe de cheerleaders de Campo Grande, conhecida como time de torcida, mas que diferente dos filmes norte-americanos não é composto apenas por meninas. Homens também se juntam à torcida em busca de um sonho.
A equipe vai disputar um campeonato no próximo mês, em Jundiaí (SP). E para arrecadar dinheiro e pagar todos os uniformes, dar show na principal avenida da cidade foi uma das alternativas encontradas pela turma.
Pouco comum no Brasil, a modalidade inspirada na dança que anima equipes e torcidas é reconhecida pelo Comitê Olímpico Internacional desde 2016 e há um ano o time campo-grandense "Bluecats" leva o esporte muito a sério.
Formado por universitários, a equipe nasceu em uma das atléticas da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul). Mas com o sucesso das apresentações e o número de alunos interessados na modalidade, a equipe se reestruturou e passou a levar o nome da universidade através do esporte.
Acadêmica de Jornalismo, Rafaela Flôr, de 19 anos, vê a modalidade como um desafio. "É um esporte de alto rendimento, não faço por hooby ou só por animação, a verdade é que ele mostra o quanto somos capazes", descreve.
Líder da torcida, ela encara com outras pessoas cerca de quatro horas de treino, durante três vezes na semana. Suspensas por quartetos ou trios de pessoas, que servem como bases, meninas demonstram toda flexibilidade no alto com acrobacias que vão do nível fácil ao difícil. "Existem divisões de bases que seguram as pessoas que sobem e fazem acrobacias", descreve. "Lá em cima, essas pessoas são chamadas de flyers, fazem giros, figuras e o berço quando caem totalmente deitadas ou são jogadas para cima", acrescenta.
A paixão pelo esporte é tão grande que fez Adeilto Barros Caldas, de 19 anos, enfrentar o medo de altura. Acadêmico de Turismo ele é um dos integrantes mais recentes a chegar no time. Começou depois de perceber que a modalidade ainda é pouco conhecida no país. "Os cheerleaders não tem nenhuma repercussão como o futebol, é extremamente difícil e de alto risco. Estou de olho no time há muito tempo por causa que fiz ginástica olímpica e artística na adolescência, então sempre tive vontade. Quando me falaram do processo seletivo na Federal, quis participar e descobri uma família".
Assim como Adeilto, homens e mulheres maiores de 18 anos podem fazer parte do time. O único requisito é estar matriculado em uma universidade do Estado. "O grupo está sempre aberto para novos participantes. A modalidade ajuda criar resistência no esporte e na vida, principalmente, com o professor pegando no pé", destaca Rafaela.
Outro maior exemplo de paixão pelo cheerleaders é o empresário e técnico Caíque Bonfietti Martins, de 24 anos. Depois de formar no interior de São Paulo e se encantar pela modalidade, ele diz não ter conseguido ficar sem o esporte quando chegou em Campo Grande a trabalho.
"Não consegui ficar sem, procurei os representantes das atléticas e conheci o grupo que fazia a dança com a equipe de torcida. Conversei com a turma, eles me aceitaram como treinador e entramos em um acordo. A modalidade é a minha paixão, é o que gosto de fazer e por isso faço questão de treiná-los. Ainda temos uma dificuldade de ter uma rotina adequada de treinos, mas todo mundo se considera atleta e faz isso por amor", diz.
A competição - O Bluecats se apresentará em Jundiaí, no CheerFest, um campeonato que teve origem no Rio de Janeiro mas ganhou edições em São Paulo, Paraná e Minas Gerais. Neste, além das diversas categorias profissionais, a competição abraça muito mais os times universitários.
A modalidade tem diferentes níveis de dificuldade com diversos elementos da ginástica olímpica. Entre os critérios para a pontuação, o professor explica que os alunos são avaliados em solo, em saltos, passos em que surgem andares, pirâmides e arremessos de atletas. "Esses são só alguns exemplos do que é feito durante a apresentação. Mas os critérios de avaliação ainda são muitos", finaliza.
Quem quiser contribuir com o sonho do time sul-mato-grossense pode entrar em contato com a equipe pelo Instagram.