Para tocar e fazer sucesso, duplas atormentam donos de bares de Campo Grande
Na terra do sertanejo, quem trabalha no estilo é assediado pelas duplas que querem subir aos palcos das casas noturnas para começar em Campo Grande o caminho já traçado por tantos outros artistas que se deram bem. “É ligação até de madrugada”, conta Sérgio Longo, proprietário da Valley. Por dia, são ao menos três chamadas que o empresário recebe de artistas que estão começando a carreira e que esperam a oportunidade para alcançar a fama.
Sérgio diz que não trocou de celular por ter muitos contatos, e que não sabe como as pessoas descobrem o número, mas garante não se incomodar mais. “Na música é assim, já me acostumei”.
Para convencer o empresário, até histórias típicas, como “vim de longe” chegam sem parar. Aos insistentes, ele avisa: “É preciso fazer audições, todos passam por uma seleção." Segundo o empresário, de 100 artistas que passam por uma avaliação, cerca de cinco conseguem um espaço na casa. “Não têm qualidade ou não têm o que procuramos. São aventureiros”, define.
Para o empresário, a música sertaneja se renova, assim como aconteceu desde a moda de viola a passar por duplas como Leandro e Leonardo, até chegar ao sertanejo universitário. “Está sempre em alta, sempre tem assédio”, finaliza.
Formado em Administração, José Renato Lima Fontoura de Freitas, de 25 anos, se tornou produtor musical há 4, e as duplas que querem se apresentar na Valley, primeiro tem que passar pelo crivo dele. Músico, ele entrou na casa como operador de áudio e com os anos ajudou a desenvolver o padrão organizacional para a escolha de artistas.
“Pedem muita canja, palhinha”, comenta o produtor, sobre a principal solicitação de quem quer uns minutinhos so os holofotes. Mas José adverte que isso não existe na Valley, pelo menos não antes de uma boa conversa. “Tem muita dupla surgindo, tento atender a todo mundo, faço questão de conhecer, dar o feedback”.
Depois que as duplas e cantores entram em contato, são convidadas para uma reunião, onde são avaliados, fazem o teste com apenas voz e violão. Além de Campo Grande, o produtor também faz o mesmo trabalho em Cuiabá. “Tem que ter preparo psicológico, o palco é baixo. O público é crítico, estão acostumados com música de qualidade”, justifica.
Padrinho - Em busca de um espaço na noite campo-grandense, as duplas também perturbam o empresário Marcos Derzi, de 40 anos, sócio da Wood’s, outro alvo da insistência por quem quer entrar no mundo da música sertaneja. A casa tem como um dos sócios o cantor Sorocaba, conhecido por apadrinhar novos artistas, mas um motivo do assédio.
A concorrência é tamanha, que para se apresentar na Wood’s, os artistas precisam passar por uma audição. “Usamos isso como critério, porque todos os dias tem artista querendo um espaço”, conta.
A casa foi aberta na Capital em dezembro, e para a inauguração foi feita a primeira seleção que contou com 30 duplas. Marcos conta que a cada três meses são realizadas audições e a próxima chance está prevista para junho.
Ser acordado de madrugada com mensagem de trabalho é pra tirar o humor de qualquer um, mas apesar disso, Marcos garante que entende, apesar de só responder no dia seguinte. “Sempre digo para me procurarem em horário comercial, e dependendo da abordagem, não fico bravo”.
Apesar do número grande de novos artistas, são poucos que tem a ver com o perfil da casa, ou possuem qualidade musical, lembra. “Deixam a desejar, não têm bagagem. Acham que é fácil, mas assim como no futebol, não é só entender o jogo”, comenta.
Ele aconselha aos que querem se aventurar no meio musical da música sertaneja: "Tem que ter presença de palco, além de cantar bem”. E joga um balde de água fria em quem acha que vai conseguir vencer pelo talento criativo. “Tem que tocar música que o público conhece, não adianta vir com autoral".