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Diversão

Silvana mudou a cara do Carnaval e folia nunca mais foi a mesma após o Valu

Carnaval de rua em Campo Grande pode ser dividido em antes e depois do Cordão Valu

Wendy Tonhati | 24/02/2019 07:36
Sobrenome de Silvana, Valu virou sinônimo de Carnaval em Campo Grande (Foto: Kisie Ainoã)
Sobrenome de Silvana, Valu virou sinônimo de Carnaval em Campo Grande (Foto: Kisie Ainoã)

Em 2007, quando saiu às ruas pela primeira vez, o Cordão Valu tinha aproximadamente 100 pessoas. No ano passado, reuniu cerca de 25 mil. Falar de Carnaval por aqui sempre remete à Valu, sobrenome de Silvana, professora de História que começou o bloco que hoje é a cara do Carnaval campo-grandense.

Silvana, 46 anos, nasceu em Campo Grande é fã de Carnaval desde criança. Na memória, ela tem as fantasias que a mãe colocava para levá-la às matinês e aos desfiles na 14 de Julho, a trilha sonora tinha o samba da Igrejinha, que era cantado pelo pai dela, o interprete Edir Valu. “Eu ia todos os anos. Minha mãe colocava uma fantasia em mim e eu ia para a matinê. A gente saia para 14 de julho e eu ia assistir o meu pai passar. Ele me pegava e eu desfilava uma quadra com ele”.

O Carnaval era brincadeira que acontecia uma vez por ano para Silvana até conhecer o marido, Jefferson Contar. Coincidência ou não, ele é filho do compositor do samba da Igrejinha, Edson Contar. Apesar dos pais serem da mesma Escola de Samba. Silvana e Jefferson só foram se conhecer na faculdade de História e descobriram a coincidência. Depois de seis meses de amizade, começaram a namorar, bem no Carnaval de 2005.

“Meus pais gostavam e, desde que me entendo por gente, eu sempre pulei Carnaval. Meu pai era cantor do samba da Igrejinha e o pai do Jefferson era o compositor, só que a gente não se conhecia. Eu conhecia o pai dele ele conhecia o meu pai. Sempre tivemos essa ligação muito grande com o Carnaval”, diz Silvana.

Silvana e Jefferson puxando o Cordão Valu (Foto: arquivo pessoal Silvana Valu)
Silvana e Jefferson puxando o Cordão Valu (Foto: arquivo pessoal Silvana Valu)

Silvana relembra que, durante uma época, o Carnaval de rua não existiu em Campo Grande. No ano em que o namoro começou, a Igrejinha homenageou o pai de Jefferson e foi feita uma ala de amigos para o desfile. Foi a primeira vez que ela saiu para desfilar no Carnaval.

“O carnaval de Campo Grande acabou durante uma época, até as escolas de samba. Ficamos meio afastados das escolas. Quando começamos a namorar, naquele ano, o pai dele foi homenageado e o meu pai era o cantor. Fizemos uma ala de amigos e foi o primeiro ano em que eu saí”.

Desde então, o casal não largou mais o Carnaval. No começo, foram festas com amigos ou ala na Igrejinha até chegar ao Bar e ao Cordão Valu. “É o achado de duas pessoas que gostam das mesmas coisa, apesar das brigas durante o Carnaval e dos amigos que curtem muito vão atrás e acreditam no que a gente faz”.

Todo ano, uma fantasia diferente (Foto: arquivo pessoal Silvana Valu)
Todo ano, uma fantasia diferente (Foto: arquivo pessoal Silvana Valu)
Silvana e Jefferson começaram a namorar no Carnaval e hoje estão casados (Foto: arquivo pessoal Silvana Valu)
Silvana e Jefferson começaram a namorar no Carnaval e hoje estão casados (Foto: arquivo pessoal Silvana Valu)

“Sempre tinha essa brincadeira de vamos fazer um bloco. Só que fazer um bloco precisa de muita coisa. Até que em 2006 fizemos uma viagem para Campinas e conhecemos o Bar do Pachola, que é um bar com mais de 40 anos, muito famoso que era um box no Mercadão e o Pelé já foi lá. Não tem nada a ver com o bloco, mas a gente queria um bar para poder sair com o bloco. O Bar do Pachola nos inspirou em abrimos o Bar Valu, em 2 de dezembro de 2006, dia do samba. Abrimos bar e fundamos o bloco nesse dia. Estava o pessoal da Igrejinha conosco. Estavam todos os amigos presentes e meu pai cantando”, conta Silvana.

Logo após nascer e antes mesmo de estrear no Carnaval de 2007, o Cordão Valu recebeu um reforço, segundo Silvana. “O pessoal que tinha o Bloco da Usina Conceição Ferreira, um bloco de artistas, organizados pelo Haroldo Garay, desfez o bloco. Como eu tinha uma amiga em comum com eles, ela os levou para lá e a gente juntou todo mundo: amigos, o pessoal que conhecemos o bar e o pessoal do Usina”.

A Esplanada – A casa do Cordão Valu é a Esplanada Ferroviária. Hoje, o local é o principal palco do Carnaval campo-grandense. Silvana conta que quando ela e o marido foram levar o bloco às ruas procuraram um lugar e andavam de noite pelas ruas do Centro. Andando pela região histórica, o clima remeteu à Olinda, em Recife e decidiram que o cortejo do bloco seria ali.

“Como o Cordão Valu tem essa questão da fantasia e da marchinha, que eram coisas que tinham desaparecido do Carnaval de Campo Grande e que estavam ressurgindo também no restante do Brasil, a gente viu aquelas imagens da Esplanada e achou ideal, porque lembra os Carnavais antigos. Todos os lugares fazem Carnaval em região do centro velho. Passamos pela ruazinha Doutor Ferreira, que fica na Esplanada, e falamos: isso aqui aprece Olinda, vamos fazer aqui”.

Nos primeiros anos, o bloco foi pequeno com cerca de cem pessoas. A amigos chamando no boca a boca. “Eu lembro que no primeiro ano, o Paulinho, que é amigo do meu pai, pegou uma mangueira e jogou água. Aí os moradores também começaram a pegar mangueira e jogar água na gente. Então, todos os anos os moradores começaram a esperar pela gente para jogar água”.

Silvana diz que o público começou aumentar a partir do quarto ano de bloco, quando chegou a aproximadamente mil pessoas. “Lembro que o pessoal tinha muito medo de ir pra rua. A gente chamava e as pessoas tinham uma visão diferente de Carnaval de rua. Foram anos para a gente conseguir a confiança. Quando as pessoas iam, ficavam maravilhadas. Esse formato de Carnaval livre, sem associação e nas ruas não tinha”.

Apesar do crescimento, o Valu mantinha as características de bloco pequeno. “Quando passou para mais de mil pessoas, ainda conseguíamos manter as características de um bloco pequeno. Não fechava a rua, ou quando fechava, era por um tempo e nem avisava às autoridades. A gente ficava lá e o pessoal ia chegando. Não tinha palco e fazia na calçada. As coisas começaram a explodir mesmo quando montamos o palco pela primeira vez, no oitavo ano".

Blocos – Depois da consolidação do Cordão Valu, vários blocos surgiram em Campo Grande, alguns, nasceram dentro do Valu mesmo: o Maracangalha, o Capivara Blasé e a Vai quem Vem são alguns deles. Silvana diz que sempre pensou em um Carnaval que contemplasse outros bairros além do Centro.

“Sempre falamos para todo mundo que fazia Carnaval para fazer no seu bairro. Dizia: a gente ajuda vocês a fazer no bar do seu bairro. Ainda sonhamos com isso. Carnaval em todos os bairros da cidade, que as pessoas se organizem e aprendam a fazer isso de forma espontânea. O carnaval tem os grandes eventos, mas são as pessoas que saem e brincam. Quando surgiram os outros blocos, a gente ficou muito feliz porque pode ter Carnaval todos os dias. Esse ano, infelizmente, por causa da burocracia toda, diminuiu bastante e vai ter dia sem bloco nenhum”.

Lembrança de outros carnavais (Foto: Kisie Ainoã)
Lembrança de outros carnavais (Foto: Kisie Ainoã)

Trabalho – O Valu tem eventos durante o ano como festa junina e pré-carnavais. Mas o trabalho mesmo, é concentrado no mês anterior ao Carnaval, segundo Silvana. "O Carnaval de Campo Grande é resolvido no mês anterior. É quando as instituições começam a conversar sobre isso. Dá muito trabalho. Nós não temos verba pública. Dá trabalho para conseguir dinheiro. Nesses últimos dois anos, a burocracia triplicou o nosso trabalho”.

Apesar dos problemas dos últimos dos anos, em que a realização do Carnaval na Esplanada Ferroviária ficou ameaçado, Silvana avalia que a visão do Carnaval pelo poder público está melhorando.

“A gente tem conseguido mudar, nesses longos anos, a cabeça em relação ao carnaval. Antes era muito pior. Queremos que as instituições tenham esse entendimento que o Carnaval é uma festa popular e que quem tem dar segurança são as autoridades públicas. Eles têm que entender que o Carnaval vai acontecer de qualquer forma, podem proibir o Cordão Valu e os outros blocos de saírem, mas não tem como proibir as pessoas de irem”.

Silvana é filha do cantor da Escola da Samba Igrejinha e sempre foi fão de carnaval (Foto: Kisie Ainoã)
Silvana é filha do cantor da Escola da Samba Igrejinha e sempre foi fão de carnaval (Foto: Kisie Ainoã)

Silvana diz que o maior problema atualmente são os “rolezinhos” que são marcados no mesmo dia e horário que o bloco. “Aquele espaço é um lugar que no início escolhemos para o Cordão Valu, mas que agora a cidade escolheu a esplanada para ser o palco principal do carnaval. A Esplanada tem essa questão com o Ministério Público e precisa ser ocupada de forma ordenada. A gente tem horário para acabar, para começar e todas as medidas para que possamos estar novamente”.

Sobre ser a cara do Carnaval, Silvana diz que o Cordão Valu é bem recebido onde vai. “Me sinto feliz. É que da tanto trabalho, que essa é a parte boa, de ser reconhecida. Em geral todo mundo é muito simpático ao Cordão Valu. Onde a gente vai, é bem recebido e as pessoas sempre vem elogiar o trabalho. Às vezes, eu vou à PM entregar algum ofício e chega algum policial falando “dona Valu”. Esse reconhecimento é sempre importante para quem está na batalha. É bom para que a gente se mantenha lutando para conseguir tudo isso”.

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Cordão Valu homenageando o Cordão Bola Preta (Foto: arquivo pessoal Silvana Valu)
Cordão Valu homenageando o Cordão Bola Preta (Foto: arquivo pessoal Silvana Valu)
Cordão Valu nasceu em dezembro de 2006 (Foto: arquivo pessoal Silvana Valu)
Cordão Valu nasceu em dezembro de 2006 (Foto: arquivo pessoal Silvana Valu)
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