ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram
NOVEMBRO, DOMINGO  24    CAMPO GRANDE 29º

Faz Bem!

Ao lado da esposa, pai conta as 9h do trabalho de parto até Marco Antônio nascer

Paula Maciulevicius | 25/03/2015 06:39
O Lado B hoje conta como foi o parto de Marco Antônio pelas palavras do pai: João Ricardo. (Foto: Arquivo Pessoal)
O Lado B hoje conta como foi o parto de Marco Antônio pelas palavras do pai: João Ricardo. (Foto: Arquivo Pessoal)

"Aquela segunda-feira eu lembro como se fosse ontem. A gente dormiu de domingo para segunda. Eu ia trabalhar, era uma segunda normal. Quando foi 6h da manhã, ela acordou com uma contração forte e disse: agora doeu, agora foi pra valer". Assim começou aquela semana em que o funcionário público João Ricardo Franco Caldeira nasceria pai. Aos 30 anos, ele esperava desde a 38ª semana por aquele dia. Na barriga da mãe, Marco Antônio já tinha completado 40 semanas e 1 dia.

O Lado B hoje conta como foi o parto de Marco Antônio pelas palavras do pai: João Ricardo. Mais do que apoiar, ele incentivou o parto normal da esposa, Mayara Martins Caldeira. Nascido também de parto normal, para ele era deixar seguir o caminho da natureza e sentir ao lado da futura mamãe, que a dor era mais que justificada: dela viria um filho. O primeiro do casal. 

"Eu não entendia por que não fazer? É natural da mulher, dela conseguir fazer, por que ela não ia conseguir? Claro que há exceções. Ela vinha resistente, nunca falou que não, mas não era uma entusiasta, dizia: 'a dor não é em você'". João Ricardo conta a história do parto com o filho nos braços. Os olhos do pequeno brilham e ele volta e meia encara a repórter e sorri, como quem sabe que o protagonista da conversa era ele.

"Começamos a conversar com pessoas, a Mayara começou a pesquisar e dividir comigo o que encontrava e achava legal. Quase tudo indica que o parto normal é a melhor opção não só para a mãe e sim para o bebê. Ele que tem que ser prioridade, depois vem o que é melhor para a mãe e depois para o pai se é que ele entra nessa história", brinca.

Enquanto encorajava a esposa, Mayara ainda se mostrava receosa. Só foi por as palavras na balança no momento em que ouviu de uma tia que passou pelas duas experiências - de cesariana e parto normal. "Enquanto só eu falava ela estava reticente, quando ouviu de uma mulher, aí entrou mais a fundo. Esta sempre foi a melhor opção, pelo menos pra mim", completa João. 

Na barriga da mãe, Marco Antônio já tinha completado 40 semanas e 1 dia. (Foto: Arquivo Pessoal)
Na barriga da mãe, Marco Antônio já tinha completado 40 semanas e 1 dia. (Foto: Arquivo Pessoal)

Nas palavras do pai, o complicado é que quanto mais se estuda, mais vem a indignação. "As pessoas são muito desinformadas. Eu não sou especialista no assunto, mas é uma coisa que acontecia nos anos 50, 60, normalmente. Eu nasci na década de 80, ainda era de parto normal. Quando começou a inverter isso e de repente a mulher parou de fazer parto normal? Vai mais pelo que é conveniente para o médico, para o hospital, às vezes até para elas mesmo", interpreta o pai.

A chegada da 38ª semana veio do aviso da equipe médica e da doula: 'qualquer hora é hora'. E nada... "Vou te falar, a  gente ficou ansioso..." 

Naquela manhã de segunda-feira eles acordaram com a forte contração. João avisou no trabalho que a esposa estava passando mal e por uma febre que havia surgido no dia anterior, Mayara atendeu a ordem médica de ir até o laboratório para fazer um exame de sangue.

"Quando foi 9h, estávamos para sair, começaram as contrações ritmadas. Eu falei: 'vai marcando para a gente falar para a doutora. Saí como quem ia no laboratório, só com aquela roupa simples e ainda pensei: será que vai ainda uns dois dias? A gente ouve falar de 25h de trabalho de parto, e eu sabia que tinha que evoluir em casa, que não adianta ir cedo para a maternidade".

Dos exames eles passaram na maternidade para uma consulta. O toque revelou 5 centímetros de dilatação. Da médica, Paula Lidiane, eles ouviram a recomendação de caminhar até que os resultados saíssem. "A gente foi ao supermercado e eu lembro do açougueiro ver ela e perguntar: é para dezembro? E a cara dele quando eu disse: não, acho que é pra hoje mesmo".

"É inexplicável. A Mayara trouxe ele junto ao corpo e segurou. Eu vim atrás e fiquei abraçado..." (Foto: Arquivo Pessoal)
"É inexplicável. A Mayara trouxe ele junto ao corpo e segurou. Eu vim atrás e fiquei abraçado..." (Foto: Arquivo Pessoal)

Às 12h30 eles deram entrada no hospital. "Daí foi muito bom tudo aquilo que a gente tinha estudado e que a doula tinha passado pra gente. Aquilo te dá uma preparação, você sabe que está evoluindo, que é a hora. Eu sabia que até de noite ele deveria nascer".

"A minha sensação? Eu não conseguiria ficar em outro lugar que não fosse ali. Queria saber de tudo, a cada minuto. Você fica numa ansiedade de querer estar perto, dando apoio, segurando a mão dela... E eu achava que ela ia ser mais 'selvagem'", brinca o pai.

Às 4h30 da tarde, a bolsa rompeu. "Caiu uma gosma com sangue, ali a gente já sabia que faltava pouco". Mayara passou boa parte do tempo no chuveiro, usando a água morna como medicamento, ao lado de João Ricardo e também da doula. Não houve intervenção além das massagens e nem remédios. Era só o carinho deles e a expectativa para ver Marco Antônio chegar.

Na banqueta, a futura mamãe começou a fazer força. Era hora. Sem dar tempo de ir ao centro cirúrgico, ela já sentiu que teria ali o bebê. "Foram cinco forças. Não é aquela força que a gente vê nos filmes não. Eu peguei a câmera da doula, tirei umas fotos e ela falava 'João, deixa ligado'".

A doula sugeriu ao pai que ficasse atrás, segurando - e também aguentando os apertões da mãe - mas João Ricardo queria ver o filho chegando. "Perguntei se de lá eu ia ver, eu queria ver. E a hora que passou a cabeça, ele já sai rápido e eu já comecei a chorar de emoção".

"É inexplicável. A Mayara trouxe ele junto ao corpo e segurou. Eu vim atrás e fiquei abraçado. Ele nem chorou. Eu cortei o cordão. O parto humanizado é assim, não tem tem esse processo de nasceu, corta o cordão e leva a criança para lá. A mãe fica trocando calor e ele se situando no mundo. A gente espera o cordão parar de pulsar... Assim é a natureza deles e logo ele começa a procurar o peito. Passou 1h naquele momento, ele saiu com cheiro de talco".

Marco Antônio nasceu às 18h30 do dia 17 de novembro, com 2.985 kg e 47 cm. "Me perguntam 'como você teve coragem?' Como eu não ia ter coragem de ficar?"

Marco Antônio nasceu às 18h30 do dia 17 de novembro, com 2.985 kg e 47 cm. (Foto: Arquivo Pessoal)
Marco Antônio nasceu às 18h30 do dia 17 de novembro, com 2.985 kg e 47 cm. (Foto: Arquivo Pessoal)
"Me perguntam 'como você teve coragem?' Como eu não ia ter coragem de ficar?" (Foto: Arquivo Pessoal)
"Me perguntam 'como você teve coragem?' Como eu não ia ter coragem de ficar?" (Foto: Arquivo Pessoal)
Nos siga no Google Notícias