Ao lado da esposa, pai conta as 9h do trabalho de parto até Marco Antônio nascer
"Aquela segunda-feira eu lembro como se fosse ontem. A gente dormiu de domingo para segunda. Eu ia trabalhar, era uma segunda normal. Quando foi 6h da manhã, ela acordou com uma contração forte e disse: agora doeu, agora foi pra valer". Assim começou aquela semana em que o funcionário público João Ricardo Franco Caldeira nasceria pai. Aos 30 anos, ele esperava desde a 38ª semana por aquele dia. Na barriga da mãe, Marco Antônio já tinha completado 40 semanas e 1 dia.
O Lado B hoje conta como foi o parto de Marco Antônio pelas palavras do pai: João Ricardo. Mais do que apoiar, ele incentivou o parto normal da esposa, Mayara Martins Caldeira. Nascido também de parto normal, para ele era deixar seguir o caminho da natureza e sentir ao lado da futura mamãe, que a dor era mais que justificada: dela viria um filho. O primeiro do casal.
"Eu não entendia por que não fazer? É natural da mulher, dela conseguir fazer, por que ela não ia conseguir? Claro que há exceções. Ela vinha resistente, nunca falou que não, mas não era uma entusiasta, dizia: 'a dor não é em você'". João Ricardo conta a história do parto com o filho nos braços. Os olhos do pequeno brilham e ele volta e meia encara a repórter e sorri, como quem sabe que o protagonista da conversa era ele.
"Começamos a conversar com pessoas, a Mayara começou a pesquisar e dividir comigo o que encontrava e achava legal. Quase tudo indica que o parto normal é a melhor opção não só para a mãe e sim para o bebê. Ele que tem que ser prioridade, depois vem o que é melhor para a mãe e depois para o pai se é que ele entra nessa história", brinca.
Enquanto encorajava a esposa, Mayara ainda se mostrava receosa. Só foi por as palavras na balança no momento em que ouviu de uma tia que passou pelas duas experiências - de cesariana e parto normal. "Enquanto só eu falava ela estava reticente, quando ouviu de uma mulher, aí entrou mais a fundo. Esta sempre foi a melhor opção, pelo menos pra mim", completa João.
Nas palavras do pai, o complicado é que quanto mais se estuda, mais vem a indignação. "As pessoas são muito desinformadas. Eu não sou especialista no assunto, mas é uma coisa que acontecia nos anos 50, 60, normalmente. Eu nasci na década de 80, ainda era de parto normal. Quando começou a inverter isso e de repente a mulher parou de fazer parto normal? Vai mais pelo que é conveniente para o médico, para o hospital, às vezes até para elas mesmo", interpreta o pai.
A chegada da 38ª semana veio do aviso da equipe médica e da doula: 'qualquer hora é hora'. E nada... "Vou te falar, a gente ficou ansioso..."
Naquela manhã de segunda-feira eles acordaram com a forte contração. João avisou no trabalho que a esposa estava passando mal e por uma febre que havia surgido no dia anterior, Mayara atendeu a ordem médica de ir até o laboratório para fazer um exame de sangue.
"Quando foi 9h, estávamos para sair, começaram as contrações ritmadas. Eu falei: 'vai marcando para a gente falar para a doutora. Saí como quem ia no laboratório, só com aquela roupa simples e ainda pensei: será que vai ainda uns dois dias? A gente ouve falar de 25h de trabalho de parto, e eu sabia que tinha que evoluir em casa, que não adianta ir cedo para a maternidade".
Dos exames eles passaram na maternidade para uma consulta. O toque revelou 5 centímetros de dilatação. Da médica, Paula Lidiane, eles ouviram a recomendação de caminhar até que os resultados saíssem. "A gente foi ao supermercado e eu lembro do açougueiro ver ela e perguntar: é para dezembro? E a cara dele quando eu disse: não, acho que é pra hoje mesmo".
Às 12h30 eles deram entrada no hospital. "Daí foi muito bom tudo aquilo que a gente tinha estudado e que a doula tinha passado pra gente. Aquilo te dá uma preparação, você sabe que está evoluindo, que é a hora. Eu sabia que até de noite ele deveria nascer".
"A minha sensação? Eu não conseguiria ficar em outro lugar que não fosse ali. Queria saber de tudo, a cada minuto. Você fica numa ansiedade de querer estar perto, dando apoio, segurando a mão dela... E eu achava que ela ia ser mais 'selvagem'", brinca o pai.
Às 4h30 da tarde, a bolsa rompeu. "Caiu uma gosma com sangue, ali a gente já sabia que faltava pouco". Mayara passou boa parte do tempo no chuveiro, usando a água morna como medicamento, ao lado de João Ricardo e também da doula. Não houve intervenção além das massagens e nem remédios. Era só o carinho deles e a expectativa para ver Marco Antônio chegar.
Na banqueta, a futura mamãe começou a fazer força. Era hora. Sem dar tempo de ir ao centro cirúrgico, ela já sentiu que teria ali o bebê. "Foram cinco forças. Não é aquela força que a gente vê nos filmes não. Eu peguei a câmera da doula, tirei umas fotos e ela falava 'João, deixa ligado'".
A doula sugeriu ao pai que ficasse atrás, segurando - e também aguentando os apertões da mãe - mas João Ricardo queria ver o filho chegando. "Perguntei se de lá eu ia ver, eu queria ver. E a hora que passou a cabeça, ele já sai rápido e eu já comecei a chorar de emoção".
"É inexplicável. A Mayara trouxe ele junto ao corpo e segurou. Eu vim atrás e fiquei abraçado. Ele nem chorou. Eu cortei o cordão. O parto humanizado é assim, não tem tem esse processo de nasceu, corta o cordão e leva a criança para lá. A mãe fica trocando calor e ele se situando no mundo. A gente espera o cordão parar de pulsar... Assim é a natureza deles e logo ele começa a procurar o peito. Passou 1h naquele momento, ele saiu com cheiro de talco".
Marco Antônio nasceu às 18h30 do dia 17 de novembro, com 2.985 kg e 47 cm. "Me perguntam 'como você teve coragem?' Como eu não ia ter coragem de ficar?"