Depois de quase passar por fórceps, Céu escolheu quando, onde e como nascer
"Se eu pudesse, contaria ao mundo todo minha experiência de parto. O parto em si ganhou um significado muito grande na minha vida. Desde que engravidei, entrei de cabeça no mundo paralelo da humanização do parto. Me tornei ativista, participo de campanhas contra a violência obstétrica e a indústria da cesariana (assunto que tomou grande proporção de um tempo pra cá, graças às ativistas) e mais do que tudo isso: consegui viver essa experiência maravilhosa de um parto humanizado".
As palavras acima e o relato do parto a partir de agora é da jovem Luana Chadid Stábile, de 23 anos e sua Céu, que recém completou 7 meses de alegria. Foram 20 horas de trabalho de parto, com dores intensas nas últimas 4 e ainda assim, a mãe mantém o discurso de que faria tudo de novo.
Luana sentiu que Céu viria três dias depois de ser gerada. Morando em Florianópolis com o marido André, ela relembra que um certo dia, ao entrar no banho, sentiu algo muito estranho dentro de si. "Algo que me dava vontade de rir e chorar ao mesmo tempo! No auge dos meus 50 quilos, barriga "negativa" como dizem meus amigos Fernandes. Tinha a certeza naquele momento que eu carregava uma vida dentro de mim (isto apenas três dias após o dia em que fora gerada - sim, eu sei o dia que gerei minha filha)", descreve.
Sem saber explicar nem como e nem porque, Luana guardou o sentimento até que a menstruação atrasasse, o teste de farmácia confirmasse e o exame de sangue reafirmasse. Sem ter muita noção do que era um pré-natal, o parto ou uma cesariana, Luana conta que vestiu a camisa e entrou de cabeça em pesquisas sobre o assunto e também retornou a Campo Grande.
Na Capital, ela e o marido começaram a pesquisar os benefícios do parto natural e decidiram viver isto juntos, pelo bem da filha e deles também. "Descobrimos uma série de fatos que não imaginávamos, como a preferência da cesariana na maioria dos obstetras, a cultura de uma sociedade que se afasta cada vez mais da fisiologia da vida, da naturalidade das coisas, enfim, percebemos que o que era pra ser normal, se tornou exceção", narra Luana.
Quando a futura mamãe dizia que preferia esperar o momento de Céu nascer, que queria um parto natural, ou seja, sem anestesia e nem indução, era criticada. "Frases que tentavam minar minha coragem, como: "nossa, corajosa vc hein? Será que você vai dar conta? Eu acho que você por ser magrinha não vai aguentar".
A gota d'água para que ela e o marido decidissem pelo parto normal veio do filme "O Renascimento do Parto". "Mudei de obstetra com muito receito e resistência. Conheci um anjo, aliás, a Dra Paula. Estava com meu plano de parto ok, minha doula ok, fisioterapeuta obstétrica e pilates ok. Tudo caindo do céu, literalmente. Minha saúde em perfeito estado e bebê encaixando cada dia mais".
Até que com 36 semanas... "Fuff", começaram os pródromos... 1 cm de dilatação. Com 38+5 dias, numa sexta-feira, um ardência ao fazer xixi a levou para a maternidade, onde uma médica plantonista constatou 3 cm de dilatação. Veio o sábado, o domingo e nada. No finzinho do dia, uma dor "igualzinha" a cólica menstrual anunciava que estava chegando a hora.
Durante a madrugada, mesmo acordada, nada parecia evoluir. Ainda não era a hora de Céu nascer. Às 5h da manhã, uma dor acordou Luana. "Acordei o André e fui para o chuveiro sentar na bola de pilates... Aliviou totalmente a dor. Assim que saí do banho, fui me trocar e já não aguentava mais segurar, comecei a chorar durante as contrações pois doía bastante... Mas era uma dor gostosa, ainda. Comuniquei a Dra Paula e ela me pediu para ir ao consultório, eu já gemia durante as contrações. Era até engraçado!", descreve.
Com 5 cm de dilatação constatados, banheira da maternidade Cândido Mariano já podia começar a encher. O desejo da mãe era de parir na água. Cerca de duas horas após a dilatação total, Luana ainda estava fazendo força e já exausta, não entendia porque Céu demorava a sair.
Na "partolândia", momento em que o trabalho de parto fica mais intenso, a médica obstetra disse, com muita calma, que mãe e filha teriam de sair do quarto para a sala de parto usar o fórceps. "Ela explicou que a Céu estava ou com circular de cordão, que fazia com que ela subisse ou a cabecinha virada para o lado e que se a gente continuasse ali poderia diminuir os batimentos cardíacos do bebê".
Na sala de parto, o medo era de que a possibilidade se restringisse a uma cesariana. "Preferia continuar mais 5 horas com dor do que partir pra cirurgia. Por isso é preciso mais do que convicção de que o parto normal é melhor para o bebê, é preciso deixar o egoísmo de lado, é possível e é o melhor a se fazer", pontua Luana.
Foi preciso entrar com ocitocina sintética e numa última tentativa, ainda sem o fórceps, a Céu nasceu. "Realmente a cabecinha dela estava virada de lado, até nasceu com uma bolsinha de sangue onde eu fazia a força, mas cerca de uma hora após o nascimento a bolsa de sangue foi absorvida e ficou normal", relata Luana.
Lindo e rápido, a recordação que a mãe guarda é de um corpinho sobre a própria barriga, cheio de sangue e fazendo um barulhinho de neném. "Sem chorar, só se mexendo e tentando entender o que era aquela sala cheia de gente emocionada e chorando. Foi aí que eu me apaixonei pela Céu, um anjo enviado por Deus, a criatura mais amada desse mundo por nós. Naquele momento eu vi o céu descer".
Céu foi levada pelo pai para tomar vitamina k, pesar e medir. A mãe relata que não teve nada de aspiração e que foi tudo do jeito como eles planejavam: humanizado. Foi necessário e Luana passou por uma episiotomia. "Já pronta, me levaram de volta pro quarto junto com meu marido e minha filha e já fui tomar um banho sozinha, uma das grandes vantagens do parto natural", aponta a mãe.
Céu nasceu no dia 11 de agosto de 2014. "Em um parto regido pelos hormônios do amor, foi recebida por pessoas boas que cuidaram bem dela. Não houve trauma algum, não houve violência. Ela decidiu como, onde e quando iria nascer. Eu a respeitei desde o começo da gestação e assim farei até o último dia da minha vida...
O parto é uma linda poesia do início ao fim. É nosso corpo expressando o extremo amor instintivo, nossa alma sendo elevada à plenitude da nossa existência. Eu amei parir", descreve Luana.