Do céu ao inferno em alguns copinhos...Após a cirurgia, as primeiras refeições
Depois de tantos turbilhões e, finalmente, realizada a cirurgia bariátrica, quando você repensa todo seu relacionamento com a comida, a pergunta que vem é: O que será quando eu for comer pela primeira vez? Então, das coisas que só quem opera sabe, tudo depende muito de cada médico e do procedimento que cada equipe profissional adota, então a minha história pode ser diferente da sua.
No meu caso, eu internei em uma quarta-feira pela manhã e fiz a cirurgia no período da tarde. Depois, passei uma noite na UTI e fui pro quarto. E ali são duas coisas que você pensa: que horas vou tomar o azul e como vai ser quando eu ‘comer’?
Na última consulta antes da cirurgia, aprendemos a “comer” após o procedimento. É algo assim: não pode nada e você tem que dosar tudo literalmente. Tudo líquido, tudo em copinhos de 50 ml que devem ser tomados de 10 em 10 minutos para ajudar em todo o processo.
No hospital, se alguém pensa que o gordo fica lá, deitado em berço esplendido esperando a banha ir embora está bem enganado. Primeiro, você anda pra caramba, não pode ficar deitada, não pode ficar “descansando” e tem umas fisioterapeutas que vão e passam exercícios mesmo. E cada segundo parece uma eternidade dentro do quarto do hospital, e ao mesmo tempo você perde o sentido do tempo, em especial para mim que contava as horas do dia me baseando nas minhas refeições. E então chega o homem mais esperado da semana, doutor Cesar Conte adentra o recinto e diz: “Hoje você vai tomar o azul”.
Explicando, tomar o azul significa ver se tudo correu bem. Claro que muitos já devem ter ouvido falar em fístula, que é uma resposta do organismo em relação a cicatrização dos grampos que são utilizados para “fechar” tudo lá por dentro. Pois bem, esse momento é o crucial, porque quando saímos da cirurgia, ficamos usando um dreno, onde sai um líquido, tipo um coletor e o “azul” serve para o médico ter certeza que está tudo fechadinho ali.
Eu estava desde terça-feira sem tomar água, comer ou qualquer coisa que o valha, ainda bem que era permitido respirar, já que até para tomar banho o cuidado era imenso para “não engolir água”. E já era sexta-feira! Então chega a minha super nutri Mariana Corradi com sua alegria de sempre e junto dela um frasco contendo o tão esperado ‘pinta língua’.
Olha, eu nunca tomei uma água com tanto gosto igual aquela e acredito que tive os momentos mais tensos da minha vida, porque o papo é reto. Saiu líquido diferente no dreno? Volta para a sala de cirurgia! E com tudo dando certo, já seríamos eu e minha companheira de quarto para fazermos nossa primeira refeição.
Foi uma festa, a primeira sem comes e bebes, quando deu tudo certo e sentei ansiosa esperando pela minha primeira “sopinha”. Quando vamos para a cirurgia, já sabemos como é o cardápio pós-cirúrgico, que é todo líquido e tal, mas que decepção. Veio um copo com “água de batata” que nem o cheiro ajudava e eu teria que beber aquilo ali? Não desceu mesmo!
A "sofrência" foi tanta que quando eu cheguei em casa e minha sobrinha Carol tinha feito uma “sopa” de verdade para mim, eu achei que estava no paraíso. Em resumo, é caldo de carne (ou frango ou peixe) com legumes e que são coados em um coador de pano. Legal não é? Só que não. Porque é muito ruim.
E a primeira coisa que senti mudar em mim foi o humor, que apesar de sempre ter sido extremamente ácido, estava cada dia pior a ponto de meu companheiro de jornada estar quase surtando junto comigo. Água de coco, isotônico, leite de soja zero, gelatina zero e minha paciência também já estava zero.
Em desespero, liguei para a nutricionista que por experiência profissional, tentou me acalmar e explicar que logo eu mudaria o cardápio. No desespero, fui ver meu pai com dreno e tudo e lá tinha uma balança e eu subi nela. Então eu voltei para o céu...
Mal sabia eu que a vida de montanha russa estava apenas começando!