Exame de próstata em mulheres transexuais: existe a necessidade?
Campanha de conscientização para o tipo de câncer mais comum entre os homens cisgênero também vale para o grupo das transexuais
Hoje (30) é o último dia do Novembro Azul, o mês dedicado para atenção às doenças masculinas – principalmente a prevenção e o diagnóstico precoce do câncer de próstata tão comum à eles. Mas pensando bem, será que elas, as mulheres transexuais, também não entrariam nessa jogada? Afinal, por trás da identificação com o gênero oposto, ainda sim nasceram com a biologia masculina (corpo físico), então elas não estariam correndo os mesmos riscos de um homem cisgênero?
Para o médico Peterson Vieira de Assis, do serviço de urologia do Hospital Universitário, a questão é um pouquinho mais complicada. "Aquelas mulheres trans que fazem uso de terapia hormonal tem uma paralisação ou até certa redução do volume prostático. O estrogênio serve como uma 'proteção' ao câncer de próstata, inibindo o aumento do número de células", afirma.
As mulheres trans que já fizeram a retirada da próstata decorrente da cirurgia de redesignação sexual realmente não precisam ficar com receio. Conforme o urologista explicou, nesse caso não existe mais resquício do órgão ou das células que possivelmente poderiam vir a se tornar um câncer prostático.
Porém ele alerta: "os estudos em relação ao assunto ainda são muito difusos. Por isso, é aconselhável tanto pacientes homens quanto trans femininas fazerem seus exames periódicos a partir dos 45 anos", afirma. Isso porque a partir dessa idade é comum a chamada hiperplasia prostática – o aumento do volume do órgão –, o que não significa ser câncer, mas a atenção deve ser redobrada dessa faixa etária em diante.
Pamella Yule é a professora, produtora cultural e mulher trans de 33 anos que há poucos meses deu início com sua hormonoterapia. Por garantia, recorreu à rede particular.
"Eu sempre tive medo de me automedicar, queria que tudo acontecesse com acompanhamento médico, até mesmo pra facilitar mais lá pra frente uma eventual cirurgia que eu venha a fazer".
Ela disse nunca ter tido uma consulta com urologista, e conhece poucas amigas que também passaram por um especialista – a não ser o caso daquelas que fizeram a cirurgia de redesignação sexual. Para ela, a maior questão é a falta de aderência das transexuais e travestis às unidades de saúde.
"Recentemente, participei de uma pesquisa da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) sobre saúde da população trans. Ainda muitas negligenciam suas saúdes por conta do medo de não serem respeitadas nas unidades de atendimento. Seja Outubro Rosa ou Novembro Azul, é um trabalho árduo da militância junto com o poder público para conscientizar essas gatas a não brincar com suas saúdes, e exigirem seu lugar de direito", considera.
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