Não é novidade, mas tem muita mulher descobrindo agora os riscos da pílula
Depois que uma jovem usou as redes sociais para contar que o uso de anticoncepcional provocou trombose venosa no cérebro, começaram as postagens no Facebook, compartilhadas por centenas de mulheres, de gente que está descobrindo só agora que as pílulas sempre apresentaram riscos.
O assunto não é novo, mas está na "moda" e o Lado B foi ouvir especialistas e quem se identificou com a situação. Afinal, pílula pode dar trombose venosa?
Há cerca de seis meses, a enfermeira Eveline Larréa Rocha, de 24 anos, parou de tomar o anticoncepcional por medo. "Porque as mulheres da minha família materna têm problemas de circulação e desde novinha eu já tinha dores por conta das varizes, quando fui ficando mais velha, foi piorando", explica.
Na faculdade, ela teve uma noção por cima dos riscos, mas ainda assim via a pílula mais como aliada para evitar espinhas e regular o ciclo. "Quando fui lendo mais sobre o uso de hormônios, como aquilo mudava quem eu era e vendo cada vez mais matérias falando de mortes de jovens devido à pílula, aquilo foi mudando a minha forma de pensar", descreve.
Hoje ela diz que prefere se abster. Não toma, mas não tenta convencer ninguém a fazer o mesmo. "Tento esclarecer que deixei de usar por um caso particular, porque a minha família tem histórico", afirma. Como contraceptivo, optou agora por colocar o DIU.
Farmacêutica, Tabitha Raisa Kiselar Aguilera, de 29 anos, é formada na Capital e hoje trabalha e mora em Campinas. Ela foi uma das que ficou indignada ao perceber que o assunto está sendo tratado de maneira "leviana" nas redes.
"A surpresa dos efeitos colaterais dos anticoncepcionais ainda vem por causa da desinformação. São poucos os profissionais que orientam devidamente seus pacientes. A gente sempre tem que pensar que todos os medicamentos tem seus efeitos colaterais e eles devem ser esclarecidos pelo profissional que o prescreveu e pelo profissional que dispensou esse medicamento", explica a farmacêutica.
E quando essas informações não chegam corretamente, o problema é ainda maior. "Fica parecendo que todo mundo que tomar anticoncepcional vai acontecer aquilo, e não é verdade", completa.
A farmacêutica explica que a pílula é um medicamento que contém hormônios sintéticos que imitam os hormônios naturais femininos. Assim, eles controlam o ciclo menstrual e é essa a função prioritária dele. A principal indicação é como método contraceptivo, mas ele também é muito usado para controle de doenças da mulher como os ovários policísticos e a síndrome do ovário policístico, cólicas menstruais, irregularidades do ciclo menstrual, controle de tamanho de cistos de ovário, entre outros.
Entre as contraindicações do remédio estão náuseas, vômitos, tonturas e dores de cabeça, principalmente nos três primeiros meses de uso, até o corpo da mulher se acostumar. A longo prazo, pode vir sim a trombose venosa como efeito colateral.
"Os contraceptivos orais, comumente chamados de pílulas, podem influenciar a coagulação, aumentando o risco de trombose venosa e embolia pulmonar, como também AVC (Acidente Vascular Cerebral) e infarto do miocárdio", confirma o cirurgião vascular, Cézar Augusto de Oliveira.
O especialista ainda explica que por conta disso, eles são contraindicados em mulheres com doença vascular pré-existente. "Mulheres com tendência familiar de formar coágulos sanguíneos, mulheres com obesidade severa e alto nível do colesterol, além das mulheres tabagistas", explica o vascular.
Em 33 anos de atendimento como ginecologista e obstetra, o médico Alex Bortotto Garcia, diz que nunca viu uma trombose venosa chegar ao consultório por conta do uso da pílula.
"O grande problema é que existe essa repercussão toda sem divulgar o que realmente pode acontecer. Existem pacientes que tomam anticoncepcional com a falta de indicação e há também as que têm varizes e uma história de trombose venosa. Essas não podem tomar", esclarece o médico.
Alex vai além dizendo que há uma diferença muito grande entre poder ter e ter. "Na verdade essas pacientes são um número muito pequeno na sociedade, só que elas têm de ser avisadas do risco que estão correndo. Não que ela vai tomar e vai ter, é muito diferente uma coisa da outra", explica.
O médico ainda alerta que os médicos estão nos consultórios justamente para dar as orientações. "O próprio ginecologista está aqui para isso, poder orientar melhor o tipo de efeito colateral que cada anticoncepcional pode dar. É para evitar problemas que a gente estudou e está aqui", enfatiza.