Para quem vive em guerra, fazer as pazes com o espelho é auto-declaração de amor
♪♫♪ “Como num espelho, te olhando vejo, o meu próprio medo, minha indecisão, Mesmo te amando não estou seguro, Será que é verdade ou uma ilusão?”...
Estranho começar a coluna com uma música, não é? Essa música é do Jorge e Mateus e se chama “Espelho”, e eles cantam algo que poderia ser uma declaração de amor para quem vive em guerra com a imagem ou com a balança e aos poucos vai descobrindo outra imagem de si próprio, olhando onde? No espelho...
Durante os últimos meses, vivendo o turbilhão de emoções que é emagrecer, que é a mudança que muitos sonham na vida, seja por cirurgia ou por dieta ou até mesmo por milagre (sonho é sonho, deixa quieto, como diz Racionais e meu amigo Kishô). E como aqui escrevo sobre coisas que passo junto com várias gordinhas e gordinhos e ex-gordinhos e ex-gordinhas hoje vamos falar de espelhos...
Sábado, estive no Casório do Ano, definitivamente a festa popular mais linda que nossa cidade tem nos últimos tempos e onde foi possível encontrar várias e várias pessoas e ali eu senti mais do que nunca a percepção do outro sobre a minha mudança, algumas mais radicais, outras menos. Gente que há tempos não me via, gente que não me conhecia pessoalmente, gente que não sabia o que me dizer ou que simplesmente disse: “Vai Gordinha”.
E ali, parei para conversar com uma colega de jornalismo, linda, e que já emagreceu quase 50 quilos. A diferença entre eu e ela? Ela era menos gorda e fez dieta. Uma força de vontade imensa, uma luta diária, contra ela mesma, contra a sociedade e também pequenas vitórias diárias que fazem a gente continuar. E nessa conversa, surgiu ele de novo. O espelho. Olhei e perguntei:
- Vanessa, quando você se olha no espelho, às vezes você não se assusta?
- Sim, isso já aconteceu comigo, de manhã, menina, é uma loucura! Outro dia, acordei de manhã e me assustei, tipo, perguntando se sou eu mesma!
- Eu também sinto isso!
E escrever sobre a vida é isso, vivendo a vida e conversando com quem vive o que a gente vive. Lá fui eu para meu grupo de meninas, onde somos fortalezas uma das outras e as figurinhas trocadas também foram sobre isso.
E é quase unânime, o espelho é nosso momento onde estamos ali, olhando o quanto tudo aquilo que passamos valeu a pena, valeu cada lágrima chorada na dieta líquida ou o momento que pensávamos que íamos enlouquecer no churrasco dos amigos naquele 20º dia de cirurgia, onde não era permitido nem chupar uma carne.
♪♫♪“Como num espelho, te olhando vejo, o meu próprio medo, minha indecisão. Mesmo te amando não estou seguro, será que é verdade ou uma ilusão?”... ♪♫♪
E com isso comecei a entender que meu medo do espelho era esse. Era o medo de me amar de verdade, de amar essa nova Liziane, com 50 quilos a menos, entrando numa calça 50 (RÁ! Emagreci mais!) e no domingo cedo, depois de tanto carinho no casório, me olhei no espelho, olhei cada mudança que teve em mim. Algumas partes caíram, afinal são 34 anos (risos) e comecei a admirar, lembrar que no sábado eu fui ao cabeleireiro e ao sentar na cadeira, sem me dar conta, de repente eu cruzei as pernas e fiquei ali, me achando, porque para alguns é alto tão bobo...
E as meninas do salão DasJu que sempre vibram comigo falaram: “Lizi, você está cruzando as pernas”. Meus cabelos loiros, lindos, as unhas como nunca eu tinha cuidado... Virei, lentamente a cadeira, olhei para mim naquele espelho imenso e disse: “É, olha que lindo”...
♪♫♪ “As explicações são vagas, só eu sei como eu queria falar do meu amor, abertamente sim, ir até o fim, só eu conheço a dor de não acreditar. Que mereço ser feliz...” ♪♫♪
Nisso, acordei pensando nessa música, do espelho, música muito brega para alguns, mas que eu consigo ver hoje como uma declaração de amor de mim para mim mesma, em especial naqueles momentos onde eu sinto medo de tudo isso que estou vivendo ser talvez uma ilusão, e que de repente eu vou acordar de uma realização muito boa. E todas as vezes que só nós conhecemos a dor de não acreditar que não merecemos ser felizes. Seja gorda ou magra, loira, morena ou ruiva...
“Seria tão bom só eu e você, mas te faço sofrer, e é sem querer, eu fujo da dor, eu tenho pavor da solidão, Me perdoa coração...”
E cada dia o espelho, no clichê eu comigo mesma, vai me ensinando a perdoar tudo que eu me fiz, tudo que deixei meu corpo sofrer, tudo que eu fiz a mim mesmo deixando as pessoas me dizerem o que deveria ou não fazer, ou colocando na minha cabeça que cirurgia era ruim (ou era fácil) e comecei a cantar essa música a pulmões, em uma declaração de amor para mim mesma...
Liguei para minha irmã Lais, saímos e fomos comprar uma bota. A minha primeira, com direito a foto de vestido, bota, perna cruzada e tudo! E como minha irmã disse: “E vai até o espelho, é ali que você vai ver o quanto está bonita”.
Então, o que está esperando, vai até o espelho e faça as pazes. E se brigar amanhã? Faça as pazes de novo! Porque viver é um eterno recomeçar de amor próprio!
(Especialmente para Vanessa Ricartes e todas as minhas fortalezas do grupo Amigos da Nutri, porque somos além de tudo, espelhos uns dos outros, por isso somos tão lindos! Obrigada por aceitarem estar aqui!)