Prevenção ao câncer de mama vale também para transexuais
Desconhecimento da sociedade faz pensar que as pessoas trans não fazem parte do alerta ao Outubro Rosa – mas muito pelo contrário
A gente não para pra refletir, mas as pessoas transexuais e transgêneras também fazem parte do grupo em que a campanha Outubro Rosa tanto visa conscientizar. Os riscos do câncer de mama e de colo do útero vale para todas elas. Aliás, para todo mundo. Independente de gênero ou sexualidade, as doenças oferecem até 95% de chance de cura quando diagnosticadas precocemente.
Fazer o autoexame, realizar consultas periódicas e manter hábitos saudáveis. Essas simples recomendações são, por desconhecimento da sociedade, voltadas mais as mulheres cisgênero – aquelas que se identificam com o gênero designado em nascimento – do que às mulheres transexuais.
“Por causa do uso contínuo de hormônios, já é comprovado cientificamente que as mulheres trans têm cerca de 47 vezes mais chances de desenvolver câncer de mama do que os homens cis, sendo que pra eles é bem raro, cerca de 1% do total dos diagnósticos”, explica Mikaella Lima, coordenadora de políticas públicas LGBT, vinculada à SDHU (Subsecretaria de Defesa dos Direitos Humanos) da prefeitura de Campo Grande.
“Todas as pessoas trans deveriam buscar o atendimento médico que possam prolongar suas vidas, a ter mais qualidade e informação”, recomenda Mika.
Desde os 19 anos, Emanuelle Fernandes faz uso de hormônios femininos. Hoje em dia, a ex-Miss Trans de MS já conta com a prótese mamária, 400 ml em ambos os seios.
“Eu já sabia dos riscos atrelados ao uso indiscriminado de hormônio e a possibilidade do câncer de mama, mas no universo transexual isso é muito pouco divulgado e discutido, inclusive entre as próprias trans. Particularmente, sempre fiz os autoexames, e recomendo para minhas amigas”, afirma.
Neste ano, Manu foi surpreendida com a proposta de ser embaixadora de uma campanha de prevenção ao câncer de mama pelo Hospital de Amor (antigo Hospital de Câncer de Barretos), que inclusive conta com uma unidade aqui em Campo Grande.
“É uma forma de eu informar as meninas transexuais sobre a causa, de mostrar a importância da gente ficar atenta ao nosso corpo, aos próprios sinais, e sempre estar em dia com os exames. Pessoas trans também podem ter esse tipo de doença, sim”, comenta.
No Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian, Lorenzo Sullivan Macedo já faz hormonioterapia há 1 anos e 8 meses e, por isso, já teve redução das mamas. O sonho dele é fazer a mastectomia masculinizadora, isto é, a cirurgia de retirada das mamas e readequação plástica do peito.
“Eu sempre tive acompanhamento de médicos especializados lá no Ambulatório Transexualizador. Desde o início, eles me alertaram sim que enquanto homens trans eu ainda faço parte do Outubro Rosa, mas confesso não saber que mesmo com a mastectomia feita ainda haveria o risco de câncer”, admite.
Recentemente, Lorenzo vem tendo episódios da chamada descarga mamilar, que é a liberação de secreção pelos seios. Isso não é necessariamente anormal, mas é bom ficar alerta.
“Fiz exames anteriores, mas a liberação acabou parando. Agora que voltou, já marquei um novo ultrassom. Como homem trans, estou bem mais atento e cuido melhor do meu corpo do que quando eu era uma mulher cis. É de extrema importância tudo isso”, disse.
Para elxs – A Sub-LGBT/MS (Subsecretaria de Políticas Públicas para a Promoção LGBT) do Governo do Estado juntamente com representantes do Hospital de Amor, promoverão atendimentos gratuitos de saúde para as pessoas transexuais e transgêneras, isso por meio do Centro de Referência em Direitos Humanos de Prevenção e Combate à Homofobia.
“Queremos incluir essas pessoas, fazer com que se sintam confortáveis em buscar o atendimento. Reconhecemos que existe resistência, talvez até um bloqueio, mas estamos preparados para atender qualquer pessoa dentro das suas especificidades. Trabalhar amor e humanização por meio dos exames preventivos e de mamografia”, explica a enfermeira Glauciely do Nascimento Pereira, responsável pela divulgação de educação e saúde do Hospital de Amor.
Para agendamentos, basta entrar em contato no telefone (67) 3316-9183 ou pelo e-mail: centrho@segov.ms.gov.br, e ter os documentos – CPF, RG, cartão do SUS e comprovante de residência – em mãos.
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