Se liga: apesar de comum, aquela cervejinha todo dia não é saudável
Conscientização é a chave para evitar que uma "cervejinha" por dia se transforme em um problema de saúde maior
O hábito de "abrir uma cervejinha" ao final do dia para relaxar é uma prática comum na vida de muita gente. Porém, quando o consumo diário de álcool se torna uma necessidade para encerrar o dia, há um sinal de alerta que não deve ser ignorado. Em Campo Grande, a psicóloga Renata Viana, especialista em Dependência Química, alerta sobre os perigos desse comportamento e seus impactos na saúde física, mental e social.
O perigo de "normalizar" o consumo diário
"A ideia de que o consumo diário de uma cerveja é normal é um grande equívoco", afirma Renata Viana. Segundo ela, mesmo pequenas doses de álcool diárias trazem riscos significativos. “Estudos recentes divulgados pelos principais órgãos de pesquisa sobre o álcool e suas relações de consequência (ABEAD, CIDA) indicam que não existe consumo de qualquer dose ou quantidade de álcool sem prejuízo, assim como qualquer outra droga. Portanto, não é normal o consumo de álcool diário.” Além disso, ela ressalta que o álcool pode estar relacionado às doenças metabólicas e mentais, mesmo em pequenas quantidades.
Renata destaca que o consumo recorrente de álcool, seja diário ou concentrado nos finais de semana, pode resultar em sérias consequências sociais. "Situações de uso e abuso de álcool elevam diariamente as taxas de violência doméstica, acidentes de trânsito e até mesmo crimes. Precisamos pensar amplamente sobre as consequências relacionadas ao álcool e outras drogas."
Para os jovens, os danos do consumo de álcool são ainda mais alarmantes. Renata explica que “nossos jovens são filhos de uma geração que bebeu sem entender as consequências reais do consumo de álcool e o desenvolvimento cerebral. Não podemos ignorar a ciência; já sabemos que qualquer dose de uso de álcool na infância e adolescência pode trazer consequências, pois o cérebro está em desenvolvimento.” Entre os riscos estão o desenvolvimento de transtornos mentais, dificuldades ocupacionais e a propensão a comportamentos de risco, como relações sexuais sem prevenção, violência e uso de outras drogas. “Ressaltando: não existe dose segura de álcool na infância e na adolescência".
Diferença entre consumo social e padrão de abuso
Muitos acreditam que o consumo social de álcool não oferece grandes riscos, mas a psicóloga alerta para os perigos de normalizar certos comportamentos.
"O álcool é uma droga depressora do sistema nervoso central e a resposta ao uso é diferente para cada indivíduo. Algumas pessoas não precisam tomar uma quantidade alta para já apresentarem alterações de comportamento e estado de confusão mental", explica Renata.
Quando buscar ajuda
Renata ressalta a importância de estar atento aos sinais de que o consumo de álcool está afetando a qualidade de vida. “Pessoas buscam profissionais da saúde mental por outras queixas, como insônia, ansiedade, alterações de memória, falta de energia para atividades, e mudanças de humor como irritabilidade e tristeza. Durante o processo de avaliação, o psiquiatra e o psicólogo deverão entender todos os hábitos e comportamentos que podem estar relacionados a essas alterações e queixas.” Para quem já apresenta sintomas mais graves, como tolerância ao álcool, síndrome de abstinência, e prejuízos financeiros e sociais, um tratamento mais sistemático é necessário.
A psicóloga enfatiza:
“A dependência química é um transtorno mental grave. Portanto, devemos proteger nossos jovens do uso precoce do álcool e de qualquer outra droga, incluindo vias de consumo de nicotina, como cigarros eletrônicos. O álcool é uma droga lícita, de fácil acesso, e porta para outras drogas há décadas, sendo responsável direto no desenvolvimento de doenças, violência e crimes.”
Estratégias para um consumo consciente
Embora o consumo de álcool seja socialmente aceito, Renata sugere repensar o uso. “Podemos utilizar outra terminologia no lugar de ‘saudável’, pois não existe uso de álcool sem dano. O que podemos buscar é o uso esporádico, entendendo as limitações que o álcool acarreta, como alterações cognitivas e motoras, e, assim, não fazer uso em grandes quantidades para evitar intoxicação e não dirigir, mesmo após o consumo de pequenas doses".
Renata conclui: “Costumo dizer que o fato de ser comum não quer dizer que seja normal. Portanto, beber diariamente não pode ser considerado normal e muito menos seguro a curto, médio ou longo prazo".
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