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Games

Como anda o mercado de jogos eletrônicos em Campo Grande?

Edson Godoy | 09/09/2014 06:52
Loja Retro Gamers em Campo Grande.
Loja Retro Gamers em Campo Grande.

Em geral, o Brasil nunca foi um país que apoiou o mercado de Videogames. De início tínhamos a Lei de Reserva de Mercado, que proibia as importações de produtos de informática (naquela época os games eram considerados todos produtos dessa natureza). Se por um lado isso prejudicou a chegada dos consoles da época em terras brasileiras, pelo menos serviu para que parte da indústria criasse clones dos mais diversos aparelhos.

Outra coisa que sempre prejudicou o mercado nacional: os altos impostos. As cargas tributárias referentes aos games sempre foram absurdas e abusivas, pois no Brasil ainda os games ainda são tratados como “jogos de azar” (existe uma grande discussão para mudar esse pensamento e transformar a visão legal do game no Brasil para algo cultural, como é nos principais países do mundo). Diante desse dilema, as alíquotas dos impostos aplicados aos videogames são altíssimas, caracterizando-se como um dos grandes responsáveis pelos altos preços praticados nos jogos lançados aqui.

Outro grande problema nacional: a pirataria. Em determinados momentos da história, como na época do primeiro Playstation, nos anos de 1995 a 1998, o mercado nacional foi tomado por esse mal, tanto que a Sony demorou mais de uma década para entrar oficialmente no mercado de games brasileiro. Para o bem do mercado, esse é um problema que parece ter ficado no passado, graças à competente política antipirataria das empresas, que conseguiram condicionar a jogatina online com o uso de jogos originais.

E ainda temos o problema do contrabando, que prejudica sobremaneira os comerciantes locais, em especial os comerciantes do Mato Grosso do Sul, pois fazemos fronteira seca com o Paraguai, uma das principais fontes de produtos contrabandeados.

Diante de todo esse cenário desfavorável, o leitor se pergunta: como anda o mercado de games em Campo Grande/MS?

Acredite: ele está melhor do que nunca!!! Nunca tivemos em Campo Grande a quantidade de lojas especializadas que temos hoje. Dentre as principais, temos a Retro Gamers e a Abraão Games. Conversamos com os proprietários dessas lojas para poder traçar um perfil do mercado atual.

A Retro Gamers, criada em fevereiro de 2013, nasceu da paixão de seu proprietário pelos games. “A minha motivação foi em tornar o hobbie em coisa séria. Sou apaixonado por games desde criança, sempre tive os principais consoles durante a minha vida e criei o hábito diário de me informar sobre o mundo dos games. Senti necessidade de compartilhar minha paixão e conhecimento com os outros”, conta Patrick.

Na opinião dele, um dos principais fatores que prejudicam o mercado de games é a forma como as distribuidoras tratam os pequenos lojistas. “As grandes empresas compram em grande quantidade e assim conseguem preços que as lojas menores não conseguem bater. Muitas vezes temos que fazer milagre para conseguir competir no mercado”. Além disso, Patrick nos conta que até mesmo os prazos de entrega são desrespeitados em favor das grandes empresas.

Mas entre os problemas enfrentados, nenhum deles é tão implacável com o lojista do que os impostos, sejam os federais (que como dissemos anteriormente, ainda tratam os games como um jogo de azar), como os estaduais (a alíquota paga no MS é maior que em outros estados). Somam-se a isso todos os custos operacionais (alto preço dos produtos, altas taxas pagas às operadoras de cartão de crédito, etc.) e o que fica é um cenário bastante cruel com o lojista. “Muitas vezes fica muito difícil oferecer um bom desconto para o cliente na hora da compra”, lamenta Patrick.

Para driblar todos esses problemas, a Retro Gamers investe principalmente no relacionamento com o cliente. “Buscamos dar o maior apoio possível ao cliente, fornecendo todas as informações e sanando todas as dúvidas. Somos gamers como eles e isso acaba sendo um diferencial no retorno do cliente à loja”, conta Patrick. Além disso, a loja procura diversificar os produtos e serviços oferecidos: “trabalhamos com jogos e consoles usados, aceitando os mesmos como parte de pagamento em produtos novos e ainda oferecemos assistência técnica e locação. Esses diferenciais são importantíssimos para poder concorrer com o comércio eletrônico e com o chamado mercado cinza (produtos contrabandeados)”.

Patrick acredita que a cultura gamer em Campo Grande está crescendo de forma proporcional à mundial, ou seja, muito! “Hoje temos ótimas lojas na cidade, dando várias opções para o cliente encontrar o que procura e excelentes profissionais na área, sem contar o Museu do Videogame, que nasceu em Campo Grande”.

Abraão Games, outra grande loja do setor na cidade.
Abraão Games, outra grande loja do setor na cidade.

Outra grande loja na cidade é a Abraão Games, que está no mercado há mais de 13 anos. O proprietário, Abraão Rosa, diz que o motivo para investir foi um desejo pessoal. “A ideia era trabalhar com algo que eu gostasse. Inicialmente comecei apenas com a loja na internet, vendendo produtos do game de computador Diablo 2. Aos poucos fui aumentando o número de produtos e posteriormente senti necessidade de abrir uma loja física para atender o público de Campo Grande”.

Para Abraão, o mercado atualmente enfrenta dois problemas: primeiro o excesso de lucro dos fabricantes, em prejuízo de distribuidores e lojistas. “as distribuidoras acabam optando por deixar de mexer com games, pois a margem de lucro deles é muito pequena e muitas vezes o retorno não compensa todo o trabalho. Com isso elas acabam desistindo. E consequentemente o lojista também é afetado”. Abraão conta que nesse ano surgiram diversos distribuidores novos, que vendo a realidade do mercado, desistiram rapidamente. “Hoje existem no máximo seis no Brasil todo”, diz Abraão.

Outro problema enfrentado pelo mercado local: os impostos estaduais cobrados em Mato Grosso do Sul, que estão maiores do que em outros estados, pelo menos para esse tipo de produto. Isso torna o setor ainda menos competitivo por aqui.

Para superar todos esses problemas, Abraão se mantém otimista: “tem que acreditar e inovar. Começamos a investir em outras coisas ligadas aos games, como locação, assistência técnica, bichos de pelúcia, lan house, peças para computador gamer, entre outros”. Ele complementa: “Campo Grande possui uma grande comunidade gamer. A gente vê isso facilmente pela quantidade de pessoas que participam dos campeonatos e eventos dessa natureza na cidade. E os gamers cresceram e hoje possuem seu próprio dinheiro para investir nesse tipo de entretenimento”.

Não podemos esquecer também do grande impulso na cultura gamer que o Campo Grande Game Show trouxe, graças à iniciativa do criador do evento e curador do Museu do Videogame, Cleidson Lima. O evento cresceu tanto que passará também por outras cidades do país.

É muito bom ter um mercado de games fortalecido em Campo Grande. Quando lembramos que até pouco tempo atrás não havia na cidade nenhuma loja estruturada nesse ramo, deixando os gamers da cidade meio órfãos desse tipo de comércio. E hoje temos boas opções de lojas, onde além de comprar os games que tanto amamos, podemos também interagir com outros jogadores e fazer amigos. Parabéns aos empresários campo-grandenses que investem nesse mercado.

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