Parque das Nações ganha pomar de guavira, para sabor não desaparecer
Crianças que nunca experimentaram a fruta vão poder colher em 3 anos, assim como quem andar pelo Parque
Daqui a 3 anos, quem andar pelo Parque das Nações Indígenas vai comer guavira de graça. São 50 pés plantados nesta terça-feira (20), perto da pista de caminhada, e mais 20 ao redor do lago, para reforçar a mata ciliar.
Campo Grande ganha oficialmente o primeiro pomar urbano da cidade, que já tem seus pés de jaca na Afonso Pena, limoeiros espalhados pelas calçadas e muita, muita mangueira.
Desta vez, o foco é pelo futuro da guavira, para fazer a criançada experimentar um sabor bem sul-mato-grossense, mas que pode virar raridade, por conta das grandes plantações de soja e pastos abertos pelo Estado.
Antes, bastava andar de bicicleta por aí e encontrar a fruta típica do Cerrado, oficialmente considerada um dos símbolos sul-mato-grossense pela Assembleia Legislativa em 2017. Agora, é um desafio achar algo preservado, principalmente, em aldeias indígenas.
Mas a startup BR Garden, empresa criada na Universidade Católica Dom Bosco, resolveu virar o jogo. Reuniu crianças dos projetos IDE (Instituto de Desenvolvimento Evangélico) e Florestinha para fuçar na terra hoje e plantar, com apoio da Secic (Secretaria Estadual de Cidadania e Cultura) e Agraer (Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural).
“A maioria não sabe nem que gosto tem. Na minha infância, as pessoas iam muito pra mata catar guavira. Hoje essas áreas reduziram, então a ideia é resgatar essa tradição pra presentear essa geração que não sabe o que é uma guavira, ensinar eles a plantarem e colherem essa guavira”, reforça a bióloga Ariadne Barbosa Gonçalves, uma das criadoras da startup BR Garden, que faz parte da Agência de Inovação e Empreendedorismo (S-Inova) da UCDB.
O pomar do Parque das Nações Indígenas fica perto da entrada Antônio Maria Coelho. E as vantagens vão além da preservação do sabor, pode até ajudar nos negócios.
“A guavira é riquíssima em vitamina C e o sabor é único, doce e refrescante, com grande potencial de comercialização”, explica a agrônoma bióloga Ana Ajala, também integrante do projeto.
O plano da equipe era plantar no último fim de semana, mas com a chuva forte, o trabalho ficou para esta terça. Que bom, a terra estava mais fofa e fácil de plantar, justamente na época da fruta, que vai de novembro a dezembro.
Ao escolher o lugar que ganharia as árvores, um dos problemas foi enfrentar a quantidade de capivaras que vivem por ali e poderiam acabar com as mudas. Mas os responsáveis apostam que tudo vai dar certo.
“As capivaras foram desafio na prática. Mas a gente não desistiu de fazer dois símbolos do Estado conviverem juntos”, comenta Ariadne.
Depois de plantar as mudas, cada uma ganhou cerca de proteção e um palitinho de picolé com o nome da criança que plantou.
Com o tempo e o crescimento da árvore, o pequeno pedaço de madeira desaparecerá, mas a localização não deve sumir da cabeça de Gabriel dos Santos Taveira, 10 anos, que já “assinou” um dos pés da fruta. “Nunca comi, nem sei que gosto que tem”, diz o menino que só vai poder fazer a primeira colheita do pomar na adolescência, aos 13 anos.
Luiz Antônio Garcia Martins, 12 anos, faz parte do projeto Florestinha, da Polícia Militar Ambiental. Apreendeu muito sobre o meio ambiente e agora é praticamente um professor, que gosta de difundir a importância das matas ciliares, que evitam assoreamentos. “Todas as árvores são importantes, elas seguram a terra pra que não haja erosão na beira do rio, e também ajudam os animais” .
Mas sobre o sabor da guavira... “Já comi na chácara dos meus pais, mas não gosto”. Ao lado, o amigo Kaio Henrique, de 12, discorda na hora. “Nossa, eu adoro. Comi em Bonito”.