Rebanho de gado de corte encolhe em MS, mas produção de carne aumenta 9%
Pesquisador atribui crescimento da produção aos benefícios do uso da integração lavoura-pecuária
Segundo o engenheiro agrônomo Dirceu Luiz Broch, presidente da MS Integração e pesquisador, em um período de 22 anos o rebanho de gado de corte de Mato Grosso do Sul encolheu 17%, mas mesmo assim a produção de carne cresceu em 9% devido ao emprego do sistema de integração lavoura-pecuária.
A afirmação do pesquisador aconteceu durante o 6º Seminário Técnico de Integração Lavoura-Pecuária da Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados, MS), no dia 8 de agosto de 2024. Dirceu Luiz Broch, calcula que de 2010 a 2024 houve redução 21% de área de pastagens no Estado (de cerca de 22 milhões de hectares para 17 milhões). Por outro, afirma ele, o mercado fez que crescessem as áreas remanescentes de grãos, de florestas plantadas e de cana-de-açúcar.
Na palestra sobre o “Panorama da Integração Lavoura-Pecuária em MS”, Broch com dados da Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), informou que o Estado possui atualmente cerca de 3 milhões de hectares com integração lavoura-pecuária. “O Sistema ILP evoluiu muito até os dias atuais nesses 30 anos: novas variedades de soja, espécies forrageiras, mix de forrageiras, manejo do gado, genética do gado, regulamentação em sistema ILP, etc. Praticamente o sistema ILP nasceu no Centro-Oeste aqui em MS, no município de Maracaju, na propriedade de Ake B. van der Vinne e Krijn Welemaker que desejavam aumentar a palha no Sistema Plantio Direto e rotacionar culturas com a soja”, historia o pesquisador.
No período de 22 anos, o rebanho do Estado diminuiu em 17% e a produção cresceu em 9%. É uma atividade que está em todo o território de MS, mas enfrenta o problema da qualidade das pastagens. para Broch, de 30% a 40% das pastagens estão com algum grau de degradação, o que faz perder a rentabilidade e a sustentabilidade na produção.
Segundo o engenheiro agrônomo, se o produtor rural não começar a integrar de forma mais profissional vai continuar perdendo área para soja, cana-de-açúcar, eucalipto e outras atividades que são demandadas pelo mercado.
As vantagens da integração
Entre as vantagens do sistema de integração estão a estabilidade e a segurança. Em momentos de seca e instabilidade, por exemplo, o produtor de ILP encontra-se numa situação financeira melhor do que em áreas de sistema convencional. “A ILP é um sistema conservacionista: aumenta palha, aumenta a rotação de culturas, aumenta crédito de carbono, reduz a evapotranspiração do solo, entre outros pontos positivos”, pontual.
Entre os desafios para a inserção do produtor rural no ILP são a necessidade de vocação, o gosto pela atividade, tanto por parte do pecuarista quanto do agricultor; de experiência na atividade; o medo do desconhecido; o custo para o pecuarista (a exemplo de máquinas e correção de solo), o custo para o agricultor (como a montagem de cerca, compra de gado).
Na safra de 2023/24, ano muito seco, a média de produtividade da soja em Mato Grosso do Sul foi de 48,84 sc/ha. Broch relatou que, na Fazenda Cabeceira, em Maracaju (MS), a produtividade média da soja foi de 70 sc/ha, com alguns talhões chegando a 87 sc/ha, devido aos benefícios da ILP. Em relação à pecuária, o rendimento de carcaça foi de 53%, com sistema de criação/recriação/engorda (não compram animais), a venda de animais (raças Brangus e Braford) foi realizada com média de 17 meses e média de 18@ /cabeça.
Com relação à adubação, ele recomendou a aplicação de fósforo e potássio na pastagem “e não se aduba a soja”, adubando com sulfato e amônio em setembro e uréia protegida em janeiro. Um pasto se degrada cerca de 30% se não for adubado de um ano para o outro. “O pasto tem que estar rodando, recuperando ou entrando com nitrogênio para não deixar cair”, alerta.
A rentabilidade em reais por hectare (R$) do Sistema ILP na Fazenda Cabeceira em 2024 foi de R$ 2.520,00 para a soja, R$ 453,75 para o milho safrinha e R$ 297,00 para a pecuária no verão. “Mesmo com sistema tecnificado, a pecuária teve menor rentabilidade que a soja e o milho, mas foi uma integração que possibilitou a maior rentabilidade das duas culturas, porque aumentou a palhada e fez a melhoria do solo”, garantiu Dirceu Broch.
* Com informações da Embrapa Agropecuária Oeste.