Semana com arroba e custos de produção em alta e indústria ameaçando fechar
Pecuária bovina de corte e os motivos para a redução dos abates: frigoríficos querendo fechar as portas no Mato Grosso e em outras partes do País, pouca disponibilidade de pasto, a dificuldade de se conseguir grãos para terminação, inflação alta e a lentidão na recuperação econômica. Essas são as variáveis que atingem quem produz, abate, comercializa, exporta ou consome o produto brasileiro.
Pois bem, nesta terça-feira, 17 de agosto, entrevistei em meu programa no Canal do Boi, o presidente do Sindfrigo/MT (Sindicato que representa os frigoríficos do MT) Paulo Bellincanta, ele falou sobre as dificuldades enfrentadas pelos frigoríficos que não exportam no Mato Grosso e em todo Brasil. “O grau de utilização em 2020 da indústria ficou em 58%, o que exigiu adequação com redução de equipes. O dólar em R$ 5,20 faz com que as indústrias exportadoras consigam pagar mais pela arroba e mesmo com a carne mais cara no Brasil, ainda não é suficiente para cobrir os custos de obtenção da matéria-prima, o boi”, contou o representante do setor agroindustrial do estado vizinho.
Basicamente, a indústria frigorífica não-exportadora do Mato Grosso quer algum tipo de auxílio governamental. Sei que para quem não atua na cadeia produtiva da carne bovina ou é consumidor, soa estranho ler que a carne bovina ficou cara (ou valorizou) no mercado interno e, mesmo assim, a indústria que abastece o varejo brasileiro está em dificuldades.
Todavia, os custos para a produção pecuária nas fazendas aumentou de maneira exponencial, com custos elevados de toda ordem, desde a aquisição de bezerro ou gado magro, produtos de sanidade, alimentação (disparada dos preços dos grãos – o que vai ser tema de outro texto aqui no Lado Rural) os problemas climáticos que castigaram e castigam as pastagens (pasto também é uma cultura, como qualquer outra) e a indústria não-exportadora que ao reduzir sua capacidade fabril pela metade ou até 60%, tem visto suas margens serem corroídas, endividamento subindo e pouco acesso a crédito para capital de giro. Entendam: crédito tem, mas para quem exporta.
Observe as variáveis que citei acima e some aos dados IBGE, que descrevo agora.
No último dia 12, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostrou os dados de abate no segundo trimestre de 2021 em 7,07 milhões de cabeças, queda de 4,5% frente ao mesmo período do ano passado e alta de 7,7% comparado ao primeiro trimestre de 2021.
Siga comigo…
O mesmo relatório do IBGE mostra que a produção totalizou 1,87 milhão de toneladas de carcaças bovinas no segundo trimestre deste ano, queda de 1,9% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior. Na comparação com o primeiro trimestre de 2021, houve aumento de 8,6%.
Muito bem, o que temos aqui é uma clara mensagem na qual observamos a redução no número de animais abatidos no segundo trimestre de 2021 comparado ao ano passado (-4,5%) e também podemos ler que a produção de carcaças em toneladas caiu, mas caiu menos (-1,9%). Podemos concluir, apenas com análise de planilha estatística que os animais abatidos no 2º tri/21 estão mais pesados, quando comparados ao 2º tri/20 ou/e também o número de fêmeas abatidas foi reduzido. Sem mais números, o abate de fêmeas reduziu mesmo, por isso redução no número de animais que foram para o gancho e queda menor na produção de carcaças no Brasil.
E é neste aspecto que destaco o cenário que atinge a indústria frigorífica não-exportadora. Dólar alto favorece quem exporta; mercado asiático “supercomprador” também; o consumo no mercado doméstico brasileiro é de fêmeas (normalmente o preço das fêmeas é mais baixo que dos machos e a contenção de fêmeas ajuda o preço da carne subir mais no Brasil) e claro quem abate lotes de fêmeas são os não-exportadores. Com isso, a decisão de segurar as fêmeas vai garantir uma situação mais equilibrada de oferta e demanda de carne bovina dentro de dois anos. Por outro lado, atinge parte da indústria.
Claro, quando há um tipo de alerta como esse lá no Mato Grosso, onde está o maior rebanho (numericamente) do País, lembro dos problemas que já ocorreram para os pecuaristas em todos os estados em um passado distante, com atrasos em pagamentos para o produtor rural. Sinceramente, a possibilidade de recuperação judicial (hoje muito mais distante e bem mais perceptível para quem opera no mercado) é algo que assusta os credores ou possíveis credores (pecuaristas). Então é melhor estar atento aos movimentos dos operadores de mercado.
Por fim, mercado com preços firmes para arroba do boi gordo sem expectativa de grandes alterações nos próximos dias. Na próxima coluna aqui no Lado Rural, no Campo Grande News, vou falar de boi é claro, mas relacionado ao mercado caótico do milho e a falta de disponibilidade de pastagens. Até lá!
Fabiano Reis é jornalista, mestre em Produção e Gestão Agroindustrial
Facebook e Instagram: @Fabianosreis