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Meio Ambiente

Castigado sem chuvas e vítima do fogo, Pantanal agora exibe “vidas secas”

Parcelas de terra esturricada na Serra do Amolar exibem peixes e jacarés mortos em imagem de alerta à mudança climática

Izabela Sanchez | 10/08/2020 15:45
Corpo sem vida de um jacaré até fica escondido em meio a lama sem água na Serra do Amolar (Foto: Divulgação/IHP)
Corpo sem vida de um jacaré até fica escondido em meio a lama sem água na Serra do Amolar (Foto: Divulgação/IHP)

Quem conhece a diversidade do menor bioma em território, mas um dos maiores em complexidade, choca-se com imagens que só a pior seca dos últimos 22 anos foi capaz de exibir no Pantanal. Na Serra do Amolar as terras alagadas estão secas e esturricadas. O lugar onde antes haveria ao menos um pouco de água, resultado do rescaldo das cheias, exibe agora “vidas secas”.

As imagens foram feitas pelo IHP (Instituto do Homem Pantaneiro). Diretor presidente do Instituto, Angelo Rabelo aponta que mais de 50% do território do Pantanal está, hoje, seco, com destaque da para as baías pantanosas ou alagadas da Serra do Amolar.

Refúgio da maioria das espécies pela proteção dos morros, além de abrigar a subsistência de várias comunidades tradicionais, a Serra é a fronteira onde equipes tentam impedir que os incêndios tomem conta. É o que explica o diretor do IHP. Os morros da Serra do Amolar são considerados "território perdido" para o fogo se forem alvos das chamas.

Morrem, sem água, peixes, jacarés e diversos animais que dependem da umidade para existirem, conforme registram as equipes. As imagens dramáticas lembram cenário muito diverso desse bioma e trazem à memória o Polígono da Seca nordestino onde a água é quase uma lenda passada de pai para filho.

Deitados na terra recortada das baías secas do Pantanal, é impossível olhar para esses animais sem lembrar do livro mais famoso de Graciliano Ramos.

Vidas secas na terra esturricada em bacias da Serra do Amolar (Foto: Divulgação/IHP)
Vidas secas na terra esturricada em bacias da Serra do Amolar (Foto: Divulgação/IHP)

Médico veterinário e estudante de mestrado do programa de sustentabilidade e agropecuária da UCDB (Universidade Católica Dom Bosco), Diego Francis Passos Viana relata que o drama da fauna pantaneira é generalizado. Em outubro, as queimadas ocorreram em Miranda e agora, cercam toda a parte selvagem de Corumbá, Ladário e “além”, e pesquisadores apontam que o cenário não é o ciclo natural do fogo no Pantanal.

As mortes provocam quebra generalizada na cadeia alimentícia da fauna, conforme cita. Isso porque de forma indireta até a onça depende de um fruto ou semente que deixa de crescer pela mudança climática.

Uma das imagens cedidas pelo IHP com peixe morto na terra sem água do rio Paraguai (Foto: Divulgação/IHP)
Uma das imagens cedidas pelo IHP com peixe morto na terra sem água do rio Paraguai (Foto: Divulgação/IHP)

“O que está acontecendo é que desde o começo do ano a chuva não vem mais a essas áreas. A APA (Área de Proteção Ambiental) Baía Negra em Ladário, pegou fogo, várias áreas, e, diferente de Miranda, ela não se recuperou, a vegetação continua queimada, o impacto é grande”, comenta ele.

Seca - Dados do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) indicam que de janeiro de 2017 até agora, a região passa pela pior seca dos últimos 22 anos.

É o que explicou a pesquisadora do Centro e doutora em meteorologia pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Ana Paula Cunha, ao Campo Grande News. Ela monitora os períodos de seca e conforme indica em gráfico, o mês de março deste ano foi, até agora, o pior.

Conforme os gráficos enviados pela pesquisadora, o bioma está com chuva irrisória há anos e estiagem que se prolonga. O resultado tem sido as temperaturas extremas de “dois ou três graus” acima do esperado para a época. Segundo a pesquisadora do clima, toda a região centro-oeste tem sofrido com a seca prolongada.

Região seca em área que costumava ser pantanosa nas baías da Serra do Amolar (Foto: Divulgação/IHP)
Região seca em área que costumava ser pantanosa nas baías da Serra do Amolar (Foto: Divulgação/IHP)

Conforme tem mostrado o Campo Grande News, a consequência é direta no Rio Paraguai, que está com o nível mais baixo dos últimos cinco anos, segundo monitoramento da Marinha. No leito do rio, o material biológico seco tem virado, também, mais combustível para queimadas.

Imagem parece indicar que jacaré não alcançou a parte verde e morreu pela falta de água (Foto: Divulgação/IHP)
Imagem parece indicar que jacaré não alcançou a parte verde e morreu pela falta de água (Foto: Divulgação/IHP)


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