Diretrizes da Embrapa apontam meios de evitar desequilíbrio no Pantanal
Ecossistema frágil e exposto às variações climáticas requer o mínimo de intervenção
A Embrapa Pantanal elaborou no final do ano passado documento com orientações para produtores que planejem implantar pastagens exóticas no Bioma, apontando os caminhos para que não ocorra desequilíbrio ecológico.
O assunto está no centro do debate porque grandes fazendas estão buscando licenciamento ambiental para retirar pastagens nativas e vegetação e implantar forrageiras que permitam a ampliação da pecuária.
Semana passada foi apresentado em audiência pública Rima (Relatório de Impacto Ambiental) dentro de um pedido de licenciamento para inclusão de 12 mil hectares de pastagens de braquiária. No mês que vem haverá outra audiência, referente a 7,1 mil hectares e outros três estão na fila.
O documento, intitulado "Recomendações técnicas para o planejamento da introdução de forrageiras exóticas de forma sustentável no Pantanal", parte do ponto de que o Pantanal é uma área de uso restrito, diante da singularidade do bioma e requer o mínimo de intervenção, logo, para qualquer iniciativa os critérios de sustentabilidade precisam ser priorizados.
O texto aponta a tradição de 200 anos na região com gramíneas nativas. Decreto estadual que trata da proteção do Pantanal aponta áreas sensíveis, como veredas, landis e salinas.
“Em algumas regiões do Brasil como o Pantanal, onde a produção de bovinos ocorre em sistemas extensivos com base na biodiversidade, em áreas com restrições ambientais, a intensificação deve levar em consideração a capacidade de suporte do sistema”, consta em trecho do documento da Embrapa.
Mesmo com um ecossistema frágil e muito exposto às variações climáticas, produtores apostaram no aumento do ritmo de produção. A situação, conforme descrito no texto, produziu alteração de paisagens naturais com a retirada de vegetação nativa, situação que se acirrou com a seca a partir de 2019.
“Devido à fragilidade, a heterogeneidade e a dinâmica das paisagens do Pantanal, as decisões de supressão da vegetação nativa no bioma para implantação de pastagens cultivadas são complexas e de resultados incertos”, adverte o estudo.
Uma das pessoas responsáveis pelo documento, a zootecnista da Embrapa Sandra Santos, doutora em produção animal, destaca a necessidade de haver a consciência de que o Pantanal tem um limite e não é possível buscar um modelo padronizado. Não há como comparar com o planalto, menciona.
Cada propriedade deve ser analisada singularmente, explica. Uma ideia chave é a introdução diversificada, com forrageiras de diferentes espécies. O primeiro ponto é identificar onde há vedação legal para a extração de vegetação, se há corredores ecológicos a serem protegidos (Embrapa elaborou mapa), reserva legal. Identificadas áreas disponíveis, é preciso verificar se não há degradação, se comporta manejo. Sandra defende que é importante a manutenção de árvores, até mesmo para produzir sombra aos animais no campo.
Os pesquisadores da Embrapa constataram que o tipo de forrageira que se adaptou bem ao Pantanal foi a braquiária, porém, o ideal é que houvesse várias pastagens de boa adaptação, para permitir a diversidade (consórcio de espécies), o que ajuda a preservar o solo e oferta nas temporadas de seca e inundações prolongadas. “Isso de tal maneira a se formar mosaicos de campos com diferentes composições de espécies nas áreas da propriedade, com diferentes espécies predominantes, dependendo das condições locais de inundação.” O texto exalta a diversidade como um dos pilares da estabilidade e da resiliência de ecossistemas.
Por outro lado, há o alerta para as espécies não recomendadas à região: as espécies exóticas Urochloa arrecta e a Panicum repens foram introduzidas em algumas áreas úmidas do Pantanal e a constatação foi que são muito agressivas e competitivas com pastagem nativa, tendo invadido áreas destas.
Há ainda a situação a considerar que, diante do empobrecimento da fertilidade do solo, com a adoção de um sistema intensificado, não caberia a aplicação de fertilizantes ou corretivos, diante da logística no Pantanal e o solo arenoso.
Para muitos pecuaristas, a condição nativa do ecossistema é o cartão de visitas para apresentar ao mercado a carne produzida em fazendas pantaneiras. Há até uma associação, a Associação Brasileira de Pecuária Orgânica.
Produtores deste grupo e pesquisadores vão debater o tema esta tarde, durante a 15ª edição da feira Dinapec (Dinâmica Agropecuária), na unidade da Embrapa de Campo Grande, abordando a produção da carne, as pastagens nativas e o balanço de carbono.