ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram
DEZEMBRO, DOMINGO  22    CAMPO GRANDE 26º

Meio Ambiente

Enquanto Taquari gaúcho tem água demais, Taquari de MS pode secar para sempre

Rio Taquari em MS sofre com assoreamento desde a década de 60, já o gaúcho atingiu seu maior nível em 150 anos

Por Lucas Mamédio | 13/05/2024 16:17
Rio Taquari de MS à esquerda e o rio Taquari do Rio Grande do Sul à direita (Foto: João Vila/reprodução)
Rio Taquari de MS à esquerda e o rio Taquari do Rio Grande do Sul à direita (Foto: João Vila/reprodução)

A familiaridade dos sul-mato-grossenses com desastres naturais envolvendo o Taquari já é bem antiga. Tido por muitos especialistas como o maior desastre ambiental do Pantanal, o assoreamento do rio que nasce em Mato Grosso e corta o Pantanal de Mato Grosso do Sul, começou a ser registrado nos anos 60 e já foi considerado irreversível, ideia que vem mudando nos últimos anos.

A triste coincidência é que no mapa brasileiro outro Taquari causa um desastre pelo motivo oposto. Atualmente, o Brasil acompanha atônito as enchentes do rio de mesmo nome, devastando as cidades gaúchas. Neste mês, o Taquari do Rio Grande do Sul registrou a maior cheia da história em 150 anos. O nível chegou a 33,35 m e superou os recordes de 29,92 m (em 1941) e de 29,53 m (em setembro de 2023), criando imagens impactantes daquelas que ficam para história.

Voltando a Mato Grosso do Sul, nosso Taquari padece de um outro mal: o assoreamento, que é possibilidade de extinção de um rio por acúmulo de terra, lixo e matéria orgânica no fundo. Mas será que é possível traçar um paralelo entre o desastre ambiental nos dois rios taquaris?

Para o ambientalista e doutor Ecologia e Conservação pela UFMS, José Milton longo, sim, mas é preciso também se atentar às diferenças.

Semelhanças e diferenças

Segundo o especialista, os dois rios sofrem com a ação, digamos, da gravidade, por terem suas nascentes, e onde os problemas são causados, em lugares mais altos e as áreas impactadas em lugares mais baixos. Além disso, há o reflexo claro da ação humana, sendo o Rio Grande do Sul vítima de uma ação mais indireta e pulverizada, por conta do aquecimento global e Mato Grosso do Sul, sendo atingido por uma atividade mais direta, nos locais onde as consequências aparecem, neste caso o Pantanal.

Já foram realizados estudos e muitos debates para discutir se o assoreamento do Taquari é natural, ou seja, já aconteceria sem a ação humana, ou se é consequência de uma ocupação irregular.

Trecho do Taquari, que passa por processo de assoreamento (Foto: Marcos Maluf/Arquivo)
Trecho do Taquari, que passa por processo de assoreamento (Foto: Marcos Maluf/Arquivo)

“Há uma substituição do uso do solo na região da Bacia do Taquari por pastagem para agropecuária, que aumenta o nível de desmatamento. O rio naturalmente tem essa característica de levar sedimento, mas a ação humana, com certeza, acelerou isso a níveis muito mais graves. Já no Rio Grande do Sul, o que há também é a ocupação irregular da população em lugares de risco, o que maximizou o número de mortes”, explicou José Miton.

Um estudo da Associação Brasileira de Recursos Hídricos mostra a evolução nessa degradação. Em 1974, a taxa de desmate acumulado era de 5,6%. No ano 2000, já havia saltado para 62%. De lá para cá, o desmatamento continuou. De acordo com levantamento da iniciativa MapBiomas, de 2000 a 2020, a bacia do Alto Taquari perdeu 851 km2 de formações florestais (quase 15% do que existia) e 1.565 km2 de formações savânicas (quase 30%).

“Para evitar o assoreamento dos rios, é preciso preservar  as matas ciliares, que é a vegetação nativa em volta das margens. Elas contribuem para regular a vazão das águas, pois seguram o excesso do volume da chuva, atuando na retenção dos sedimentos”, diz José Milton.

Ciclo água e clima

Ainda conforme o ambientalista, existe uma relação entre o ciclo da água e do clima, que também aponta para uma ligação entre a situação dos dois rios. "Sabe o que altera o meio ambiente? São as frequentes ondas de calor, secas, inundações, incêndios florestais. Todos diminuem a oferta de água e ameaçam o suprimento de recursos hídricos, podendo desencadear em uma crise”, finaliza Milton.

Nos siga no Google Notícias