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Meio Ambiente

Mais de 80% dos anfíbios do Pantanal podem perder seus habitats até 2100

Com 99% do bioma suscetível a perder espécies de anfíbios, são necessárias mais áreas de proteção

Por Gabriela Couto | 17/01/2025 12:27
Mais de 80% dos anfíbios do Pantanal podem perder seus habitats até 2100
Exemplo de um indivíduo da espécie pantaneira Pseudis platensis (Foto: Leonardo Moreira/INPP)

Mais de 80% das espécies de anfíbios do Pantanal e da região da Bacia do Alto Paraguai correm risco de perder seus habitats naturais até o final deste século, como consequência das mudanças climáticas.

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Um estudo publicado no Journal of Applied Ecology revela que mais de 80% das espécies de anfíbios do Pantanal e da Bacia do Alto Paraguai estão em risco de perder seus habitats devido às mudanças climáticas até o fim do século, com a perda podendo chegar a 99% para espécies semiaquáticas. A ineficácia das áreas protegidas atuais, que cobrem apenas 6% da região e protegem menos de 5% da distribuição geográfica dos anfíbios, agrava o problema. A pesquisa aponta a necessidade urgente de expansão dessas áreas, especialmente nas regiões norte e oeste, para garantir a sobrevivência das espécies, alinhando-se com metas globais de conservação como a Meta 30x30.

A previsão alarmante aponta que a perda das espécies semiaquáticas poderá atingir até 99% dessa área, com a extinção local dessas espécies em grande parte da região. Esse cenário devastador, porém, é ainda mais agravado pela ineficácia das áreas protegidas atuais em mitigar o problema.

A conclusão foi revelada em um estudo conduzido por pesquisadores das universidades federais da Paraíba (UFPB), de Mato Grosso (UFMT), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em colaboração com outras instituições, e publicada na última quinta-feira (16) na revista científica Journal of Applied Ecology.

O estudo destaca que as áreas protegidas existentes no Pantanal cobrem apenas 6% da região e são responsáveis por proteger menos de 5% da distribuição geográfica dos anfíbios locais.

A pesquisa baseou-se em registros de ocorrência de espécies de anfíbios da Bacia do Alto Paraguai, dados climáticos e topográficos, modelos de distribuição de espécies e informações sobre 73 unidades de conservação na área.

Áreas protegidas - Embora as áreas protegidas desempenhem um papel essencial na conservação da biodiversidade, o estudo revela que a maioria dessas unidades é ineficaz na proteção de anfíbios.

Apenas 13,7% das APs existentes se mostraram mais eficazes que áreas escolhidas aleatoriamente na preservação de espécies, sendo que a maioria das unidades de conservação com melhor desempenho são terras indígenas.

Além disso, a pesquisa revelou que apenas 12% das áreas de proteção estão localizadas em regiões com alta diversidade de espécies. Muitas das unidades de conservação foram estabelecidas há décadas, quando as necessidades de conservação da fauna não eram devidamente consideradas.

 “As demais áreas foram escolhidas por sua beleza ou ancestralidade, sem a devida consideração pela biodiversidade que estavam protegendo”, explica Matheus Oliveira Neves, primeiro autor do estudo.

E o futuro? - Diante desse quadro preocupante, os pesquisadores apontam a necessidade urgente de ampliar as áreas de conservação no Pantanal, especialmente nas regiões norte e oeste, áreas de transição com o Cerrado brasileiro e ao sul, próximo ao Chaco paraguaio.

A expansão dessas zonas de proteção é considerada vital para garantir a sobrevivência das espécies de anfíbios semiaquáticos e, por consequência, a preservação da biodiversidade local.

Este estudo também está alinhado com as metas globais de conservação, como o Quadro Global de Biodiversidade Pós-2020, proposto pela Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), do qual o Brasil é signatário.

Uma das principais metas dessa convenção, a Meta 30×30, visa expandir as áreas protegidas de 17% para 30% da superfície terrestre, marinha e das águas interiores até 2030. Caso implementada, essa meta poderia proteger quase 50% da área de ocorrência dos anfíbios do Pantanal, representando um avanço significativo na preservação da fauna local.

“O cumprimento da Meta 30×30 seria um avanço de 10 vezes em relação à proteção atualmente oferecida pelas redes de áreas protegidas no Pantanal”, destaca Mario R. Moura, autor sênior do estudo. A ampliação das áreas protegidas pode, portanto, representar a única esperança para conter a ameaça iminente às espécies de anfíbios dessa região.

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