Onça resgatada ainda bebê volta à natureza já adolescente
Filhote foi resgatado em um canavial, em abril de 2019, tratado no Cras e será reinserido na natureza, com destino ao Pantanal
Há pouco mais um ano e quatro meses, o pequeno filhote de onça-parda cabia na palma da mão. O frágil bebê foi resgatado em meio a um canavial em Mato Grosso do Sul. Hoje, o “adolescente” com peso de 25 quilos e que se alimenta de cerca de 2 quilos de carne por dia está quase pronto a ser reintroduzido na natureza, com destino certo ao Pantanal.
A onça-parda macho foi encontrada no dia 1º de abril de 2019 no canavial localizado em Nova Andradina, distante 300 quilômetros de Campo Grande. Junto com ele, a irmã, também filhote. Naquele período, a informação da PMA (Polícia Militar Ambiental) é que a mãe possa ter fugido, acuada por cachorros.
Os animais foram levados ao Cras (Centro de Reabilitação de Animais Silvestres), em Campo Grande, onde foram colocados na maternidade, passando por exames para verificação das condições de saúde.
O médico veterinário Lucas Cazati, diz que a fêmea morreu pouco tempo depois, por complicações de pneumonia. “Ela era bebezinha ainda, já estava com quadro instalado da doença, não conseguiria suportar mais um mês”. A retirada abrupta do convívio com a mãe agravou a situação, por conta da baixa na imunidade.
A onça-parda macho sobreviveu. Depois da maternidade, o Cras iniciou trabalho para que pudesse desenvolver autonomia antes da soltura podendo se defender, buscar a fêmea e se alimentar. Nesse caso, o felino ainda precisa crescer um pouco mais antes de ser liberado. Na fase adulta, chega a comprimento total varia de 1,5 e 2,75 m e o peso de 22 kg a 70 kg.
O trabalho de reintrodução, ainda mais se tratando de filhote apartado tão precocemente da mãe, leva tempo e dedicação dos profissionais envolvidos.
Hoje a “Onça Macho” é um saudável jovem, o que seria equivalente a adolescente de 17 anos, com cerca de 25 quilos. Há 15 dias passou por exame de viabilidade espermática. “Ele é super fértil, vai somar ao nosso bioma, aumentar a prole e perpetuar a espécie”, comemora o veterinário.
Cazati explica que ele não tem nome específico. A orientação é que os felinos recebam apenas número ou, neste caso, “Onça Macho”, para que os profissionais que tratam deles não se apeguem.
Segundo o veterinário, a área exata de soltura ainda não foi definida, mas já se sabe que será no Pantanal. O Cras mantém cadastro de fazendas autorizadas e precisa do aval do proprietário para a reintrodução desses felinos. Essa fase, às vezes, esbarra na negativa do produtor rural, temeroso de aceitar futuro predador da sua criação de animais.
No Cras, outras seis onças estão no centro: dois pequenos e outros quatro adultos, que estão no centro há pelo menos mais de três anos. O destino das mais velhas ainda é incerto e discutido pelos profissionais do centro.
Adaptável - A onça-parda (puma concolor) é o segundo maior felino do Brasil e vive em ampla variedade de habitáts, desde florestas até formações de savana e aparece, eventualmente, em ambientes alterados como plantações e pastagens estando presente em todos os biomas brasileiros.
No ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o felino consta como vulnerável no status de conservação, o que não o coloca na lista de extinção, mas inspira cuidados na preservação. Sofre com o avanço da atividade humana, como construção da malha rodoviária, sendo vítima de atropelamento e alvo de caça por sua condição de predador.
A onça-parda é flexível no quesito cardápio. A alimentação é composta por uma grande diversidade de animais, incluindo desde presas grandes, como veados, até presas de pequeno porte, como roedores e até mesmo invertebrados. No Brasil a dieta é composta quase que exclusivamente de animais de pequeno a médio porte. “É animal extremamente adaptável”, disse o biólogo Gustavo Figueroa, especialista em manejo e conservação da fauna.
A reintrodução de felinos na natureza teve sucesso recente, segundo o biólogo. Em junho de 2016, o projeto Onçafári relatou a reinserção das fêmeas de onça-pintada Isa e Fera, que se perderam ainda filhotes da mãe, no Pantanal. Em 2019, por meio das câmeras, Fera foi flagrada com uma pequena oncinha, seu primeiro filhote.
A onça-parda leva vantagem nesse processo, já que a onça-pintada precisa de habitat mais natural. Por isso, não é incomum encontrá-la nos canaviais, registros recorrentes no interior dos estados de Mato Grosso do Sul e São Paulo.
De acordo com o tenente-coronel da PMA, Edmilson Queiróz, as onças-pardas procuram essas áreas por se sentirem protegidas, mas acabam sendo afugentadas por alguma interferência humana no local.
No caso dos canaviais, os funcionários das usinas são orientados a deixar os filhotes no local em que encontraram por algumas horas, pois a probabilidade da mãe voltar e resgatá-los e grande. Em abril deste ano, um filhote foi encontrado em Costa Rica. “Pessoal deixou por 24h, mas a mãe não voltou, aí a PMA foi acionada e levamos o animal ao Cras”.