Pantanal pode ter seca histórica em 2024, apontam pesquisadores
Com poucas chuvas, nível do Rio Paraguai segue abaixo da média histórica, segundo o biólogo Sérgio Barreto
O ano de 2024 pode ser um dos mais secos da história do Pantanal, é o que alerta o SGB (Serviço Geológico do Brasil). Com acumulado de chuvas abaixo do esperado para o período chuvoso, o nível do Rio Paraguai está em 1,23 metros neste domingo (14), na altura de Ladário, a 426 km da Capital. Os dados são do monitoramento feito pela Marinha Brasileira.
Desde o começo do ano, o Rio Paraguai tem apresentado uma média abaixo do esperado para a época. Na estação de Porto Murtinho, por exemplo, o rio alcançou apenas 1,67 m no dia 8 de fevereiro, muito abaixo da cota mediana de 3,3 m indicada pelo SGB.
No início deste mês, em Ladário, o nível do rio observado em 1º de abril foi de 98 cm. No mesmo dia, porém em 2023, o mesmo ponto de monitoramento indicou que o nível do Rio Paraguai estava em 2,47 m. A média indicada pelo SGB para este período é de 2,87 m.
De acordo com o biólogo do Instituto Homem Pantaneiro, Sérgio Barreto, esse baixo nível do Rio Paraguai está diretamente ligado à diminuição das chuvas na região do planalto da Bacia do Alto Paraguai e no próprio Pantanal. “O período de chuvas no Pantanal ocorre entre outubro e fevereiro, com média de 740 milímetros. Nos três primeiros meses de 2024, o número de acumulado foi de 457 milímetros”, explica.
Sérgio também destaca que é preciso considerar a complexa relação entre a escassez de chuvas e os desafios ambientais enfrentados pelos rios que abastecem o Pantanal. “Temos que entender que os principais rios que abastecem o Pantanal, que estão localizados nas áreas de planalto, estão passando por problemas ambientais nas nascentes, tanto com desmatamento, processos erosivos e de assoreamento. Ao longo de seus trechos também encontramos esses problemas. Aí juntando esse problemas ambientais com a falta de chuva, gera essa preocupação que temos hoje”.
Além da escassez de chuvas, o biólogo do IHP destaca que a possível seca severa traz à tona os problemas com incêndios.“O que mais nos preocupa mesmo com essa baixa e essa possível seca severa, são as questões dos incêndios. Todos esses indícios deixam a gente bem preocupado em relação aos incêndios no Pantanal, principalmente na região da Serra do Amolar. Então, nossas equipes já estão todas a postos, fazendo todo o trabalho preventivo, principalmente a nossa brigada alto Pantanal”.
Poucas chuvas - O pesquisador em geociências do SGB, Marcus Suassuna, indicou que se o volume de chuvas permanecer abaixo da média entre março e setembro, o cenário poderá ser mais severo do que o observado em 2020, quando o Pantanal enfrentou uma seca extrema. "Se as chuvas permanecerem abaixo da média, poderemos enfrentar uma situação ainda mais grave, semelhante aos anos de 2021, 1971 e 1964 - considerados os mais secos da história".
Por outro lado, o biólogo Sérgio Barreto, em uma visão mais otimista, aponta que o Pantanal tem recebido algumas chuvas pontuais nas últimas semanas. “O ciclo de grande chuva já passou, mas isso não significa que ainda não teremos chuvas. Ainda estamos tendo grandes quantidades de chuvas aqui na região do Pantanal. Elas estão pontuais, mas tivemos uma melhora muito grande nessa quantidade de chuva na região”.
No entanto, o biólogo do IHP destaca a dificuldade em fazer prognósticos precisos, uma vez que as mudanças climáticas têm alterado drasticamente o comportamento hídrico da região.
“Antigamente, tínhamos um pulso hídrico muito bem normalizado. Sabíamos certinho quanto seriam os períodos de cheia e os períodos de seca no Pantanal. Porém, devido às alterações climáticas, esses períodos estão alterados, então precisamos ter cautela ao prever. Ainda não é possível afirmar se vamos ter uma seca pior do que a de 1964. Essas mudanças podem iniciar um período chuvoso agora, quando ninguém estava esperando, e isso acabaria enchendo o Pantanal. Seria um sonho para todos", pontua Sérgio.
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