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Meio Ambiente

Para continuar competitiva, indústria de MS precisa pensar na sustentabilidade

Pesquisas com biomassa são essenciais nesse processo ao criarem produtos que reduzem emissão de gás carbônico

Por Lucia Morel | 30/09/2023 09:18
Biomassas de diversos materiais diferentes prontas para análise. (Foto: Lucia Morel)
Biomassas de diversos materiais diferentes prontas para análise. (Foto: Lucia Morel)

Mato Grosso do Sul é um dos principais estados exportadores e se a gente quer atingir o mercado europeu, o mercado americano, o mercado asiático, a gente precisa, a nossa indústria precisa pensar na sustentabilidade, porque senão nem vai competir com eles. Isso é uma imposição de mercado”.

A sentença não é de um economista ou de empresário do setor industrial, mas do pesquisador em descarbonização, Willian Pereira Gomes, do ISI Biomassa (Instituto Senai de Inovação em Biomassa), localizado em Três Lagoas.

A afirmação decorre de acordo firmado na COP 26, Conferência do Clima da ONU (Organização das Nações Unidas), ocorrida em novembro de 2021, quando 68 países, entre eles o Brasil, se comprometeram a reduzir em 50% as emissões de poluentes, em especial carbono, até 2030, e zerar as emissões até 2050.

E claro que isso envolve não apenas o poder público, mas as indústrias e também Mato Grosso do Sul. Tanto que o Governo do Estado, junto com o setor privado e universidades, tem encabeçado e sendo parceiro em ações que visam o chamado carbono neutro, seja em fazendas, em unidades industriais ou na rotina do cidadão comum.

Para Pereira Gomes, entretanto, são as indústrias o foco principal, porque são os maiores emissores de dióxido de carbono, o CO2, principal causador do efeito estufa e do aquecimento global. “A indústria sabe que precisa se adequar e para isso, tem que correr contra o tempo. 2050 está aí e precisamos criar projetos para reduzir essa emissão e isso leva tempo, em média de três anos. Então, para ter uma tecnologia na escala industrial, 10 anos, por exemplo, já está no gargalo”.

E é justamente para suprir essa “fenda” entre as indústrias e as soluções que vão descarbonizar os processos industriais que o ISI Biomassa trabalha, aliando as ajudas ao meio ambiente ao trabalho industrial. “A gente faz o meio de campo que é a ciência da academia com aplicação já na indústria. Tanto que, por exemplo, 95% dos nossos projetos são com indústria”, declarou Willian.

Madeiras de vários tipos de árvore para análise. (Foto: Lucia Morel)
Madeiras de vários tipos de árvore para análise. (Foto: Lucia Morel)

Projetos – Entre esses projetos há dois que aliam a indústria do setor sucroenergético e da celulose, Governo de MS e o ISI Biomassa. Num deles, a iniciativa é realizar um inventário de emissões de gases de efeito estufa nas usinas de álcool de Mato Grosso do Sul. Ao final, haverá um mapeamento dos principais gases gerados e suas respectivas quantidades.

Conforme dados da Fundect (Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de MS), responsável por viabilizar os projetos, o mapeamento vai permitir que os gestores proponham medidas mitigatórias para o setor.

Outro é em parceria com indústria de celulose. Nele, a pesquisa é para produzir combustível limpo tanto em estado sólido quando líquido. “Esse biocombustível sólido e líquido é para gerar energia elétrica dentro da fábrica de celulose e usa a biomassa produzida lá, que são os resíduos do eucalipto”, explicou outra pesquisadora ouvida pela reportagem, Vivian Vazquez Thyssen.

Segundo ela, o papel desse biocombustível sólido líquido é substituir a energia elétrica ou mesmo a termelétrica nas máquinas e demais usos dentro da fábrica de papel. “Hoje, se usa muito a hidrelétrica, mas quando a hidrelétrica não é suficiente, se utiliza a termoquímica, por exemplo. Então assim, eu queimo um carvão mineral, ou outro combustível que vem do petróleo para gerar energia. Com o projeto, usamos a biomassa para gerar energia”, diz.

Infinitos usos – A biomassa é sempre um resíduo de algum processo, como o bagaço de cana depois de fazer a garapa, por exemplo, ou as cascas de banana, depois do consumo da fruta. Em casa, a geração dessas biomassas – que vão para o lixo – é pequena, mas na indústria, é gigantesca, chegando às toneladas. Saber o que fazer com isso que é necessário para reduzir o impacto no meio ambiente e a saída principal é a geração de energia através de produtos ou combustíveis com baixa ou mesmo zero emissão de gás carbônico.

Madeiras, lodo industrial e de estações de tratamento de esgoto, resíduos de granjas ou da criação de porcos e do confinamento de gado, casca de arroz, e muito mais são biomassas que podem ser utilizadas para a criação de novos produtos e energia. A transformação correta dessa biomassa permite um novo item que será sustentável, protetor do meio ambiente e vantajoso economicamente.

Processo de transformação da biomassa. (Foto: Reprodução)
Processo de transformação da biomassa. (Foto: Reprodução)

Nessa linha, outro projeto interessante em andamento é da criação de um biocombustível para ser usado em carros comuns, no dia a dia, contratado por uma indústria de óleo e gás. Vivian explica que nesse caso o uso não é de biomassa, mas se refere a uma transformação eletroquímica do gás carbônico e do metano, que é outro gás altamente poluente. “A gente pega uma célula eletrolítica, coloca CO2 e metano e vai sair o chamado gás de síntese, e você faz qualquer coisa a partir do gás de síntese”.

De plástico a combustível, o gás de síntese em estudo por essa indústria de óleo e gás através do ISI Biomassa visa criar um combustível limpo que ainda não foi definido. “A ideia é tirar esse metano e esse CO2 e produzir esse gás de síntese e esse gás de síntese gerar algum combustível renovável”, esclarece. Por fim, Thyssen comenta que o produto final dessa pesquisa vai poder ser usado nos veículos comuns.

Atualmente, o ISI Biomassa tem pelo menos 70 projetos em andamento e mais de R$ 50 milhões investidos em pesquisa em parceria com 60 empresas ou universidades e governos.

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