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Meio Ambiente

Parceria de MS e Reino Unido estudará os efeitos dos agrotóxicos no Pantanal

Parceria com Universidade de Nottingham vai possibilitar entender de que forma agroquímicos afetam bioma

Izabela Sanchez | 18/08/2019 10:33
Vista aérea da bacia do Paraguai (Foto: Divulgação/Imasul)
Vista aérea da bacia do Paraguai (Foto: Divulgação/Imasul)

A maior planície inundável do planeta, bioma que abrange 2% do território brasileiro, o Pantanal sul-mato-grossense, está na mira, a partir de agora, de um projeto de pesquisa que vai buscar entender de que diferentes formas os agrotóxicos atingem a biodiversidade. Para isso, formou-se, no Estado, uma espécie de consórcio de pesquisa, unindo cientistas de diversas instituições que foram buscar no Reino Unido a parceria necessária para colocar o projeto em prática.

Isso porque ao menos dois pesquisadores da Universidade de Nottingham, na cidade homônima da Inglaterra, já estudavam os efeitos dos agrotóxicos em países do continente africano e do Reino Unido. Lisa Yon e Matthew Johnson representam a universidade inglesa, que é uma das financiadoras do projeto.

O organizador desse primeiro encontro foi o professor Fábio Roque, coordenador do Programa de Pós-graduação em Ecologia e Conservação da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), à frente do projeto. Além de vários pesquisadores da UFMS, participam cientistas da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados), Embrapa Pantanal, WWF e Fundação Neotropica.

O projeto vai percorrer, por ao menos um ano, quatro municípios do estado, abrangendo toda a bacia do Alto Paraguai, o coração do Pantanal. Bonito, Bodoquena, Miranda e Corumbá fazem parte do cenário que vai receber pesquisadores de áreas que vão desde a biologia até a agronomia. Fazem parte do projeto especialistas responsáveis por realizarem estudos em diferentes áreas de conhecimento, que vão desde estudo no DNA até o efeito em comunidades.

Pesquisadores de diferentes instituições unidos pelo projeto (Foto: Divulgação/UFGD)
Pesquisadores de diferentes instituições unidos pelo projeto (Foto: Divulgação/UFGD)

Biólogo, pós-doutorando em Biodiversidade e Meio Ambiente e professor da UFGD, Bruno do Amaral Crispim é um dos pesquisadores envolvidos no projeto. O professor coordena, junto com a professora Alexeia Barufatti, o laboratório de Ecotoxicologia e Genotoxicidade. No local, são realizados estudos sobre seguridade ambiental, tanto de produtos químicos, incluindo novos produtos sintetizados, como amostras ambientais. O objetivo é entender os efeitos em organismos como algas, microcrustáceos e peixes.

É a primeira vez que Bruno vai estudar a Bacia do Alto Paraguai, já que antes, as pesquisas do professor eram voltadas para os rios Dourados e Brilhante, na região sul. “A gente sabe que qualquer material, até mesmo um remédio, em concentrações não seguras podem causar danos ao ambiente ou até mesmo seres humanos. Sabemos que estamos numa região basicamente agrícola que utiliza bastante esses produtos”, afirma.

“Não dá para parar de utilizar, o Brasil e Mato Grosso do Sul precisam produzir alimentos, é uma questão econômica, muitas pessoas sobrevivem disso, mas precisamos realizar estudos para utilizar agrotóxicos de maneira consciente. Eles podem causar alterações se utilizados de maneira inadequada”, complementa.

Bruno explica que suas pesquisas são voltadas aos recursos hídricos por alimentarem toda uma cadeia de organismos e ambientes, ou seja, seres vivos, plantações e meio ambiente, de forma geral, sobrevivem a partir da água.

Após a primeira reunião do grupo nos dias 12 e 13 de agosto no Inbio (Instituto de Biociências) da UFMS, os pesquisadores Lisa Yon e Matthew Johnson, da Universidade de Nottingham, já foram visitar algumas das localidades que serão estudadas.

“Estamos olhando para essa questão dos contaminantes e seus impactos em todos os diferentes aspectos da vida selvagem e da biodiversidade, problemas de conservação, saúde humana e animal. O Brasil é uma área maravilhosa para conservação e biodiversidade e essa parece ser uma questão muito importante para explorar”, comentou Lisa.

Região da Serra do Amolar em Corumbá (Foto: Divulgação)
Região da Serra do Amolar em Corumbá (Foto: Divulgação)

Um bioma peculiar – Bruno relata que o Pantanal é peculiar por suas características e é por isso que tantos pesquisadores de diferentes áreas são necessários para colocar o projeto em prática. “Não compreende somente o Pantanal, mas toda a bacia do alto Paraguai e devido a essa peculiaridade, os estudos que estamos iniciando não são rápidos”, disse.

“O pantanal não é igual ao rio Dourados, por exemplo, com começo meio e fim. É preciso detectar essas possíveis contaminações que podem causar alterações nos organismos, não somente animais, mas também das pessoas que vivem ali. Essas comunidades locais tem a produção agrícola como subsistência, necessitam plantar para poder se sustentar”, conta ele.

Segundo o professor, o projeto já está em contato com comunidades locais para que além dos estudos, sejam encontradas formas sustentáveis de continuar produzindo. “Mostrar que se eles não realizarem o manejo de maneira correta, estão afetando não só os organismos, mas todo o ambiente”, enfatiza.

Produtos – Ensaios toxicológicos, análises de materiais biológicos, incluindo o DNA de organismos, são apenas parte das pesquisas a serem realizadas ao longo do projeto. “Tem um projeto aprovado pela Universidade de Nottingham, a princípio para um ano, mas já estamos inscrevendo um novo projeto”, comentou.

Os pesquisadores, explicou Bruno, já realizaram uma busca sistematizada e têm como padrão 47 tipos de agrotóxicos que são utilizados em culturas tradicionais na região, como o milho e a soja. “Já temos uma lista de todos os utilizados na região e é possível identificar em mínimas concentrações”, esclareceu.

“A ideia é que esses pesquisadores da União Europeia que estão no Pantanal hoje, em Bonito, Miranda e Bodoquena, verifiquem quais são os melhore pontos amostrais e daqui um ano já teremos resultados preliminares das análises químicas e biológicas. No próximo ano nós iremos para a Universidade de Nottingham para fazer uma nova conversa e expor os resultados”, contou.

Campus da Universidade de Nottingham na Inglaterra (Foto: Divulgação)
Campus da Universidade de Nottingham na Inglaterra (Foto: Divulgação)

Tema polêmico – A presença cada vez mais constante de agrotóxicos em território brasileiro divide opiniões e é um tema espinhoso no meio político. Diversas pesquisas apontam o perigo da utilização em larga escala e muitos dos produtos já são proibidos em outros países. Em poucos meses do governo de Jair Bolsonaro (PSL), a média mensal de liberação de agrotóxicos já é 3 vezes maior do que a de 2009 a 2015, conforme levantamento da Revista Piauí.

Já são quase 300 produtos liberados entre janeiro e julho deste ano, o que tem chamado a atenção de autoridades e cientistas no mundo todo, de olho na questão ambiental pela relevância do Brasil nesse tema. O título de “maior consumidor de agrotóxicos do mundo” não é consenso entre pesquisadores, mas levantamento da Piauí indica, por exemplo, que em média, o Brasil importa por ano 363 mil toneladas de agrotóxicos – o mesmo peso do edifício Empire State Building em Nova York (EUA).

O projeto “Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil”, da pesquisadora da USP (Universidade de São Paulo) Larissa Mies Bombardi, também mostrou que Mato Grosso do Sul teve 373 casos de contaminação por agrotóxicos entre 2007 e 2013.

Universidade e sociedade - O professor faz parte da Frente Parlamentar de Recursos Hídricos da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul. Uma forma, avalia, de aproximar a Universidade e sociedade.

“Nós, como universidade, vamos estar lá para defender a causa e verificar se, realmente, fizeram estudos necessários para a Universidade interferir nas tomadas de decisões junto ao legislativo. Às vezes a comunidade não tem uma ideia tão clara da função da Universidade e o quanto é importante a realização das nossas pesquisas. Estamos tentando nos envolver mais. É preciso saber o quão seguro [agrotóxicos] para o meio ambiente e para a saúde humana”, conclui.

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