Reutilização de água da chuva transformou comunidade e manteve horta “verdinha”
Depois de viverem anos sem saneamento básico, famílias do Bom Retiro tem até horta com água reutilizada
O projeto Agricultura Familiar foi criado há cerca de quatro anos na Região da Vila Nasser. Nele, um lago é usado para captar a água da chuva faz com que as famílias que vivem na Comunidade Bom Retiro economizem na hora de regar as verduras que dão cor e vida na horta comunitária.
As famílias que vivem na comunidade são, hoje em dia, as que foram retiradas da antiga favela “Cidade de Deus”. Os moradores foram contemplados com as casinhas no ano de 2016. Rogério Carvalho do Carmo, de 35 anos, é líder comunitário e um dos idealizadores do projeto de criação da horta.
“Quando nós chegamos aqui era só mato, a gente queria uma escola onde é a horta, mas disseram que não tinha recurso, então comecei a pensar em algo que fosse bom para toda a comunidade”, relembrou Rogério.
O líder comunitário conta que, assim que a horta começou a ganhar vida, eles tiveram um prejuízo de R$800. “A gente molhou com a mangueira, aí quando a conta de água chegou foi um susto, tive que parcelar em 24 vezes para conseguir pagar”, contou.
Para economizar a água que vinha da rede de esgoto, os moradores criaram um lago no espaço onde fica a horta, assim eles conseguem captar água da chuva e com o auxílio de uma bomba fazem a oxigenação da água do lago, pois há criação de peixe. Segundo Rogério, as fezes dos peixes servem como adubo para as plantas.
A bomba que está no lago fica em contato direto com a caixa d'água para acontecer a oxigenação da represa, é esse trabalho que faz com que a água não fique parada e vire criadouro de mosquito da dengue, ou que traga mau cheiro para a comunidade.
A horta serve para abastecer a mesa das famílias que moram na comunidade, para vender e gerar renda para eles, e todas as quartas eles fazem uma janta comunitária com tudo que produzem na horta. É uma forma de agradecer por tudo que eles conseguiram arrecadar.
Saneamento nas Famílias
Todas as famílias que moram hoje na comunidade foram retiradas da favela que ficava na região sul da Capital, próxima ao lixão. Dona Terezinha de Araújo, de 77 anos, é aposentada e relembra do tempo que morou na favela. “Lá não tinha água igual a gente tem aqui agora, era encanamento clandestino, vários canos emendados para levar às vezes só uns pingos de água para os barracos. Sem saber de onde vinha a água eu acabei tendo hepatite, vivia doente por causa da água podre que chegava no barraco”, relembra a aposentada.
Com sorriso no rosto a idosa conta como é gratificante poder acordar cedo e tomar um banho com a água limpinha, “depois do banho eu venho molhar minhas plantas, ter água assim, vindo da rede de esgoto, água tratada bem limpinha, chega a ser um sonho”, finaliza Terezinha.
Salete é uma das moradoras que vive bem em frente à horta da comunidade e viveu três anos na favela, ela conta que ao acordar e ver a horta sendo irrigada e tudo bem “verdinho” é como se fosse um sonho.
“Eu vivi anos na Cidade de Deus, a gente vivia com dor de barriga e vomitando, apesar de saber que isso acontecia por conta da água suja que vinha da ligação irregular que tinha nos barracos, nós não podíamos fazer muito coisa, ou era isso ou ficava sem água", conta a dona de casa.
“Assim que a gente chegou aqui nas casinhas, a primeira coisa que eu fui fazer foi lavar roupa e limpar a casa, fazia anos que eu não sabia o que era ligar uma torneira e ter água limpinha saindo dela, pode parecer bobo, mas para quem viveu anos sem saneamento básico, isso aqui é o paraíso", ressalta.
O líder comunitário Rogério ressalta que a vida deles melhorou bastante depois que começaram a morar em casa com saneamento básico, rede de esgoto, tudo certinho. “As pessoas têm que entender que o saneamento básico além de trazer água limpa e tratada para nós, ele traz um comprovante de residência e isso não tem preço”, finaliza o morador e líder.