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Política

Bernal repete ações para a cidade e ainda trabalha com equipe incompleta

Antonio Marques e Edivaldo Bitencourt | 27/09/2015 09:57
Alcides Bernal retornou ao cargo de prefeito no dia 27 de agosto passado, por ordem judicial (Foto: Arquivo)
Alcides Bernal retornou ao cargo de prefeito no dia 27 de agosto passado, por ordem judicial (Foto: Arquivo)

Neste domingo completa um mês que o prefeito Alcides Bernal (PP) voltou à prefeitura de Campo Grande, depois de 17 meses fora do mandato por ter sido cassado por 26 dos 29 vereadores da Câmara Municipal. Neste período, ele disse que encontrou o município destruído, com um déficit de R$ 284 milhões, mas nem completou seu secretariado.

Em 30 dias, o prefeito conversou muito e declarou que seu mandato vai ser de muito diálogo. Na Câmara Municipal teve vereador que chegou a dizer que Benal já visitou a Casa mais vezes que durante a primeira parte de sua gestão, em que foi prefeito por 15 meses. Porém, ainda não conseguiu definir um líder no parlamento e ainda perdeu três vereadores da base aliada.

Para o vereador Chiquinho Teles (PSD), o fato de Bernal estar mais comedido com as palavras já é um bom sinal de sua nova gestão, mas para ele, o prefeito deve descentralizar sua administração, oferecer mais autonomia aos secretários, especialmente ao titular da secretaria de Governo Paulo Pedra. “Se ele (Bernal) conseguir descentralizar as decisões, sua gestão vai fluir melhor, senão corre o risco de não avançar”, comentou.

Para o cientista político Eron Brum, até o momento, o prefeito Alcides Bernal está repetindo os mesmos erros de quando assumiu a prefeitura pela primeira vez. Rompeu os principais contratos firmados pelo prefeito anterior e anunciou uma serie de medidas a serem tomadas para apurar possíveis irregularidades e parou o município.

Erom Brum criticou também o fato de o substituto de Bernal, o vice Gilmar Olarte, ter assumido com o mesmo discurso e feito a mesma coisa, ou seja a cidade estaria paralisada e não avança. “Um bom administrador não age desse forma. Ao mesmo tempo que toca a administração, ele encaminha as irregularidades aos órgãos responsáveis para apuração, mas não deixa a cidade ficar parada”, explica ele, acrescentando, “imagina Campo Grande paralisar três vezes em menos de quatro anos.”

Em um mês, Bernal já teria visitado à Câmara de Vereadores mais vezes do que em sua primeira parte da gestão (Foto: Marcos Ermínio)
Em um mês, Bernal já teria visitado à Câmara de Vereadores mais vezes do que em sua primeira parte da gestão (Foto: Marcos Ermínio)

Conversa - No diálogo, Bernal conseguiu acabar com a greve dos médicos e garantiu aos professores que vai cumprir a lei municipal 5.411/2014, principal reivindicação da greve histórica da categoria na Capital, porém poderá pagar o reajuste do piso salarial de acordo com a disponibilidade de verba da prefeitura.

O presidente do Sinmed/MS (Sindicato dos Médicos de Mato Grosso do Sul), Valdir Shigueiro Siroma, elogiou a mudança na administração municipal. “A primeira coisa importante do gestor é recuperar a credibilidade junto aos colaboradores, que o anterior não tinha”, afirmou.

Já o presidente da ACP (Sindicato Campo-Grandense dos Profissionais da Educação Pública) Geraldo Alves Gonçalves, disse que ainda está cedo para avaliar a nova gestão de Bernal, mas espera que o prefeito possa fazer um bom trabalho. “Todo agente público tem a responsabilidade de zelar pelo serviço público e quando esse serviço vai bem, a sociedade é beneficiada”, enfatizou.

Se por um lado, Bernal conseguiu apoio dessas categorias, que entenderam a situação precária das contas públicas do município, também enfrentou alguns problemas graves, como a falta de merenda na Reme (Rede Municipal de Educação) e uma greve de 10 dias dos trabalhadores da coleta de lixo, que deixou Campo Grande na sujeira.

O prefeito colocou a mão no lixo literalmente durante ação do mutirão para limpar a região central da Capital (Foto: Marcos Ermínio)
O prefeito colocou a mão no lixo literalmente durante ação do mutirão para limpar a região central da Capital (Foto: Marcos Ermínio)

Lixo - Com a empresa responsável pela concessão da limpeza urbana e coleta de lixo na Capital não teve conversa. Os donos da CG Solurb, primeiro, deixaram de pagar o vale alimentação aos trabalhadores, que ameaçaram paralisar a coleta. Depois disso, a empresa deixou de pagar o salário dos funcionários, alegando que não recebia repasse da prefeitura há três meses.

Sem receber seus vencimentos, os coletores de lixo pararam e Campo Grande foi tomada pelo mau cheiro e montanhas de resíduos nas calçadas. Sem diálogo com a empresa, investigada nas operações Coffee Break e Lama Asfáltica por envolvimento em casos de corrupção, e o sindicato, a prefeitura precisou recorrer à justiça para por fim à paralisação. Porém, antes, o Executivo depositou o valor dos vencimentos dos trabalhadores em juízo.

A greve dos coletores obrigou o prefeito a pegar no lixo literalmente, quando foi acompanhar a força tarefa formada por funcionários da Seintrha (Secretaria Municipal de Infraestrutura, Transporte e Habitação) e voluntários, com apoio de empresários que doaram caminhões e máquinas, para fazer a coleta emergencial do lixo na região central da Capital.

A paralisação dos coletores de lixo serviu apenas para uma coisa, a valorização da categoria. A população campo-grandense percebeu a importância dos garis para cidade. Quando retornaram ao trabalho foram aplaudidos e festejados pela população nas ruas. Teve gente que chegou a ajoelhar ao ver o caminhão de lixo passando na rua, como o consultor de vendas Wesley Henrique do Nascimento, de 21 anos, que mora no bairro Universitário II, na região sul da Capital.

Foi o primeiro desgaste da nova administração de Alcides Bernal nestes 30 dias, que chegou a refletir na Câmara Municipal onde foi cobrado até pelo aliado e ex-líder da primeira parte da gestão, vereador Marcos Alex (PT), que pediu “atitude” para o prefeito tomar uma decisão definitiva em relação a CG Solurb, como, por exemplo, a recisão contratual e intervenção na empresa.

Bernal conseguiu a doação de 180 mil quilos de feijão da Conab para a merenda da rede municipal (Foto: Fernando Antunes)
Bernal conseguiu a doação de 180 mil quilos de feijão da Conab para a merenda da rede municipal (Foto: Fernando Antunes)

Merenda - Outro desgaste neste um mês foi a falta de merenda nas escolas municipais e nos Ceinf’s (Centro de Educação Infantil), que trouxe prejuízo para quem menos poderia ser atingido pelo caos instalado em Campo Grande neste ano, as crianças.

Depois da descoberta de mais de meia tonelada de carne estragada, que deveria ter sido distribuída na rede municipal de ensino pela gestão anterior, Bernal também descobriu que não havia mais alimentos para a merenda escolar. Com os recursos minguados, novamente, por meio da conversa, o prefeito conseguiu uma doação de 180 toneladas de feijão da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), do governo federal.

Na última quarta-feira chegou a primeira carreta com 20,5 toneladas do produto na Suali (Superintendência de Alimentação) da Semed (Secretaria Municipal de Educação), que serão distribuídas na Reme. A cada dois dias vai chegar uma carreta. Os 180 mil quilos de feijão são suficientes para abastecer a rede municipal durante um ano.

Porém, ainda é necessário suprir o estoque de outros alimentos, como arroz, macarrão, óleo, temperos, carne, leite, bolacha, dentre outros para suprir a alimentação na merenda escolar. Segundo o prefeito, o problema já teria sido resolvido nesta semana.

Secretariado – A demora para a conclusão do secretariado demonstrou que o prefeito Alcides Bernal não esperava voltar à administração municipal, pois até o momento ele ainda não nomeou o Chefe do Gabinete, os titulares da Semju (Secretaria Municipal da Juventude) e da SEMMU (Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres), além dos diretores da Funesp (Fundação Municipal de Esporte) e do IMTI (Instituto Municipal de Tecnologia da Informação).

Ao mesmo tempo, Bernal recebeu críticas dos vereadores por ter nomeados secretários interinos em pastas importantes, como na Infraestrutura, Assistência Social, Educação e Desenvolvimento Econômico. O prefeito alega buscar pessoas com capacidade técnica e respaldo político para esses cargos, para que possam desenvolver um trabalho de qualidade e atender as expectativas da população.

Em relação aos secretários interinos, Chiquinho Teles disse que ainda não seria possível avaliar a administração, mas só pelo fato do prefeito ter nomeado os primeiros já era algo a destacar. “Não posso avaliar o trabalho, ele não resolveu os problemas que a cidade está passando, reajuste dos professores, falta de merenda, a coleta do lixo”, opinou o parlamentar, complementando que Bernal continua com crédito com a população e que os vereadores não serão empecilho a sua administração.

Para Teles, se o prefeito der mais autonomia a seus secretários, manter um bom relacionamento com a Câmara Municipal, ele vai conseguir tirar Campo Grande da crise financeira, considerando que a cidade sempre arrecadou bem. “Penso que dá tempo de fazer boa administração. Só depende dele”, ressaltou.

Bernal visitou as unidades de saúde para agradecer aos médicos pelo fim da greve (Foto: Marcos Ermínio)
Bernal visitou as unidades de saúde para agradecer aos médicos pelo fim da greve (Foto: Marcos Ermínio)

Médicos - O presidente do Sindicato dos Médicos, Valdir Siroma, destacou também como positivo a mudança na forma de pagamento dos salários dos servidores, sem deixar os que ganham mais para receber por último, como aconteceu em agosto, quando Gilmar Olarte pagou os salários escalonados, deixando os médicos para depois do dia 20.

No mês de setembro, Bernal mudou a maneira, pagando parcelado para todos os servidores, de forma que ninguém ficasse sem dinheiro no dia quinto dia útil e nos demais dias das parcelas. “O pagamento linear a todos foi justo e não prejudicou quem trabalha mais, diferente do que aconteceu no mês anterior”, comentou, destacando que no dia da segunda parcela, a prefeitura quitou todo o vencimento.

Valdir Siroma disse que a secretaria de Saúde ainda não está conseguindo fechar as escalas de plantões, mas ressaltou que, em contrapartida, nenhuma unidade de saúde ficou sem médico. Segundo ele, que prejudica a normalidade nas escalas é a falta de infraestrutura, condições de trabalho e segurança e a baixa remuneração dos profissionais.

O presidente do Sinmed, considera que está havendo esforço da secretaria, mas que vai levar um tempo. Porém, ele lembra que nas conversas iniciais com os médicos, Bernal teria garantido a eles que a saúde é uma prioridade na sua gestão.

Conforme Siroma, o próximo passo do Sindicato é discutir o reajuste da data base que está pendente. “Demos um fôlego ao prefeito por estar assumindo agora”, declarou ele, referindo-se ao fato de Bernal assumir a prefeitura em momento de crise financeira.

Segundo Valdir Siroma, o sindicato sempre teve boa relação com os secretários de saúde, porém na gestão anterior “não tinha comando. Agora conversamos e o secretário já busca os encaminhamentos e toma as decisões para resolver os problemas.”

Depois de mais de 75 dias de paralisação, os professores voltaram às salas de aula (Foto: Fernando Antunes)
Depois de mais de 75 dias de paralisação, os professores voltaram às salas de aula (Foto: Fernando Antunes)

Professores - Para o professor Geraldo Alves, a demora do prefeito para escolher a secretária de educação, definida no último dia 18, atrasou o debate sobre a reposição das aulas por conta do longo período da greve dos professores. Ele disse que a primeira reunião para discutir o assunto já foi marcada para o próximo dia 29, com a titular interina da pasta, Leila Machado.

Sobre a questão do cumprimento da lei 5.411, o presidente da ACP disse que precisa aguardar o julgamento da ação no TJ/MS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul), que foi iniciado no dia 9 passado mas, com o pedido de vistas de um desembargador, ficou marcado a sessão para o dia 7 próximo. “Somente depois disso vamos poder sentar com o prefeito para discutir a forma de pagamento do reajuste”, explicou o professor Geraldo, lembrando que já teve duas reuniões com Bernal, mas sem a conclusão do julgamento nada pode ser negociado.

Sem querer questionar a escolha do prefeito para a pasta da Educação, professor Geraldo Alves disse que o responsável pela secretaria deve ser alguém que pensa a educação e deve saber o que vai fazer para melhorar a qualidade do ensino.

O parcelamento dos salários foi criticado pelo presidente da ACP, considerando que a maior parte do recurso para pagamento dos professores, cerca de R$ 27 milhões, é repassado pelo governo federal por meio do Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização dos Profissionais da Educação). “A prefeitura deve usar o valor total do Fundo para pagamento dos salários dos professores”, defendeu Geraldo Alves, e se não tiver o valor da diferença que é pago pela prefeitura, aí sim poderia parcelar esta parte.

Avaliação - O cientista político Erum Brum defende ainda que seja montada uma comissão de alto nível e independente, sem pessoas da gestão, que possa realizar todo o levantamento sobre possíveis irregularidades na administração, que teria deixado os cofres vazios. Mas que ao mesmo tempo o prefeito dirija a cidade e governe. “Não pode é ficar tudo parado, não avançar.”

Para Erom Brum, o que tem ocorrido em Campo Grande a partir de 2013, mostra que os gestores não estavam preparados para gerenciar a capital de um estado. “Não pode ficar culpando os outros. É preciso agir mais”, afirma, lembrando que um defeito do sistema político é as pessoas se preocupar mais com a acusação do que com a ação.

Segundo o cientista político, Alcides Bernal está “patinando e com dificuldade até para monta a equipe”, o que demonstra que não é um bom administrador e não corresponde a expectativa de uma população.

Erum Brum defende que se alguém teve culpa por irregularidades na administração pública tem que pagar, mas uma capital brasileira com quase um milhão de habitantes não pode ficar nessa dúvida e ser paralisada.

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