Morte de premiê japonês foi do outro lado do mundo, mas detalhe une o caso a MS
Shinzo Abe foi assassinado por atirador no início deste mês
Mesmo ocorrido no outro extremo do mundo, o assassinato do ex-ministro japonês Shinzo Abe, no último dia 8, pode ter pequeno elo com Mato Grosso do Sul. Isso porque, embora não seja oficial, a suspeita é de que o assassino tenha agido para se vingar da Igreja da Unificação, grupo religioso com negócios milionários com o qual supostamente Shinzo tinha ligação e que teve o estado pantaneiro como cenário para construção de parte deste império.
Conforme a imprensa japonesa, Tetsuya Yamagami, atirador confesso de Abe, disse à polícia que agiu movido pelo rancor contra uma organização religiosa que havia pressionado sua mãe a doar grandes quantias de dinheiro, arruinando assim sua família. Ele acreditava que Abe havia favorecido esta instituição religiosa no Japão.
O falecido ex-premiê chegou a participar como palestrante pago em um dos muitos eventos organizados por esse grupo. Além disso, em junho passado, Akihiko Kurokawa, líder do partido NHK no país, classificou a organização como "culto antijaponês" e culpou o avô materno de Abe, o ex-primeiro-ministro Nobusuke Kishi, por ter permitido a chegada deles ao Japão em 1958.
O coreano Sun Myung Moon, conhecido por estas bandas como Reverendo Moon, criou a Igreja da Unificação em 1954 na Coreia do Sul. O seguimento religioso tem base cristã, mas parte do pressuposto de que Adão e Eva pecaram, fadando o plano divino ao fracasso, sendo o próprio Moon o messias que salvaria a terra.
Ele teria se encontrado com o próprio Cristo quando tinha 16 anos e, assim, idealizou a filosofia que dentro de algumas décadas conquistaria milhões de fiéis pelo mundo. Sua missão seria necessária porque Jesus teria morrido antes de completar sua missão: casar com uma mulher perfeita e alcançar a salvação completa para a humanidade.
Em 1996 ele chegou a Mato Grosso do Sul para instalar sua igreja e acabou construindo parte do seu vasto patrimônio, principalmente no município de Jardim. Em pouco tempo adquiriu grandes propriedades rurais no estado, inclusive na região do Pantanal, residências e até criou um clube de futebol, o Cene (Clube Esportivo Nova Esperança), inicialmente em Jardim, migrando depois para Campo Grande.
Mas, claro, nem tudo foi sucesso. Na mesma velocidade que ergueu o castelo, também se endividou, principalmente devido a multas por infrações ambientais e demandas trabalhistas. Tanto que mesmo antes de morrer, as propriedades em Jardim foram vendidas.
Além disso, em 2013, houve informações de que a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) apurava suspeita de lavagem de dinheiro e do reverendo comprar grandes extensões de terras no Brasil e Paraguai.
Com essa filosofia, a Igreja também ficou conhecida por seus casamentos coletivos. Em 2002, por exemplo, Moon casou ao mesmo tempo cerca de 3.500 casais no estádio Olímpico de Seul. O matrimônio em massa teve pessoas de 186 países, muitas das quais haviam acabado de se conhecer.
O reverendo morreu em setembro de 2012 aos 92 anos, vítima de complicações em decorrência de pneumonia que o deixou internado por mais de um mês. À época ele morava na Coria do Sul, berço de sua igreja. Desde então quem toca os negócios da Unificação é a viúva Hak Ja Han Moon, enquanto dois de seus filhos estão no comando de organizações menores.
No Japão, apesar de a polícia não ter revelado o nome da organização religiosa citada pelo assassino de Abe, a Federação das Famílias para a Paz Mundial e Unificação (nome usado atualmente pela Igreja da Unificação) confirmou que a mãe dele era membro da mesma e inclusive teria vendido a própria casa e terrenos, no valor de mais de R$ 3,8 milhões, para doar o dinheiro a igreja.