Vereador critica colega e diz que PPS é "partido da boquinha"
A sessão de hoje na Câmara Municipal, a primeira depois do vazamento das declarações da vereadora Luiza Riberiro (PPS) no MPE (Ministério Público Estadual), parou por cerca de meia hora para ouvir o vereador Airton Saraiva (DEM) e seus pares que fizeram apartes criticando o posicionamento da colega, considerada “irresponsável e oportunista” por falar e fazer acusações sem provas, apenas no “ouvi dizer e no achismo. O PPS é o partido da boquinha”, afirmou Saraiva na Tribuna da Casa.
Demonstrando indignação, Airton Saraiva foi duro nas críticas e disse esperar que a Mesa Diretora da Câmara tome as providências cabíveis no sentido punir a colega pelas declarações sem provas, apenas no discurso do “ouvi dizer”. O vereador disse que já ouviu dizer muita coisa na Casa e nos corredores, mas jamais levantaria qualquer denúncia sem ter provas. “Muita coisa que já ouvi dizer aqui, mas nem por isso falei em meu depoimento”, destacou.
Ao prestar depoimento no Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) na Operação Coffee Break, Airton Saraiva afirmou que a partir do segundo semestre de 2013 passou a atuar como liderança da oposição contra o prefeito Alcides Bernal (PP), e que participou de várias reuniões em que se discutiu a troca do prefeito da Capital. Ele declarou que teve papel importante para conseguir os votos de Waldeci Batista Nunes, o Chocolate (PP) e de Gilmar da Cruz (PRB).
Mas hoje, Saraiva descarregou sua raiva e indignação, na Tribuna, contra a colega Luiza Ribeiro, por ter denunciado ao MPE que o sistema de corrupção, alvo de operações desde julho em Campo Grade, é antigo. “Essa questão do tapa-buraco e do lixo foi iniciada nas gestões do PMDB”, afirmou a vereadora aos promotores.
Para Saraiva, que está no seu quarto mandato, completando os 15 anos na Câmara, se a vereadora declarou saber que havia corrupção desde a época em que André Puccinelli (PMDB) assumiu a prefeitura, em 1997, permanecendo na gestão de Nelson Trad Filho, também peemedebista, ela deveria conhecer bem o sistema denunciado, uma vez que ela fez parte dessas gestões. “A vereadora Luiza sempre esteve no governo. O PPS é o partido da boquinha”, disse o vereador em alto e bom som, enquanto os colegas e a plenária o escutava atentamente.
Saraiva disse também que ouviu dizer que, na época que Luiza Ribeiro comandava a Funsat (Fundação Social do Trabalho) na administração do ex-prefeito Nelsinho Trad (PMDB), havia muito irregularidade. Mesmo com Bernal assumindo a prefeitura, segundo Saraiva, Luiza “conseguiu uma bocona”. Depois que Bernal saiu, ela teria perdido os cargos do partido e foi para o oposição.
O vereador do DEM lembrou que o PPS participou durante os oito anos do governo de André Puccinelli no Estado “em cargos do alto escalão” e, mesmo com a mudança, continuou com Reinaldo Azambuja (PSDB). “Tem uma secretaria ocupada pelo ex-vereador Athayde Neri”, arrematou Saraiva, dizendo que sentia saudades do colega na Casa, pela sinceridade e ética com que Athayde se portava. “A troca não foi boa”, comentou.
Em seu aparte, o vereador Jamal Salem (PR) disse que as declarações de Luiza apenas reforçava sua teoria de que há uma “conspiração do prefeito Bernal para afastar os 17 vereadores”, que tiveram pedido de afastamento do MPE negado pela justiça. Isso ocorrendo, conforme Jamal Salem, Bernal colocaria o vereador licenciado Paulo Pedra (PDT), atual Secretário Municipal de Governo, na presidência da Casa e com isso faria uma maioria com os suplentes que assumiriam.
O presidente da Comissão de Ética, João Rocha (PSDB), disse que Luiza deixou o clima ainda mais ruim na Câmara Municipal e que ela não poderia colocar o trabalho dos colegas sob suspeita. “Estamos no momento de restabelecer a verdade nesta Casa”, declarou. Para ele, uma representação da colega na Comissão não seria algo bom, uma vez que é preciso manter a harmonia e a paz. Rocha espera que Luiza reveja suas declarações.
Marcos Alex (PT) também criticou a colega, considerando as declarações “extremamente infelizes. Não é no achismo que vamos resolver nossos problemas”, ressaltou. Ele garantiu que não existe esquema de "mensalinho" na Câmara e que não se deve nivelar a política po baixo. Ao final, Alex foi cumprimentado por vários colegas que haviam sido citados por Luiza.
O peemedebista Vanderlei da Silva Matos, o Vanderlei Cabeludo, afirmou que vai pedir à direção do seu partido que tome providências na justiça para que a colega não fique sem punição. “Não podemos aceitar essas denúncias na base do achismo”. Cabeludo chegou a questionar se Luiza não teria falado a mando de outra pessoa. “Ela tem que provar na justiça o que disse no Gaeco.”
Chiquinho Teles (PSD) reiterou que é representante da periferia e classificou a fala da colega como infeliz ao dizer que os vereadores da periferia são manipulados. “Esse tipo de declaração desanima as lideranças da periferia que querem ocupar uma vaga nesta Casa”, disse ele, sugerindo que a vereadora Luiza deveria se desculpar com a população que reside nos bairros da Capital.
Carla Stephanini e Paulo Siufi, ambos do PMDB, lamentaram o fato de a colega Luiza Ribeiro não estar presente na sessão para ouvir suas observações sobre o fato dela ter acusado o partido de ser berço da corrupção no Estado e em Campo Grande. “Luiza tem obsessão pelo PMDB aqui nesta Casa, mas sempre esteve junto exercendo cargos. Ela parece esquecer disso”, lembrou Stephanini.
Paulo Siufi considerou que, enquanto médico, as declarações da colega Luiza poderiam ter sido feitas sem consciência o que poderiam ser desconsideradas. “Talvez ela pode ter dado o depoimento sob o efeito de algum medicamento. Por isso, gostaria de ouvi-la aqui nesta Casa.”
Saraiva concluiu sua fala dizendo esperar que a Mesa Diretora da Casa deveria tomar providências, defendendo que Luiza Ribeiro seja julgada na Comissão de Ética por quebra do decoro parlamentar.