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Reportagens Especiais

Morte de mulheres bate recorde e abre cicatriz que não se fecha nas famílias

Filipe Prado | 30/12/2014 09:01
Mãe de uma das vítimas fez protesto contra a impunidade (Foto: Arquivo)
Mãe de uma das vítimas fez protesto contra a impunidade (Foto: Arquivo)

O ano de 2014 foi marcado pelo grande número de mortes de mulheres. O crescimento, se comparado com o ano passado, foi de 66,6%, sendo que a maior incidência de homicídios foi em janeiro, com cinco registros. Muitas vezes, o silêncio das mulheres, que não denunciam os agressores no primeiro ato de violência, é o primeiro passo para os homicídios.

“Uma cicatriz que nunca irá se fechar”, foi como a mãe de Laida Andréia Samulha Romualdo, 35 anos, morta a pedradas pelo ex-marido, caracterizou a dor da perda. Agora, Edna Samulha Romualdo da Cunha, 53, cuida dos seis netos.

O caso ocorreu no final de 2013, mas Laida faleceu no começo do ano, após um período internada na Santa Casa. Anderson César Firmino, 24, matou a ex-esposa porque ela não quis devolver o dinheiro dado pela sogra para comprar presentes para os filhos.

De acordo com delegada titular da Deam (Delegacia de Atendimento à Mulher), Rosely Molina, este ano foram registrados 10 homicídios de mulheres em Campo Grande, quatro a mais do que em 2013. Sendo que cinco deles ocorreram em janeiro.

“Todos os homicídios tem comprovadamente um histórico de violência, mas não havia nenhum registro de ocorrência na polícia”, admitiu a delegada. Mesmo com o aumento das denúncias, foram mais de 5,8 mil até o dia 26 de dezembro de 2014, algumas mulheres ainda são vítimas dos assassinatos.

O sociólogo Paulo Cabral explicou que nas décadas passadas, a submissão das mulheres era maior. “Elas eram mais obedientes aos domínios machistas”, comentou. Como elas vêm “rompendo” está barreira, muitos homens, os mais possessivos, não conseguem admitir esta nova liberdade.

A morte da dona de casa Rosângela Ferreira, 48 anos, ainda é uma incógnita para os filhos. Ela morava há um ano com o marido, que, segundo a família, a agredia e é o principal suspeito do homicídio.

Maria Cristiana Ferreira dos Santos, 28 anos, uma das filhas de Rosângela, contou que os vizinhos sempre relatavam sobre as agressões que a mulher sofria, porém ela nunca denunciou o companheiro.

Em uma quinta-feira (4) de setembro, Rosângela foi internada na Santa Casa, com fortes dores, quando sofreu convulsões e acabou morrendo. O médico que atendeu a vítima suspeita que ela tenha sofrido várias pancadas na cabeça.

Molina explicou que as mulheres não têm culpa pelas mortes, mas que elas devem denunciar o companheiro no primeiro sinal de violência. “Se isso não acontecer, a violência vai crescer e pode chegar ao homicídio”, assegurou.

A delegacia, segundo Molina, tem buscado tirar a mulher deste cenário de violência, realizando ininterruptamente campanhas de conscientização. “Fazemos este trabalho para evitar que coisas mais graves ocorram”. Até o dia 26, cerca de 500 homens foram presos acusados de violência contra à mulher.

Mas não é “da noite para o dia” que a violência contra a mulher irá ser extinta da sociedade. Cabral explicou que este é um processo lento, que tenta acabar “com milênios de padrões arcaicos”, para um tempo histórico muito pequeno. “As mulheres tem conseguido se libertar, mas isso não quer dizer que deixaram de existir”, admitiu o sociólogo.

“As mulheres relutam em buscar ajudar e acabam morrendo. Elas acreditam que ele (marido) vai mudar, dão outra chance, mas o prejuízo acaba sendo dela mesma”, acrescentou a delegada.

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