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A chave

Heitor Rodrigues Freire (*) | 03/04/2021 12:35

Nos primórdios da história da civilização o homem viveu ao ar livre; depois em cavernas; a seguir, em tendas. Só muito tempo depois, em construções, quando então foram inventadas chaves para abrir as portas.

Segundo dados da internet, as primeiras chaves surgiram no Egito há 4 mil anos. E nem eram tão diferentes das que se encontram em qualquer chaveiro de hoje.

Demorou séculos até que surgissem as primeiras chaves de metal. Os romanos encontraram o formato mais eficiente, que se manteve inalterado por 17 séculos! Feita de bronze e ferro, a “chave gorja” era menor e tinha um aro no cabo para ser usada como anel. No século IX, surgiram modelos totalmente de ferro.

Com a Revolução Industrial, o setor entrou em uma era de ouro a partir do século XVIII. Novos modelos, cada vez mais seguros e baratos, produzidos em massa, garantiram que, finalmente, todo mundo pudesse adquirir a sua. Inventores importantes surgiram, como os britânicos Robert Barron e Joseph Bramah. Os norte-americanos Yale, pai e filho, lançaram na década de 1840 o modelo mais usado na atualidade, e que todos nós conhecemos.

Essas chaves, então, abrem portas. Esse breve histórico é para conduzir este artigo para uma chave universal que não é de ferro, nem de metal, nem de madeira, mas que tem o dom de abrir as portas mais resistentes e fechadas da humanidade: o coração do homem.

O artista inglês William Holman Hunt (1827-1910) pintou um quadro que se tornaria famoso, mas que no início foi objeto de muita controvérsia: Por que um pintor tão experiente cometeria um erro crasso como, aparentemente, ele tinha cometido?

O quadro The Light of the World (1851-1853, em português, A Luz do Mundo) representa a figura de Jesus se preparando para bater em uma porta coberta de vegetação e por muito tempo fechada, ilustrando a citação no Apocalipse 3:20.

"Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz

e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo".

O suposto erro é que a porta na qual Jesus bate não tem fechadura do lado de fora. A intenção do pintor era exatamente essa: por meio dessa imagem, ilustrar a grande mensagem de Jesus, de forma alegórica. A porta em que Jesus bate só abre por dentro. A abertura do coração do homem para a sua mensagem universal depende única e exclusivamente da sua ação: a porta do coração só abre por dentro.

Assim, Hunt criativamente e de coração tocado pela mensagem universal de Jesus, retratou com o seu quadro uma figura tão expressiva quanto tocante.

Muitos de nós já passamos pela experiência de perder as chaves da casa ou do carro, provocando um grande transtorno. Mas está na hora de não perder a chave que abre o nosso coração, pois esta sim é causa de muitos males.

Mais do que nunca, a mensagem de Jesus se torna o meio indispensável para que todos nós, nestes momentos sofridos e dolorosos, possamos acordar para a sua lição milenar e perpétua: só o Amor salva.

Não adianta orarmos só da boca para fora, enquanto nosso coração não é tocado de forma verdadeira por uma ação consequente de solidariedade ao nosso próximo, enquanto não traduzirmos nossas orações em atos transformadores em nossas próprias vidas.

Aproveitemos esta oportunidade em que se comemora a Páscoa, em que todos tocados pelo exemplo maior de Jesus, possamos, unidos, responder ao seu chamamento permanente e mudar realmente nossas vidas, renascendo com Ele.

Feliz Páscoa para todos.

(*) Heitor Rodrigues Freire é corretor de imóveis e advogado.

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