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A importância da Ciência transcende a obtenção de vacinas para a covid-19

Isaac Roitman (*) | 27/09/2020 14:16

A pandemia da covid-19 ativou o sinal vermelho em todo o planeta, devido ao desconhecimento da biologia do vírus causador da doença, pela vertiginosa contaminação da doença, pelos altos índices de óbitos e pelos efeitos sociais e econômicos da pandemia. Cientistas de todo o planeta tentam desenvolver vacinas para a prevenção da doença. O desenvolvimento de várias vacinas, estão sendo estudadas na fase 03 com o objetivo de testar as suas eficácias em numerosos/numerosas voluntários/voluntárias. Certamente teremos sucesso nessa empreitada.

É absolutamente fundamental que todos os habitantes do planeta, de todas as classes sociais, tenham acesso a essas vacinas. Os cientistas brasileiros, em várias Universidades e Institutos de Pesquisas estão desempenhando um papel importante para nos livrarmos dessa nefasta pandemia.

Uma pergunta frequente é sobre o papel do cientista e da ciência no desenvolvimento brasileiro. A resposta é que na Era do Conhecimento que vivemos, a ciência e os cientistas terão um papel fundamental.

O desenvolvimento científico e tecnológico no Brasil teve marcos importantes: a criação do Museu Nacional (1818), primórdios da Fundação Oswaldo Cruz (1900), criação do Instituto Butantan (1901), fundação da Academia Brasileira de Ciências (1916), fundação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (1948), fundação do ITA (1950), criação do CNPq (1951), criação da Capes (1951), criação da Fapesp (1960), criação da Finep (1967), criação da Embrapa (1972),e a criação do Ministério da Ciência e Tecnologia (1985).

Podemos nos orgulhar de cientistas brasileiros que deixaram como legado contribuições marcantes. Entre eles, Alberto Santos Dumont, Oswaldo Cruz, Carlos Chagas, Celso Furtado, Joahana Dobereiner, Milton Santos, Ruth Nussensweig, Luiz Hildebrando Pereira da Silva, Maria Deane, Bertha Becker, Paulo Freire, Cesar Lattes, Otto Gottlieb e Mario Schenberg. Temos mais de uma centena de Sociedades Científicas coordenadas pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) que tem estreita parceria com a Academia Brasileira de Ciências (ABC) em defesa da Ciência brasileira.

Estamos testemunhando uma fragilização no nosso desenvolvimento científico e tecnológico pela redução de investimentos, que certamente terá graves consequências no nosso desenvolvimento social e econômico. Os/as doutores/doutoras, em várias áreas de conhecimento, não estão sendo absorvidos/absorvidas adequadamente em universidades, institutos de pesquisas e no setor produtivo.

Se o processo de desmonte não for interrompido, teremos um êxodo de cientistas brasileiros para países avançados onde a Ciência é valorizada. A inserção do Brasil na Era do Conhecimento é uma questão de soberania. A reversão do presente quadro deve ser rápida, pois grupos de pesquisas que levaram anos para serem construídos serão desativados.

Apesar de a Ciência brasileira não ter tido o apoio necessário, na formação de cientistas, no fomento à Ciência, Tecnologia e Inovação, incluindo dificuldades na aquisição e insumos e equipamentos, houve avanços importantes, graças à energia e aos esforços dos/das cientistas brasileiros/brasileiras.

Por iniciativa do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) temos o maior celeiro de formação científica, o Programa de Iniciação Científica para estudantes do ensino básico e universitário. Temos também um robusto sistema de pós-graduação (mestrado e doutorado).

Estamos preparados para dar um salto no nosso Sistema de Ciência e Tecnologia, que será o grande passo para conquistarmos uma sociedade humana honrada, justa, fraterna, harmoniosa e feliz. Vamos construir um desenvolvimento científico e tecnológico com humanismo.

É pertinente lembrar o pensamento de Mahatma Gandhi: “Os sete pecados capitais responsáveis pelas injustiças sociais são: riqueza sem trabalho, prazeres sem escrúpulos, conhecimento sem sabedoria, comércio sem moral, política sem idealismo, religião sem sacrifício e ciência sem humanismo”.

(*) Isaac Roitman é doutor em Microbiologia, professor emérito da Universidade de Brasília, coordenador do Núcleo de Estudos do Futuro (n.Futuros/CEAM/UnB), membro tiular de Academia Brasileira de Ciências. Ex-decano de Pesquisa e Pós-Graduação da UnB, ex-diretor de Avaliação da CAPES, ex-coordenador do Grupo de Trabalho de Educação, da SBPC, ex-sub-secretário de Políticas para Crianças do GDF. Autor, em parceria com Mozart Neves Ramos, do livro A urgência da Educação.

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