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A prosa fluente de José Maschio em “Tempos de Cigarro Sem Filtro”

Por Luiz Taques (*) | 28/10/2017 14:00

Já fazia uma eternidade que a gente não via, na literatura brasileira, proseador desenvolver o seu enredo em linguagem oral, parecida com a que se fala nas ruas, num cenário no qual narrador e protagonistas se fundem, elegantemente.

Com destreza, José Maschio rompe esse vazio ao nos contemplar com o romance Tempos de Cigarro Sem Filtro. O livro tem 152 páginas e foi lançado pela editora Kan.

Professor universitário conceituado, radicado em Cambé, no Norte do Paraná, Maschio trabalhou em diversos jornais sindicais e em grandes veículos de comunicação, como a Folha de S. Paulo.

E no romance Tempos de Cigarro Sem Filtro, para explanar a história pulsante do bem-querer de Jaso Louco e Maria (“... o que foi, foi. O que vai ser, será. Simples isso de viver...”), José Maschio vale-se então da sua competência de repórter calejado e, sobretudo, do emprego talentoso das palavras.

Desse modo, desde as primeiras páginas dessa sua boa obra, ele escancara vinganças, maracutaias, traições e o poder do dinheiro escasso a interferir nas relações miúdas da trama.

Com o avanço dos capítulos, as sutis caçoadas dos personagens de Maschio podem: desagradar aos comunistas (“... essa raça ruim, comedora de criancinhas...”); desapontar alguns membros do clero (“... mas eu também não gosto do padre, outro branquelo, a se esfregar nas comadres brancas...”); aborrecer figuras de mentes azedas (“... viagem pior, dentro de si...”); magoar ainda moralistas dissimulados (“... mamãe nem deixava o meu irmão jogar bola com o filho da desquitada...”).

Há hipocrisia e mazelas ao nosso redor e, de maneira crua, elas são mostradas com maestria pelo romancista. O que faz de Tempos de Cigarro sem Filtro um daqueles livros que vale a pena a gente ler.

Porém, é a respeito da militância política na época do regime militar o eixo central deste livro: são episódios desse período sombrio que o autor quer nos falar. O romancista aborda essa triste época brasileira com linguagem refinada. Um exemplo disso é esse parágrafo: “E Ruço descobriu-se homem. Não mais o molambo magrelo. Não mais brincadeiras com o amigo Lozinho. Hora de crescer, que na vida tem hora para tudo. Até para o embrutecimento.”

É narrativa instigante essa a de José Maschio sobre os anos de chumbo: coisa de artista de singular grandeza. Porque, com frases curtas e certeiras, ele consegue, brilhantemente, transmitir a sua mensagem: a ditadura faz do homem um exilado em seu próprio país.

• Em Campo Grande o livro “Tempos de Cigarro sem Filtro” pode ser adquirido na livraria Café Cult (rua Da Paz, 1.236 – Jardim dos Estados).

(*) Luiz Taques é jornalista e escritor.

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