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Chipeiro!

Heitor Freire (*) | 14/06/2020 12:35

Em pleno vigor dos meus oitenta anos, estou começando uma nova atividade – com o espírito sempre voltado para o aprendizado e sob a supervisão da minha mulher, Rosaria, e a parceria da minha filha Andréa –, virei chipeiro!

Eu sou paraguaio. Nasci em Pedro Juan Caballero, e quando a minha família se mudou para Campo Grande, eu já tinha 7 anos. Ou seja, a cultura paraguaia já estava bem consolidada no meu DNA.

A Rosaria nasceu em Ponta Porã, do lado de cá da fronteira. Com avó paraguaia, ela também sempre esteve envolvida com a culinária paraguaia, desde bem moça. Na nossa mesa e na história da nossa família, sempre estiveram presentes vários pratos de lá, como sopa paraguaia, chipa guazú, bori bori, chipa etc.

A chipa, especialmente, faz parte da cultura culinária por aqui há muito tempo. Devido a uma corrente migratória muito forte vinda do Paraguai para Campo Grande, nos anos 50 a população paraguaia na nossa cidade chegou a 50 mil pessoas aproximadamente, e seus descendentes foram se misturando com a gente local. E se tornaram muito influentes. Em 1954, foi fundada a Associação Cultural Brasil-Paraguai, que teve como primeiro presidente o dr. Wilson Barbosa Martins (sua avó era paraguaia) e como vice-presidente, meu pai, Luiz Freire Benchetrit. A Associação depois, passou a se chamar Associação Colônia Paraguaia, com sede na rua Ana Luiza de Souza, no bairro Pioneiro, e hoje seu presidente é o dr. Albino Romero.

Aqui em Mato Grosso do Sul todos temos muita familiaridade com a polca paraguaia, o chamamé, a harpa, o mate e o tereré. Dos quitutes de origem paraguaia, a chipa é a mais famosa. Ela parece ter entrado no Brasil na década de 1860, trazida por imigrantes paraguaios que fugiam da Guerra do Paraguai e procuravam abrigo em nosso estado, por causa da proximidade da fronteira.  Assim, a chipa foi se tornando uma iguaria tradicional e facilmente encontrada, tanto no ambiente doméstico como em algumas padarias e mercados, em geral feita de forma artesanal (ao contrário do pão de queijo mineiro, que há tempos já ganhou escala industrial e distribuição nacional).

De acordo com registros históricos, na época da colonização já havia no Paraguai o costume de se fazer pães e bolos à base de mandioca ou milho, ingrediente típico dos povos tupis guaranis. Os jesuítas que catequizaram a América do Sul tiveram como efeito colateral da missão religiosa a difusão da culinária e da cultura dos povos locais por toda a região. Da mesma forma, e no sentido contrário, os jesuítas introduziram na cultura indígena o consumo de ovos, leite, queijo e manteiga, que provinham do cultivo do gado. Nessa época é que foi criada a receita tradicional da chipa, que podemos considerar um precioso legado da integração com nossos vizinhos paraguaios.

E então, como herdeiro dessa cultura e testemunha do talento culinário da Rosaria, eu, minha mulher e minha filha resolvemos, a esta altura da vida, começar um novo negócio: estamos produzindo chipa caseira feita na cozinha da nossa casa.  Aproveito para vender o nosso peixe. Estamos vendendo a Chipa da Rosaria, com entrega em domicílio. Quem quiser experimentar – e tenho certeza, vai gostar –, pode entrar em contato conosco.  É só ligar ou enviar mensagem: 9-8163-4680 e falar com a Andréa.

Desde já, agradeço a preferência.

(*) Heitor Rodrigues Freire é agora chipeiro, e desde sempre corretor de imóveis e advogado.

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