Como processo de separação impacta no socioemocional de crianças e adolescentes
Você certamente já ouviu, em algum momento, que a criação de uma rotina é fundamental para o bom desenvolvimento de crianças e adolescentes. Estabelecer essa rotina não é simples, mas os benefícios que ela proporciona são impressionantes.
Além de criar um ambiente seguro e previsível, hábitos, atividades e costumes pré-definidos propiciam disposição e tranquilidade, além de trazer disciplina para o cotidiano. As crianças e adolescentes crescem cientes de que possuem direitos e deveres e de que há momentos para a realização de cada coisa.
A questão da rotina inclui, por exemplo, a vida em família e as atividades realizadas em conjunto pelas pessoas que a compõem. Sendo assim, quando uma separação acontece, inevitavelmente temos uma quebra desse ambiente protegido. Consequentemente, crianças e adolescentes acabam vulneráveis a uma série de 'consequências', que por sua vez, trarão impactos para a sua vida social e emocional.
Muitas vezes, as crianças podem vir a se sentir culpadas pela separação dos adultos. Isso pode acontecer de maneira inconsciente e, em boa parte dos casos, os pequenos ou mesmo os adolescentes avaliam seus próprios comportamentos a fim de entender qual erro motivou a desunião familiar. Consequentemente, ocorrem problemas de autoestima. Não é difícil, após o divórcio dos pais, ver crianças e jovens que questionam seu valor e sua importância na vida dos genitores.
Muitos chegam a apensar que a separação interfere no amor que os mesmos sentem por eles, o que afeta seus potenciais. Também não é incomum que, por imaturidade emocional, crianças e adolescentes fiquem ressentidos com os pais e desenvolvam sentimentos de raiva e aversão por um ou por ambos. Isso se manifesta por comportamentos agressivos e atitudes desafiadoras.
Em decorrência dessa mudança na rotina, o rendimento escolar invariavelmente é afetado. Isso, porque o estresse e abalo emocional interferem diretamente na capacidade de concentração e na interação social, o que por sua vez leva à uma dificuldade em estabelecer relações de confiança com outras pessoas. Trata-se de um comportamento defensivo, adotado pelo temor de sofrer novas perdas e vivenciar outras rupturas. O caminho mais 'fácil' nesses casos é não estabelecer vínculos afetivos.
Quando chegamos aos períodos de festas, caso do Natal, Ano Novo, Dia das Mães, dos Pais e até mesmo aniversários, as chances de que os sentimentos de falta e solidão se tornem ainda mais intensos para os pequenos. Desânimo, ansiedade, depressão, angústia, frustração, birras, falta de interesse por atividades rotineiras e até pelo brincar podem ser notadas, além de casos de regressão de comportamentos, como o escape de xixi durante o sono, por exemplo.
A verdade é que os rompimentos entre os pais jamais devem afetar os laços afetivos criados entre pais e filhos. O ideal, inclusive, é que os adultos possam, de maneira delicada, deixar isso muito claro às crianças e adolescentes não apenas por meio de palavras, mas especialmente através dos comportamentos. Pelo fato de estarem distantes e separados fisicamente, os pais precisam redobrar a atenção às possíveis crises e sentimentos de abandono que seus filhos possam vir a manifestar.
Mais ainda, precisar estar de olhos abertos para aquilo que eles não expressam de forma clara ou verbalmente. Evitar brigas na frente dos filhos, falar mal um do outro para as crianças são atitudes importantes, assim como a manutenção de uma boa convivência. É essencial que a saúde e bem-estar das crianças e adolescentes seja colocada como ponto focal a partir do momento em que a decisão é tomada.
Mudanças nunca são processos simples ou fáceis de serem vivenciados. Porém, quando baseados em muita conversa, amor, compreensão e auxílio de um profissional especializado, quando necessário, pode ser uma fase vivida com mais tranquilidade e sem provocar traumas, que gerem impactos por toda a vida.
(*) Sueli Conte é Psicóloga, Psicopedagoga e doutoranda em Neurociências.