Como salvar vidas
Nunca um momento foi tão propício para se falar do setembro amarelo como este que estamos vivendo. Mês em que se alerta para o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, mas cuja atenção ao tema deve ser constante - principalmente se levarmos em conta os desafios pelos quais o mundo passou nos últimos seis meses.
São registrados cerca de 12 mil suicídios todos os anos no Brasil e mais de 10 milhões no mundo. Trata-se de uma triste realidade, que registra cada vez mais incidência, sobretudo entre os jovens. Cerca de 96,8% dos casos de suicídio estão ligados à depressão em primeiro lugar, seguido de transtorno bipolar e abuso de substâncias.
O ser humano é reativo e não preventivo. Logo, o isolamento social, mesmo que com tanta tecnologia - em que é possível para grande parte da população falar com todos que deseja -, não é visto como um tratamento ou prevenção mas sim como punição. A maior parte das aglomerações é de jovens, que por não aguentarem mais a pandemia, transformam qualquer notícia de sinais de melhora, na cura da doença. A redução no número de mortes e menos leitos de UTI sendo usados levam ao inconsciente coletivo de que tudo está bem. Este grupo passa a negar o risco e o transforma em relaxamento. Esquecem que o contato com os familiares mais velhos e os assintomáticos são os grandes vilões.
É muito fácil descrever o que está acontecendo, está visível. Mas o que fazer?
Novas formas de auxílio surgiram com a pandemia, mas não podemos esquecer que a melhor forma de ajudar é estar presente, ter tempo para ouvir e entender que é hora de levar a um atendimento especializado o mais rápido possível. Quanto mais informações e quanto mais precocemente for realizada a constatação da ameaça, mais rapidamente é possível oferecer ajuda. Observar as mudanças de comportamento e conversar a respeito do que o indivíduo pensa e prestar atenção à fala do outro é fundamental para analisar o perigo, amparar afetivamente e, de imediato, buscar auxílio no sistema de saúde.
Devemos estimular a autoconfiança e abertura para novos conhecimentos. Também deve ser encorajada a integração social na prática de esportes, associações religiosas e o bom relacionamento com os amigos de convívio diário. Mas nunca devemos esquecer que nossos ouvidos foram feitos para ouvir e não somos super-heróis. Devemos ter em mãos a maneira mais rápida de buscar ajuda. E hoje, diferentemente do passado, os teleatendimentos podem ser o primeiro grande passo para tirar alguém da crise e salvar uma vida.
(*) Charles Lopes é psicólogo