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Dia Mundial do Rock

Hugo Leonardo Ribeiro (*) | 14/07/2023 13:30

Em geral, datas comemorativas são escolhidas por conta de algum acontecimento importante naquele dia relacionado ao tema que se quer celebrar. É assim com o Dia das Mulheres (8 de março), o Dia do Trabalhador (1 de maio), o Dia Internacional Contra a Discriminação Racial (21 de março) ou o Dia Internacional do Bombeiro (4 de maio). Mesmo o Dia do Samba (2 de dezembro) parece ter um evento relacionado ao samba ocorrido nesse dia.

Então por que, no Brasil, comemora-se o Dia Mundial do Rock numa data relacionada a um concerto musical (Live Aid) que não tinha relação direta com o rock, e sim com uma ação filantrópica (angariar fundos para ajudar no combate à fome)?

Diz-se que Phil Collins, famoso cantor e ex-baterista da banda Gênesis, durante sua apresentação nesse concerto, chegou a mencionar que a partir de então utilizassem essa data (13 de julho) como o Dia Mundial do Rock. Mas, parece que poucos levaram a sério. Todavia, no início da década de 1990, duas rádios paulistanas retomaram, divulgaram a ideia e, aqui no Brasil, ela colou. Mas, somente no Brasil.

Talvez o fato de esta data não estar atrelada a nenhum episódio significativo para o surgimento ou desenvolvimento do gênero musical Rock seja o motivo de nenhum outro país entrar nessa onda. Por conta disso, gostaria então de pensar em algumas outras datas que poderiam ter sido “aceitas” internacionalmente como Dia Mundial do Rock, diante seus acontecimentos que foram importantes para seu surgimento ou desenvolvimento.

Começo com 23 de novembro (1936), o primeiro dia das famosas gravações em estúdio de Robert Johnson. Esse cantor, compositor e violonista é um dos pilares para definir o Blues como conhecemos hoje, e tornou-se uma influência para todos os músicos de Blues e Rock posteriores.

Podemos também pensar no dia 20 de março (1915) que foi a data de nascimento de Rosetta Tharpe, cantora e guitarrista de gospel e rock. Sua gravação da música Strange Things Happening Every Day, em 1944, é considerada uma das primeiras gravações precursoras do Rock and Roll.

No dia 3 de março (1951), foi gravada a música Rocket 88 por Jackie Brenston, sendo a primeira gravação com um som distorcido na guitarra, causado por um alto-falante rasgado no amplificador de guitarra. O som de guitarra distorcido tornou-se um dos principais elementos característicos do Rock. E tudo começou com essa gravação.

Em 18 de outubro (1926) nascia Chuck Berry, aquele que influenciou, como ninguém, o Rock and Roll. Alguém imagina o Rock sem aquele lick de guitarra popularizado na introdução da música “Johnny B. Goode”? A gente não teria nem a cena icônica de Marty McFly tocando essa música no filme “De volta para o futuro”.

Que tal o dia 12 de abril (1954), dia da gravação da música Rock Around the Clock, que se tornaria um dos grandes ícones do Rock and Roll? Essa música virou trilha sonora do filme Blackboard Jungle (Sementes de Violência) e popularizou o Rock além das fronteiras dos EUA.

Também temos o dia 3 de fevereiro (1959), quando os cantores Buddy Holly, Ritchie Valens, e J. P. Richardson (The Big Bopper) morreram num desastre de avião. Essa acidente foi tão impactante na época que a data ficou conhecida como o “dia que a música morreu”.

Por fim, temos o 18 de setembro (1970), dia do falecimento de Jimi Hendrix, o mais famoso e influente guitarrista de Blues/Rock que já existiu. Sua forma de tocar com enorme controle sobre uso da distorção, técnicas de bend (levantar a corda para mudar a afinação), ou melodias sobre acordes ainda são referências para músicos de Rock.

Obviamente que o Dia Mundial do Rock não irá mais mudar de data depois de mais de 30 anos de tradição. No Brasil, essa data está tão consolidada que já temos tradição de shows em várias cidades do Brasil, como em Macapá, que este ano organizará a 24ª edição do festival de celebração da data. Mas, o que podemos, e devemos, é aproveitar essa data pouco significativa e utilizar para divulgar novas bandas de rock, celebrar as bandas já reconhecidas, relembrar os músicos que já morreram mas deixaram seu legado.

Ou usar como desculpa para ler um pouco mais sobre a história do Rock e como as pequenas escolhas estéticas foram transformando esse gênero nos diversos subgêneros de Rock e Heavy Metal que temos hoje em dia.

Mas, se você é daqueles que, em vez de ler um livro, prefere esperar o filme, esteja convidado para participar de meu curso de extensão que é ofertado todos os anos durante a Semana Universitária da UnB. O curso Heavy Metal para iniciantes - Curso de apreciação musical da história do Metal, faz um passeio musical desde o Blues até o Black Metal, cujo objetivo é que os participantes tenham uma noção geral sobre a grande diversidade de subgêneros musicais relacionados ao Metal e consigam perceber as semelhanças que os unem e as pequenas diferenças sonoras que os diferenciam.

(*) Hugo Leonardo Ribeiro é professor efetivo do Departamento de Música da Universidade de Brasília.

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