E a conta fica para as juventudes?
Em 7 de janeiro de 2019 o mundo foi surpreendido pelo vírus Sars-CoV-2, que após estudos foi reconhecido como um vírus da família Coronavírus, de capacidade altamente contagiosa chegando, muitas vezes, a ser fatal. O Brasil, devido à falta de adoção de políticas públicas e práticas de isolamento desde os primórdios da pandemia passou a registrar um número crescente e impressionante de óbitos, somado a um sistema de saúde colapsado e contrariedades no sistema político culminando em uma crise sanitária, política, econômica e social no país.
Consequentemente, o período escancarou uma sociedade em extrema situação de vulnerabilidade, com aumento das taxas de desemprego, fome, miséria e acentuados cortes na área da saúde, educação e ciência.
A parcela de brasileiros estrategicamente localizada às margens da sociedade, tanto fisicamente quanto simbolicamente, sofreu fortemente os impactos da pandemia agravando a vulnerabilidade social já existente há muito tempo. Porém, dentro dessa parcela da população existe um grupo há tempos desassistido que se viu enroscado em meio a tanta falta, do que já quase não existia. Estamos falando das juventudes em situação de vulnerabilidade social.
Durante a pandemia o primeiro impacto substancial na população foi a necessidade de isolamento, logo, para com as juventudes não foi diferente, uma vez que, houve a suspensão das atividades pedagógicas presenciais visando a diminuição do contágio, devido a ampla disseminação do vírus.
Contudo, não houve implementação de medidas efetivas na mesma velocidade e proporção que acontecia nas escolas privadas, fazendo com que escolas públicas permanecessem fechadas por meses e que jovens ficassem nas ruas e o ensino estagnado.
Algumas atividades educacionais buscaram a implementação das atividades em âmbito remoto, contudo, nem todos tinham acesso à internet ou computador para acompanhar as aulas, dessa forma, muito do ensino que já era precário foi perdido. Logo, a educação jovem brasileira foi grandemente impactada pela pandemia, não existem dados para mensurar o quão prejudicial este fenômeno foi para as juventudes em formação, dado que, projetos como vestibular, Enem, concursos, entrada no ensino superior foram adiados, e por maior que seja a importância desses eventos, a perda real acontece no desenvolvimento intelectual da juventude, uma vez que, o fato de estagnar o desenvolvimento educacional desses jovens influem e muito no progresso intelectual de toda uma geração.
A pandemia afetou, também, o mercado de trabalho, onde houve o fechamento de diversas vagas de emprego e, consequentemente, a diminuição da renda familiar da população. Isto posto, houve em nossa sociedade a intensificação do processo de necessidade de o jovem buscar adentrar em uma atividade remuneratória como forma de auxiliar na subsistência familiar. Além disso, e talvez consequentemente, as juventudes também aparecem mais suscetíveis ao aumento da violência nas periferias.
Considerando os aspectos abordados pela Psicologia, nos instiga a situação emocional desses indivíduos desassistidos, excluídos e julgados por uma sociedade com a carga histórica que eles já carregam. Essa é a fase em que as juventudes precisariam estar desenvolvendo competências emocionais, que são parte dessa vivência da época, porém como desenvolvê-las em meio a tudo isso?
Com a vacinação começa-se a ter uma esperança de melhora ou pelo menos de retornar a "vida normal" da parte em que o mundo foi interrompido, mas para isso é preciso considerar as feridas de dois anos sem auxilio. Serão necessárias intensivas políticas públicas que promovam o desenvolvimento social da sociedade brasileira, que acabou estagnado com a pandemia.
Por muitas vezes os jovens acabam se achando invisíveis, como se suas ações não pudessem mudar nada, e talvez alguns aqui se identifiquem com isso, mas além da gente acreditar nesses jovens, é preciso que a sociedade olhe para esses jovens como potencialidade e agentes de transformação. Para mudança, é necessário nós pensarmos as juventudes do Brasil por meio de uma união e articulação entre instituições e coordenadorias capazes e dispostas a desenvolver ações que amplifiquem a voz que esse público já tem, forneçam espaços e reconheçam o potencial de 30% de jovens que esperam ansiosamente uma oportunidade.
(*) Leticia Maris é acadêmica de Psicologia e pesquisadora co-fundadora do Grupo de Estudos sobre Negras Intelectuais da UCDB.