Época de reflexões
A época é propícia para reflexões. É preciso enxergar a realidade da vida com clareza. Durante décadas, a humanidade tem sido envolvida por sonhos utópicos de derrubar o poder e começar tudo de novo, o que levaria a outra situação que logo poria novamente a descoberto o mal-estar existencial decorrente do desconhecimento absoluto do significado da vida. Buscar esse saber deveria ser o grande alvo dos indivíduos, independentemente de onde nasceram e do que foram levados a acreditar. Hoje há desalento, comodismo e grupos radicais. A economia imediatista do dinheiro levou à globalização, a qual promoveu os desequilíbrios que assustam.
Há mais de 30 anos atravessamos o relaxamento econômico no país. Desde o tempo em que o Brasil se prestava para fornecer açúcar, café, ouro e outras preciosidades com regime escravocrata, não se formou um mercado interno forte dada a baixa renda e despreparo da população. A política de dólar baixo inviabilizou a indústria e, com isso, foram trazidos produtos do exterior com preços baixos. Perdemos tempo, ampliamos o atraso. O mundo está convulsionado. Os EUA emitem dólares para o mercado financeiro, e os chineses produzem para abastecer o mundo, acumular dólares e investir de norte a sul. A competição é acirrada e o mercado interno continua fragilizado.
A globalização e os avanços no transporte fizeram com que populações semiestagnadas na economia de subsistência pudessem ser mobilizadas para a produção industrial com custo ínfimo, mas pouco se pensou nas consequências para o mundo, como o desemprego, queda de renda e desigualdade. A integração de mão de obra barata na produção globalizada, feita de forma imediatista e sem um planejamento, acarretou sérias consequências para a classe média. Deveria ter sido buscada uma forma menos traumática para melhorar as condições gerais de vida dessas populações.
A economia do Brasil permanece subordinada e dependente da exportação de matérias-primas e commodities, gerando poucos empregos e baixo valor agregado. A integração nas cadeias globais de produção deve ser feita sem desequilibrar ainda mais a economia do país. Amplia-se pelo mundo a busca por acumulação de dinheiro, poder e a consequente desigualdade na partilha da renda; a diferença está apenas se a gestão é tipo empresarial ou centralizada no poder estatal.
Vivemos o drama do desequilíbrio econômico, financeiro, cambial e social, ampliando a desigualdade, precarização geral, destruição da natureza e o baixo nível educacional, levando a luta pela sobrevivência a extremos jamais vistos. É preciso enxergar a realidade com clareza. O que restou sobre os ensinamentos de Jesus traz um ranço enganoso, místico e dogmático. Com palavras simples, Jesus descrevia o processo natural do amadurecimento do germe espiritual que deveria se tornar verdadeiro ser humano. Três reis foram conduzidos para dar proteção, mas se retiraram.
Levou alguns séculos para o dinheiro se tornar o ídolo dominante. Os países foram estruturados para dar suporte legal ao capital e, ao mesmo tempo, se tornarem deficitários. No passado, havia expectativa de progresso e melhora, produzia-se, empregava-se. Depois vieram as dívidas e juros. Os governantes passaram a achar que importar reduziria o custo de vida. A dívida explodiu no Brasil, Argentina e em outros países. Fala-se que o montante geral da dívida mundial ultrapassa 50 trilhões de dólares, um número muito perigoso para taxas de juros acima de zero. A ordem é fazer a despesa caber na receita. No entanto, os empregos estão sumindo, a atividade do governo na educação e saúde torna-se precária. O que fazer? Como gerar trabalho renda e investir no preparo dos jovens?
As novas gerações têm sido mal orientadas e não aprenderam a potencializar os talentos que deveriam ser empregados para o desenvolvimento individual e geral. Importa buscar o significado da vida, voltar-se para o bem, para a melhora das condições de vida, para o aprimoramento da espécie humana. Jesus falou disso tudo, indicou o caminho da Luz da Verdade, mas quem se lembra e pratica isso tudo?
(*) Benedicto Ismael Camargo Dutra é graduado pela Faculdade de Economia e Administração da USP, faz parte do Conselho de Administração do Hotel Transamerica Berrini, é articulista colaborador de jornais e realiza palestras sobre temas ligados à qualidade de vida.