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Estado, economia e a Covid-19

Gilvano Kunzler (*) | 21/05/2020 11:10

O mundo atravessa a mais arrasadora crise na saúde que a história contemporânea registrou. A economia das nações está derretendo e milhares de pessoas estão morrendo em decorrência da pandemia provocada pelo CoronaVírus. A situação é muito dramática e nenhum país está livre desse flagelo. Estamos vendo que não basta ter capital e influência política e militar para deter a força do vírus.

As alternativas que estão sendo arquitetadas para debelar a crise passam, necessariamente, por uma nova ordem mundial assentada no tripé: compaixão, solidariedade e profundo respeito a ciência aplicada.

A formação capitalista é muito superior ao feudalíssimo e a outros modos de produção que a humanidade conhece. A indústria moderna gerou empregos e qualidade de vida para uma parte muito importante da população mundial, mas, em função da natureza do capital que persegue o lucro a qualquer preço, as crises econômicas se tornaram recorrentes. O resultado desse novo momento de acumulação de capital é o crescente desemprego e miséria. O operário que só tem força de trabalho para vender está perdendo seus sagrados diretos conquistados com muita luta.

O Estado, que ao longo dos últimos três séculos foi a base para que os países se desenvolvessem e criassem amplas políticas sociais voltadas para preservar empregos e renda da população, infelizmente, perdeu espaço para o neoliberalismo. A saúde, a previdência, a segurança e as ações sociais foram privatizadas. O Estado perdeu muita força e abriu espaço para que quase todas as ações humanas virassem mercadoria. Tudo é dinheiro inclusive a saúde.

Um quadro econômico e social como esse é ideal para que a Covid-19 se espalhe com força e ferocidade. Os agentes econômicos querem continuar fabricando e vendendo seus produtos tentando muitas vezes minimizar os efeitos da pandemia. Basta olharmos a imensa pressão do capital para que os países não estabeleçam o chamado isolamento social, pois, em verdade, ele produz crises e pode matar algumas empresas. O CoronaVírus adora uma situação que não exista forças organizadas para enfrenta-lo.

É isso que estamos vendo no mundo. As nações que têm o mínimo de unidade na diversidade e que o estado lidera o combate a pandemia estão tendo relativo sucesso. Aquelas onde o estado é claudicante, como o Brasil, o prejuízo é imenso. As empresas estão quebrando e pessoas morrendo como gado que vai para o abatedouro.

Quem tem alguma condição financeira e contraiu o vírus pode procurar um hospital particular que oferece melhores condições para tratar a patologia, entretanto, a grande maioria dos que estão sendo infectados são trabalhadores com pouco acesso a saúde de qualidade. Os hospitais do mundo inteiro estão lotados de pessoas demandando cuidados. Só que a grande maioria deles são pessoas vulneráveis economicamente que ficam à mercê de um poder público cada vez mais enfraquecido.

A crise é muito violenta, mas a humanidade é maior do que ela. Outras pandemias foram vencidas. Essa terá o mesmo destino. A ciência vai encontrar um fármaco que combaterá o inimigo, entretanto, estou convencido que o mundo pós pandemia será diferente. A compaixão e a solidariedade podem voltar com muita vitalidade.  Nessa empreitada, claro, o estado deve liderar esse processo de reconstrução da economia e das relações sociais.

(*) Gilvano Kunzler é professor e diretor da ACP - Sindicato Campo-grandense dos Profissionais da Educação Pública.

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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