Gabriel, um menino, um homem!
Chegando para dirigir uma agência de propaganda em Brasília nos anos de 1970, lá encontrei um menino pequeno, magrinho muito esperto e educado que era responsável por fazer café, servir e também para assuntos de rua.
Ficamos amigos de cara. Um detalhe me chamou atenção, tossia muito e isso me fez ir em busca de um médico para tratá-lo. Curado da tosse ele tinha um outro costume, todas as revistas que seriam descartadas ele pedia para levar para casa, e claro, levou todas!
Um belo dia em razão da sua vida simples eu resolvi fazer uma visita a sua casa. Marcamos e para lá fui em sua companhia conhecer onde morava com a mãe e os irmãos. Bem recebido pela sua mãe fiquei impressionado com a simplicidade e dificuldade da família.
O banheiro ficava fora da casa em um espaço pequeno, e sem luz. As revistas que tanto fazia questão de levar eram para tampar as frestas entre as tábuas das paredes da casa principalmente, nos quartos, parecia um mural de cultura.
Esperto e humilde foi galgando posições dentro da agência. Terminou como chefe de mídia. Passa o tempo, eu atuando como diretor no Correio Braziliense porém, ainda sócio da agência, sou indicado pelo superintendente para comandar o Diário da Serra.
Marcado o dia da viagem para Campo Grande e na hora que me dirigia para pegar o carro aparece o Gabriel com uma mala na mão, acompanhado da namorada, da mãe e para meu espanto e de Helena relata: “Eu também quero ir para Campo Grande com vocês, posso”?
Foi uma decisão difícil e imediata, não imaginava! Olhei para a Helena e ela disse, eu gosto dele! Eu, suspeito, peguei sua mala arrumei um espaço no carro e juntos viemos para que ele construísse sua linda história de família e profissional.
No Diário da Serra assumiu a área comercial e com o passar do tempo também uma nova função de corretor de imóveis que renderam a ele inúmeras premiações e cargos importantes.
Já consolidado no mercado encontrou sua amada Marilene formando com seus três filhos a família que tanto tinha orgulho, a família “Serafim da Silva”. Aqui foram 45 anos de permanente convivência.
Harmonia e broncas andavam juntas porém sempre terminando com alegria. Mandava vídeos para ele e suas respostas sempre me faziam rir muito com os seus xingamentos e braveza.
Ele sabia que eu gostava das suas respostas amargas. Acabou! Perdi meu aliado de coração, filho adotivo que eu adorava porém dessa vez não vou perdoa-lo, pegou sua mala, fez sua viagem sozinho e não se despediu de mim.
Mesmo assim Gabriel, viaje em Paz, que Deus o receba de braços aberto. Um dia voltaremos a nos encontrar.
(*) César Quintas Guimarães é advogado e ex-diretor do jornal Diário da Serra (extinto).