Hora da virada
A admissibilidade do pedido de impeachment da Presidente Dilma Rousseff, aprovada ontem pela maioria dos deputados da Câmara Federal, ficará marcada na história do Brasil como o dia em que perdemos a inocência e apostamos no imponderável para ver se conseguimos fazer uma verdadeira virada na direção da construção de uma sociedade amadurecida e democrática.
Os brasileiros sabem quem são os verdadeiros atores desse processo. Vivemos a era da informação, na qual tudo se sabe, tudo se fala, tudo se imagina. A circulação de ideias, fatos, números e opiniões é um fenômeno tão amplo que a ninguém é dado mais o direito de não saber o que se passa no cotidiano político do País.
Quem se dispõe a conversar e ouvir pessoas de todas as camadas sociais, das mais variadas profissões, com os mais diversos graus de escolaridade, fica impressionado com a capacidade da mídia em manter um padrão de informação democratizada, criando oportunidades para que se saiba não somente o que acontece nas esferas dos poderes, como também as impressões sobre os atos das autoridades.
Por essa razão, está cada vez mais difícil governar com slogans e convencer as pessoas de que existe um lado “correto” da história. A grande massa da população não é ingênua, ela sabe quem é Dilma, Lula, Cunha, Temer, Aécio, Renan e tantos outros, mas está aprendendo a ser pragmática na hora de tomar posições.
O processo de impeachment, assim, deu-se dentro da legalidade, com amplo apoio da sociedade, o que se refletiu nos votos dos deputados que disseram “sim”, muitos dos quais contrariando seus interesses pessoais. Assim, pouco a pouco, estamos construindo uma nova realidade.
Muitos estão se perguntando: e agora, o que vai acontecer? O ideal seria que a presidente Dilma faça o pedido de renúncia. Ela demonstraria grandeza nesse momento difícil e complexo da vida nacional. Mais: abrisse espaço para o Governo Temer fazer uma transição equilibrada, sem traumas, encaminhando medidas econômicas em regime de parceria com a nova gestão.
E se Michel Temer decepcionar? E se Eduardo Cunha continuar agindo com espertezas à margem da lei? Qualquer cidadão sabe que por mais polêmico que tenha sido o processo de impedimento, ele representou o fortalecimento de nossas instituições. Ninguém espera que soluções sejam forjadas num simples abracadabra. Todos têm clareza das dificuldades que vivemos e que, para desatar os nós criados nos últimos dez anos, será necessário sabedoria, diálogo e paciência.
O Brasil não deseja retrocessos. Precisamos avançar para superarmos esse momento dramático. Queremos discutir um projeto de transformação, que leve à superação de nossas mazelas sociais e que se fundamente um Estado Democrático de Direito, com lastro de governos e governantes éticos.
Sabemos que a luta para chegarmos até aqui foi difícil. Mas ela não deve ser colocada em termos de vitoriosos contra derrotados. O ressentimento será sempre destrutivo. É hora da Nação dar as mãos e fortalecer a esperança que vive em nossos corações.
(*) Mansour Karmouche é presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional Mato Grosso do Sul.
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